O caminho da inflação, o impacto que está a ter na indústria e nas empresas em geral e a forma como Portugal e a Europa estão a reagir à atual conjuntura foram os temas principais do debate desta quarta-feira à tarde, uma parceria do Expresso com a Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP). No encontro estiveram Vítor Neves, presidente da AIMMAP; Augusto Mateus, consultor da EY; Clara Marques, administradora da Herdmar; João Costa Pinto, economista e vogal da direção da Confederação Empresarial de Portugal (CIP); Leonardo Costa, economista e professor associado da Católica Porto Business School; Miguel Gil Mata, CEO da Sonae Capital e presidente do conselho de administração da Adira e Armindo Monteiro, vice-presidente da CIP. Estas foram as principais conclusões.
1. Uma resposta desajustada
- Os primeiros sinais de inflação na zona Euro começaram em abril de 2021, diz Augusto Mateus, ou seja, ainda durante a pandemia e quase um ano antes dela disparar por causa da guerra na Ucrânia. Mas, nessa altura, pouco ou nada foi feito para a conter. Foi só em julho de 2022, quando atingiu valores próximos dos 9%, que o Banco Central Europeu (BCE) decidiu tomar medidas e subir as taxas de juro que, pela primeira vez em 11 anos, deixaram de estar negativas. Ou seja, a partir deste momento, “temos uma viragem do ciclo económico”, nota o economista.
- Contudo, para João Costa Pinto, esta é uma medida desajustada, por causa do impacto negativo que tem nas empresas. Não só porque já têm os custos operacionais mais elevados por via do aumento do preço da energia e das matérias-primas, mas também porque a actividade das empresas, principalmente das PME portuguesas, já está muito dependente de financiamento e vão passar a pagar mais por essa dívida.
2. Os apoios do Governo
- Augusto Mateus entende que as medidas tomadas pelo Governo pecam por tardias porque, se os dirigentes políticos se tivessem apercebido que havia inflação e tivessem reduzido as despesas logo em 2021, agora não estaria a ser tomada “uma overdose de medidas”, que não estão a ajudar as empresas como elas precisam, acrescenta Clara Marques.
- “O apoio a que somos elegíveis é uma linha de financiamento de €600 milhões, mas isso só nos leva a endividar mais e a juros mais altos e aumenta-nos ainda mais os nossos custos operacionais. E na eletricidade, o mecanismo acordado com Espanha ajudou, mas não há apoios a fundo perdido como no gás”, diz.
- Além disso, para Vitor Neves, o apoio aos sectores com um maior consumo de energia, “talvez tivesse de ser superior, porque o Estado está a arrecadar mais dinheiro com a inflação e, mesmo sendo preciso reduzir a dívida, podia ter sido dado mais apoio a essas empresas”.
3. Medidas de longo prazo
- Para Miguel Gil Mata, as medidas do Governo “nunca seriam suficientes” ou consensuais. Até porque, na sua visão, “o Estado não tem obrigação de acudir às empresas como faz com as famílias”. Ou seja, as empresas também têm de agir e isso vê-se na Herdmar e na Adira, as duas empresas presentes na conferência de ontem. A primeira cresceu 50% em 2021 e vai crescer 15% este ano e a segunda tem estado a conquistar novos mercados, como os EUA, onde fez um contrato com a NASA. “Há coisas que as empresas podem fazer como passar o custo da dívida de taxa variável para taxa fixo ou ajustar as exigências de retorno e alguns dos investimentos previstos, que podem não ser tão atractivos nesta altura”, diz Miguel Gil Mata.
- Para o empresário, o Governo tem é de criar medidas que impulsionem a produtividade das empresas. E nisso, todos os oradores concordam, ou seja, que mais do que medidas de curto prazo, deviam ser tomadas medidas estruturais e de longo prazo, como apostar na formação das chefias das PME para melhor os níveis de gestão; como criar condições para atrair mais investimento e reter os trabalhadores mais qualificados; ou como reduzir os impostos pagos pelas empresas por cada salário que pagam, sugerem Leonardo Costa e Armindo Monteiro.
4. Inflação vai continuar a subir
- Para Augusto Mateus a inflação não se contém “só subindo as taxas de juro”, o que aliás já se viu, porque, desdcone julho que o BCE continua a subi-las e esta escalada de preços ainda não acabou. Agora nota-se na energia, nas matérias-primas, em alguns produtos nos supermercados e nos resturantes, mas “vamos chegar ao fim do ano com todos os preços a subir”, conclui.
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