A avaliação das consequências da gripe nas doenças cardiovasculares foi o principal objetivo do estudo BARI – Burden of Acute Respiratory Infections, que colocou em análise detalhada os dados relativos a dez estações gripais entre 2008 e 2018. O cardiologista Carlos Rabaçal, um dos responsáveis pela pesquisa, explica ao Expresso que “neste estudo português, verificou-se que no pico da estação gripal, em dezembro e janeiro, existe um aumento dos enfartes do miocárdio” na ordem dos 20%. A relação entre a doença respiratória e o sistema cardiovascular, diz, já é conhecida desde meados do século XX, mas as novas conclusões permitiram perceber que tipo de doentes estão mais expostos e o nível de risco que correm.
À semelhança do que se verifica com a gripe ou com a covid-19, os grupos mais afetados pela sobreposição de maleitas são os idosos, “indivíduos com diabetes, problemas renais e também aqueles que já tinham uma qualquer doença cardiovascular prévia”. No caso dos mais velhos, 20% dos que estavam engripados tiveram, simultaneamente, um enfarte do miocárdio, com a média de idades a situar-se nos 72 anos. Adicionalmente, é também este grupo que desenvolve mais complicações, observando-se internamentos hospitalares de maior duração, problemas acrescidos durante esse período e, até, maior taxa de letalidade. “Isto não avaliámos neste estudo, mas sabemos através de investigações já realizadas”, esclarece o responsável de cardiologia do Hospital de Vila Franca de Xira.
Isabel Saraiva, presidente da RESPIRA, diz que em Portugal “existem cerca de dois milhões e picos de pessoas com 65 ou mais anos” e aproximadamente 800 mil portugueses com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), que integram os grupos de risco mencionados pelo estudo BARI. É também por essa razão que tanto a responsável associativa como Carlos Rabaçal sublinham a importância de aderir à campanha anual de vacinação contra a gripe. “A partir dos 65 anos, a gripe pode ser mais preocupante porque pode gerar pneumonias que agravam as condições crónicas prévias e, no limite, ser fatal”, afirma Isabel Saraiva.
Embora a estação gripal de 2020/2021, que dura entre outubro e maio, ainda não tenha terminado, os especialistas concordam que a doença não é, ao contrário do habitual, um problema. A utilização de máscaras, o distanciamento social e as medidas de etiqueta respiratória têm contribuído para a quase inexistência de síndrome gripal em Portugal. Contudo, é importante perceber quais as consequências deste cenário e continuar a sensibilizar a população para a prevenção desta e outras infeções respiratórias.
Nesse sentido, o Expresso promove, em parceria com a Sanofi Pasteur, a segunda edição do Flu Summit Portugal sobre o tema «Gripe: Prevenção e Longevidade», agendado para dia 25 de fevereiro, a partir das 10h, com transmissão em direto no Facebook do semanário. O evento contará com a participação de especialistas como Carlos Rabaçal e Carlos Robalo Cordeiro (European Respiratory Society), que apresentarão os resultados do estudo BARI, bem como do pneumologista Filipe Froes, da socióloga Ana Sepúlveda (40+ LAB) e Amós García Rojas, presidente da Associação Espanhola de Vacinação. No final, os participantes vão discutir o tema “Os Pais, os Avós e a Gripe”, num debate com moderação da jornalista da SIC Notícias Patrícia Carvalho.
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