A cada ano que passa, são cada vez mais os cidadãos sem acesso a médico de família – no final do ano passado eram já mais de 1,1 milhões. Além de tornar mais difícil o recurso dos portugueses ao sistema de saúde, a falta de acompanhamento próximo empurra mais doentes para os hospitais e prejudica a prevenção de patologias. Apesar de reconhecer que existem, desde o início da pandemia, “novos canais de comunicação com os utentes”, Rui Nogueira diz que há também “mais atos médicos” que ocupam mais tempo destes profissionais. “Creio que está ainda por criar um plano de simplificação de procedimentos”, sugere o médico de família da Unidade de Saúde Familiar Norton de Matos, em Coimbra.
O volume de trabalho exigido a cada médico é, por isso, cada vez maior, e dificulta o atendimento. “Fica muito difícil trabalhar em centros de saúde quando há falta de médicos, um consequente aumento do número de utentes por médico e, pior ainda, quando há muitos doentes sem médico”, lamenta.
Os números da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), divulgados na sexta-feira e antecipados pelo Expresso na semana passada, sobre a acessibilidade aos cuidados de saúde primários comprovam este cenário. No final de 2021, 11,2% da população não tinha médico de família, valor que já aumentou para 12,2% este ano, de acordo com o Portal do SNS.
“Parece-me que perdemos o controlo de muitos doentes cardiovasculares, atrasámo-nos no rastreio oncológico e piorámos a saúde mental”, aponta o médico de família
A dificuldade no acesso reforça a importância da intervenção comunitária, uma das áreas em que o Programa Gilead Génese atribui, anualmente, bolsas de financiamento. Na 8ª edição da iniciativa, a que a SIC Notícias se associa, serão galardoadas seis candidaturas de cariz comunitário - sobretudo relacionadas com as consequências da covid-19, mas também VIH e hepatites – e seis projetos de investigação. “Este ano focámo-nos mais nos efeitos do long covid [na categoria de intervenção comunitária]”, explica Cláudia Delgado, diretora médica da Gilead. A outra novidade está na investigação, que este ano conta com avanços científicos na área da oncologia e, em particular, no cancro da mama. “É importante para conseguirmos diagnosticar precocemente, mas também prevenir e permitir que possamos atuar a montante”, acrescenta.
Os 12 vencedores das bolsas, selecionados por comissões de avaliação especializadas entre 61 candidaturas, serão conhecidos esta terça-feira, 8, numa cerimónia que terá lugar na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Desde a primeira edição, em 2013, já foram distribuídos mais de €2,2 milhões pelo Programa Gilead Génese.
O evento contará ainda com um debate sobre “Saúde mais próxima”, em que a questão do acesso aos cuidados e a sua relevância para os doentes, em especial aqueles com doença crónica, será um tema central. E é fácil de perceber porquê, sublinha Rui Nogueira. “Tendo em conta a pandemia, parece-me que perdemos o controlo de muitos doentes cardiovasculares, atrasámo-nos no rastreio oncológico e piorámos a saúde mental”, aponta o também representante da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde. Para o médico, não há dúvidas de que é necessário “desenvolver um programa de promoção de literacia” abrangente e, sobretudo, “muito prático”.
milhões era o número de cidadãos em Portugal que, no final de 2021, não tinha médico de saúde atribuído
O que é
A iniciativa, dirigida a projetos científicos e comunitários, regressa para a 8ª edição, numa parceria que junta a SIC Notícias e a Gilead Sciences, para apoiar as melhores ideias com bolsas de até €40 mil nas áreas da hemato-oncologia, VIH, hepatites virais crónicas, síndrome de covid longo e, pela primeira vez, do cancro da mama. Desde a primeira edição, em 2013, já foram atribuídos mais de €2,2 milhões a 101 candidaturas vencedoras.
Quando, onde e a que horas?
A cerimónia acontece esta terça-feira, dia 8, a partir das 17h30, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. O evento será transmitido, em direto, no Facebook da SIC Notícias.
Quem são os oradores em destaque?
- Vítor Papão, diretor-geral da Gilead Sciences;
- Arlindo Oliveira, professor do Instituto Superior Técnico;
- Rui Nogueira, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde;
- Luís Goes Pinheiro, presidente do Conselho de Administração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde;
- Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada;
- António Parreira, diretor clínico da Fundação Champalimaud;
- Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed.
Porque é que este evento é importante?
Numa altura em que as consequências da covid-19 na saúde dos portugueses ainda estão em avaliação e em que mais de 12% da população não tem médico de família, é fundamental delinear estratégias para melhorar o acesso aos cuidados de saúde. Neste contexto, o papel dos projetos de intervenção comunitária ganha nova importância na menorização dos impactos negativos nos doentes, assim como a investigação científica que procura aprofundar conhecimento sobre questões como a síndrome do covid longo.
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