Chegamos muito longe no planeamento familiar e no acesso à contraceção, mas agora é altura de perceber como podemos chegar ainda mais longe e afinar o que já fazemos bem. A mensagem foi consensual ao longo da conferência “O Planeamento Familiar em Portugal no séc. XXI”, organizada por Expresso e Organon, e que decorreu hoje, 26 de setembro, na sede da Impresa.
“Ter um médico de família não é um capricho, é uma necessidade. Tem que haver um reforço nas zonas mais carenciadas”, atirou Vera Pires da Silva, do Grupo de Estudos Saúde da Mulher da APMGF, durante a discussão. Mais de um milhão de portugueses não têm um médico de família atribuído o que representa um dos principais desafios no acesso.
Contudo, a gratuidade e universalidade na disponibilização de métodos de contraceção de curta ou de longa duração, como as pílulas ou os dispositivos intrauterinos, respetivamente, merecem elogios, assim como a legislação, e colocam Portugal no topo europeu neste campo. Agora falta limar arestas, como por exemplo tornar mais eficaz a educação sexual. Sem esquecer que, apesar do sucesso, temos um “sistema que foi desenhado para aquela que já não é a população atual”, afirma Teresa Rodrigues, assistente Hospitalar de Ginecologia - Obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário de S. João.
Além dos intervenientes já mencionados, a conferência foi moderada por Rita Neves e contou com a presença de Teresa Bombas, do Comité Executivo da Sociedade Europeia de Contraceção; João Rodrigues, ex-coordenador do Grupo para Reforma dos Cuidados de Saúde Primários/ Assistente Graduado Sénior de MGF; Fátima Palma, presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção; e Lina Lopes, do European Parliamentary Forum for Sexual and Reproductive Rights.
Leia a lista das principais conclusões que saíram dos painéis de discussão.
Consultas para todos
- “Entre janeiro a junho deste ano, mais de 4 milhões de mulheres (70%) já tiveram consulta do planeamento familiar”, revelou Vera Pires da Silva.
- Esse valor significa que a “retoma pós-pandemia já está a ocorrer” mas não da forma ideal, como resultado dos constrangimentos e falta de pessoal que se verificam no SNS.
- “Não se criam nem médicos nem enfermeiros de um momento para o outro. Precisamos de tempo para formar novos profissionais”, resume Fátima Palma.
- Lembra Vera Pires da Silva que “o sistema de saúde funciona com os cuidados primários como porta de entrada. Se não houver médicos de família, há risco de acesso”.
Contraceção acessível
- O acesso à contraceção é gratuito ou comparticipado pelo Estado, mas nem todas as mulheres sabem como podem beneficiar desse acesso e qual o método que mais as pode beneficiar.
- "A grande maioria das mulheres pode optar pelo método que va mais de encontro às suas preferências. Temos que ouvir e compreender", defende Teresa Rodrigues.
- Segundo Teresa Bombas “temos condições para crescer e evoluir bem como qualquer país moderno tem obrigação de fazer”, e garantir um planeamento familiar saudável num país em que, em média, cada mulher tem 1,4 filhos (ligeiramente abaixo da média europeia de 1,5), valor que dificulta a renovação geracional.
Mudanças políticas
- As mudanças na equipa do ministério da Saúde podem significar mudanças necessárias e a esperança é que represente um novo ímpeto num sector que está a precisar.
- “Vamos iniciar em breve um novo ciclo político que espere que dê respostas”, pede João Rodrigues.
- Entre os objetivos deve estar a criação de melhores condições, porque “desde a criação do SNS que temos uma legislação adequada”.
Educação sexual
- O acesso à contraceção também implica mais informação e a educação sexual nas escolas pode providenciar as mulheres com princípios que as deixe mais à vontavéis e, sobretudo, mais informadas sobre a sexualidade os métodos contracetivos disponíveis.
- “Temos que falar da sexualidade e do que aí advém. É algo que ”começa desde que nascemos", explica Fátima Palma.
- Por isso importa perceber que os “professores de outras áreas por vezes não são os mais habilitados” e que importa “estabelecer acordos nas escolas com formadores” especializados no tópico.
Combater desinformação
- Há muitos mitos à volta da contraceção, com a pílula a estar cada vez mais sob os holofotes por causa de possíveis efeitos secundários maiores que os desejáveis.
- Fátima Palma não tem dúvidas: “Existe muita desinformação”.
- Para a combater, importa, por exemplo, desenvolver um “trabalho multidisplinar para chegar às minorias”, garante Fátima Palma.
- Por outro lado, pode ser importante os organismos públicos apostarem numa divulgação forte “nas redes sociais como o Instagram ou o Tik Tok”, sugere Vera Pires da Silva.
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