Biotecnologia é “oportunidade dourada” para desenvolvimento do país
António Costa Silva defendeu a importância de "regulação estratégica a longo-prazo" como condição fundamental para o crescimento das empresas e do sector da biotecnologia
José Fernandes
António Costa Silva, ministro da Economia, marcou presença esta segunda-feira no Biomeet 2022 para defender que as empresas precisam de regulação estável e de apoio ao investimento para crescerem. Conheça as conclusões do primeiro dia do encontro anual, organizado pela associação P-Bio e a que o Expresso se associou
Francisco de Almeida Fernandes
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Na Semana da Biotecnologia, o município de Oeiras recebeu o encontro anual Biomeet 2022, que junta empresas portuguesas do sector e especialistas internacionais para debater as oportunidades e desafios nesta área. O ponto alto deste primeiro dia do evento foi a assinatura, por líderes de 14 empresas, do Pacto Social da Biotecnologia que orienta a atuação neste mercado através de três pilares essenciais: garantir o acesso da inovação, agir de forma responsável e comprometida com os doentes, e contribuir para uma indústria europeia reforçada através do investimento. “Temos recursos humanos e talento. Temos os factores essenciais [para fazer vingar o sector em Portugal]”, afirmou Filipe Assoreira, chairman da associação P-Bio.
O presidente da associação que representa o sector nacional da biotecnologia, Simão Soares, acredita que o país reúne todas as condições para ser “um hub de desenvolvimento com base em recursos e talento nacional” com presença nos “mercados globais”. Para isso, porém, será necessário que o Estado reduza a burocracia, defina legislação adequada e que apoie a atração de investimento, seja ele público ou privado.
Simão Soares (à direita, de frente para a câmara), presidente da P-Bio, diz que Portugal tem condições para se tornar "um hub de desenvolvimento" com presença nos mercados internacionais
José Fernandes
António Costa Silva, ministro da Economia, participou na Semana da Biotecnologia para sublinhar o apoio do Governo ao desenvolvimento deste sector em que as empresas portuguesas se podem afirmar. “O nosso país tem uma oportunidade dourada para desenvolver o filão do conhecimento”, afiançou. O decisor considerou ainda que o país deve “desenvolver uma política industrial para a saúde” e reconheceu a necessidade de o Estado criar uma “regulação estratégica a longo prazo”. Sobre a importância da atração de investimento numa área de capital intensivo, Costa Silva admite que é preciso “dar toda a atenção à questão do financiamento”, nomeadamente através da inclusão das empresas em redes internacionais onde estão os investidores privados. Para lá disso, garante, “só precisamos de políticas públicas sábias” que apoiem o crescimento da biotecnologia em território nacional.
Neste primeiro dia do Biomeet 2022, o Expresso moderou uma mesa-redonda com representantes do sector para discutir os desafios que atrasam a evolução da atividade. Participaram Daniela Couto, partner da BioGeneration Ventures, Henrique Veiga Fernandes, investigador da Fundação Champalimaud, e Paulo Barradas, CEO do grupo Bluepharma.
O debate contou com a participação (da esquerda para a direita) de Paulo Barradas (Bluepharma), Henrique Veiga Fernandes (Fundação Champalimaud) e, remotamente, Daniela Couto (BioGeneration Ventures)
José Fernandes
Conheça as principais conclusões:
Reunir os melhores para competir
Além de exigir investimentos avultados e prolongados no tempo, a biotecnologia depende, sobretudo, de recursos humanos altamente qualificados. Em Portugal, o sector tem mais de 80% dos seus quadros com bacharelato ou superior, mas ainda assim faltam trabalhadores para alimentar a onda de inovação. “É preciso trazer esse capital humano para as empresas”, diz Paulo Barradas.
Veiga Fernandes acrescenta que, além do talento, é fundamental garantir que existe uma “rede de empresas dinâmicas e prontas para assumir riscos”, já que esta é uma área em que as certezas são escassas e a aposta financeira deve ser feita “a médio, longo prazo”. Só isso, em conjunto com ecossistemas “competitivos e multidisciplinares, permitirá acelerar a translação da descoberta científica para a economia e para a sociedade.
Especialista em fundos de investimento, Daniela Couto, que vive e trabalha nos Países Baixos, pede mais “previsibilidade” para o investimento e, sobretudo, uma “estratégia [nacional] a longo-prazo” que pode colocar o país “na crista da onda”. Mais do que compromissos assumidos por partidos políticos, considera que ser essencial um consenso alargado.
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