O progresso não se alcança sem uma aposta forte na formação e qualificação da população. Ao longo das últimas três décadas, Portugal ganhou um elevado número de estudantes do Ensino Superior, passando de mais de 186 mil alunos inscritos, em 1991, para quase 412 mil em 2021. As gerações mais jovens são hoje as mais qualificadas de sempre e aproximam-se, a passos largos, da média europeia. Porém, o contexto de mudança acelerada nas empresas e na sociedade obrigam as instituições de ensino a tornarem-se mais flexíveis e abertas à colaboração.
Debater “Os desafios do Ensino Superior” é o tema da conferência organizada pela Universidade de Coimbra, a que o Expresso se associa, na próxima segunda-feira. Mais de sete séculos depois da sua fundação, a instituição convoca professores, alunos e decisores políticos a discutir o presente e o futuro da academia, numa iniciativa integrada no programa de celebrações dos 250 anos desde as Reformas Pombalinas.
O antigo ministro da Educação e atual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme d’Oliveira Martins, não tem dúvidas sobre os “progressos significativos” do país na diminuição do insucesso escolar, na melhoria das qualificações da população e “nas comparações internacionais”. Contudo, alerta, é preciso continuar a trabalhar para garantir um sistema “que privilegie a qualidade da aprendizagem no serviço público de educação, não exclusivamente estatal”, mas que favoreça, também, “a equidade e contrarie as desigualdades”.
“A Educação é uma tarefa a exigir aperfeiçoamento constante”, afirma Guilherme d'Oliveira Martins
A par do rigor nos conhecimentos científicos, Guilherme d’Oliveira Martins defende “melhor diálogo interdisciplinar” na formação académica, de modo a potenciar “o desenvolvimento da sociedade e dos cidadãos”. Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra, acredita na importância do papel das “artes e formação cultural” no currículo académico dos estudantes e confirma que a instituição está a “trabalhar em planos que visam estimular diretamente o desenvolvimento de competências relacionais” por esta via.
As competências relacionais e a capacidade de aprendizagem ao longo da vida estão, aliás, entre os fatores cada vez mais valorizados pelos empregadores. Se há algumas décadas, o diploma universitário era sinónimo de emprego certo e bem remunerado, hoje a realidade não é necessariamente assim. “A formação é muito mais um processo contínuo do que uma simples etapa inicial”, aponta. O professor catedrático diz ainda que, para que a academia se mantenha como motor do progresso, é indispensável que as universidades sejam “permeáveis aos estímulos” da sociedade, mas que estabeleçam, também, “pontes constantes” com o exterior para potenciar inovação e especialização. “Qualificação e inovação serão duas áreas-chave para o desenvolvimento societal e as universidades devem aqui desempenhar um papel fundamental”, sublinha.
Dois séculos e meio após as Reformas Pombalinas que empurraram a Universidade de Coimbra para o mesmo patamar “que era a elite europeia do ensino superior”, é tempo agora de refletir sobre os desafios do ensino num contexto marcado pelas consequências da pandemia e da guerra na economia.
foi o número de estudantes do ensino superior inscritos no ano letivo 2020/2021, de acordo com dados da DGEEC. São mais 15 mil do que no período homólogo.
Criar para Renovar: os desafios do Ensino Superior
O que é?
O debate sobre os desafios do ensino superior integra o programa de comemorações dos 250 anos das Reformas Pombalinas, organizado pela Universidade de Coimbra. O Expresso junta-se à instituição para abordar a importância do ensino universitário, da ciência e da academia em Portugal, com a realização da conferência “Criar para Renovar: os desafios do Ensino Superior”.
Quando, onde e a que horas?
A conferência decorre na próxima segunda-feira, 12, no Colégio da Trindade, Universidade de Coimbra, a partir das 11h.
Quem são os oradores em destaque?
- Amílcar Falcão, Reitor da Universidade de Coimbra;
- Ana Cristina Araújo, Historiadora da Universidade de Coimbra;
- João Caseiro, Presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra;
- Guilherme d’Oliveira Martins, Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian;
- Maria de Lurdes Rodrigues, Reitora do ISCTE;
- Pedro Teixeira, Secretário de Estado do Ensino Superior.
Como posso assistir?
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Porque é que este tema é importante?
Nas universidades e nos politécnicos estão hoje a formar-se milhares de estudantes, ainda que muitas das profissões que existirão daqui a dez anos ainda não sejam conhecidas. Preparar os alunos com rigor científico é fundamental, mas as chamadas soft skills assumem, cada vez mais, uma crescente importância nos currículos académicos. As instituições de ensino superior precisam, por isso, de ser mais ágeis e flexíveis nos seus programas formativos, numa altura em que o contexto socioeconómico, marcado pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, pode trazer novos desafios à educação. Encontrar caminhos e soluções será o foco do debate moderado pela jornalista da SIC Notícias, Ana Peneda Moreira, na próxima segunda-feira.
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