19 outubro 2021 15:12




Apresentado esta manhã, um novo estudo sobre o custo e a carga da doença em Portugal mostra um impacto de €1,2 mil milhões em despesas de saúde. Alterar o rumo desta patologia, diminuindo a prevalência e aumentando o acesso ao tratamento são prioridades a adotar, alertam os peritos. Estas são algumas das conclusões do debate “Por uma resposta holística e equitativa à obesidade”, promovido esta manhã pelo movimento Recalibrar a Balança com apoio do Expresso
19 outubro 2021 15:12
Apesar de ser reconhecida como doença crónica em Portugal desde 2004, a obesidade continua a registar uma prevalência crescente entre a população portuguesa. “Cerca de 53% da população adulta tem excesso de peso e 1,5 milhões de portugueses são obesos”, contextualiza o secretário de Estado e Adjunto da Saúde, António Lacerda Sales. Para o governante, porém, a estratégia nacional “não necessita de ser reorientada, necessita de ser reforçada”, ainda que os participantes no debate “Por uma resposta holística e equitativa à obesidade”, realizado esta manhã, discordem em absoluto. “As medidas de prevenção primárias já vêm tarde”, considera a endocrinologista Paula Freitas.
Os dados divulgados no evento, organizado pelo movimento Recalibrar a Balança com apoio do Expresso, mostram que o custo das consequências da doença para o país é, de facto, elevado. “A obesidade só por si representa aproximadamente €13 milhões”, revelou Margarida Borges, referindo-se ao tratamento. A responsável pelo estudo sobre o custo e a carga da doença acrescenta ainda que, se for considerado o impacto da obesidade noutras doenças, o custo sobe para €1,2 mil milhões. Para uma melhor perspetiva do significado prático deste número, o montante equivale a cerca 6% do total de despesas anuais em saúde. “É um valor muito expressivo e que nos dá ideia da magnitude desta verdadeira epidemia”, afirma a também docente convidada da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
No entanto, realça, os valores apresentados por este estudo não consideram o impacto económico da doença no absentismo, na perda de produtividade e na diminuição do contributo destes doentes para a economia nacional. “No ano do estudo foram perdidos em Portugal cerca de 200 mil anos de vida, o que é uma barbaridade”, considera a especialista. A ação do poder político, da comunidade médica e até da sociedade é, por isso, urgente para mudar o paradigma. Como? As sugestões são muitas, desde a prevenção ao tratamento, passando pela melhoria das desigualdades no acesso à alimentação saudável e aos cuidados de saúde.
Conheça as principais conclusões:
Desafios a superar
- Para António Lacerda Sales, que participou no evento através de videochamada, uma das prioridades no combate à doença “deve ser, de facto, a reorganização dos serviços de saúde para o tratamento da obesidade”. Em particular, o reforço dos recursos humanos nos cuidados de saúde primários e a criação de equipas multidisciplinares com médicos, nutricionistas e psicólogos, defende.
- Carlos Oliveira, presidente da Associação de Doentes Obesos e Ex-obesos de Portugal (ADEXO), concorda com a urgência na criação de cuidados especializados nos centros de saúde, mas pede também que o Governo avance com a comparticipação da medicação para o tratamento da obesidade. “Se há um tratamento totalmente comparticipado para as pessoas que têm indicação para a cirurgia, por equidade para todos os portugueses os outros que não tem indicação para cirurgia têm também de ter apoio”, apela.
- A aposta na formação para este tema junto dos profissionais de saúde é, igualmente, uma prioridade para a endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Paula Freitas. “As pessoas não estão capacitadas para abordar um problema que é tão complexo e que é uma doença crónica”, sublinha.
Ação política precisa-se
- O deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, recorda que o próprio é um ex-obeso e que vive hoje com excesso de peso, reconhecendo a importância de garantir uma atuação coordenada e eficaz. “Se reduzíssemos a obesidade, teríamos um impacto nas doenças cardiovasculares, nas neoplasias, nas doenças metabólicas, além de todos os efeitos na saúde mental”, analisa. Os dados divulgados pelas associações de doentes mostram precisamente o forte impacto da obesidade no surgimento ou agravamento de outras patologias, estando associada a mais de 200 comorbilidades e 13 tipos de cancro.
- Com um ponto de vista mais abrangente, a partir de Bruxelas, a eurodeputada do OS, Sara Cerdas, formada em saúde pública, diz que o objetivo é caminhar para “uma verdadeira União Europeia da saúde”, nomeadamente através da melhoria do acesso dos doentes aos medicamentos e aos cuidados de saúde. A estratégia comunitária “Do Prado ao Prato”, que deverá ser aprovada no parlamento europeu esta semana, pretende “fazer a diferença” na acessibilidade de alimentos saudáveis e seguros a todos os europeus, diz.
- “Portugal tem toda a capacidade para essa transformação” do impacto da obesidade, considera Baptista Leite, que deixou a promessa de, após o fim da discussão do Orçamento do Estado na Assembleia da República, contribuir com propostas políticas nesta área da saúde.