Projetos Expresso

Galp e Mota em destaque no ano de todas as dificuldades

Carlos Gomes da Silva e António Manuel da Mota destacaram os desafios que enfrentaram ao longo de um ano atípico
Carlos Gomes da Silva e António Manuel da Mota destacaram os desafios que enfrentaram ao longo de um ano atípico
José Fernandes e Rui Duarte Silva

Projetos Expresso. Vencedores. Os desafios de 2020 colocaram a economia sob uma pressão inédita, mas estes empresários e estas empresas continuam a dar sinais de competitividade que podem ajudar na recuperação

Galp e Mota em destaque no ano de todas as dificuldades

Tiago Oliveira

Jornalista

Ninguém se lembra de um ano assim. A pandemia provocou mudanças repentinas em toda a sociedade e no tecido empresarial, com um rombo económico como não se via desde a Grande Depressão. De acordo com as previsões mais recentes da OCDE, o PIB português vai sofrer uma contração de 8,4% na sequência da covid-19, o que ainda assim representa uma melhoria face aos 9,4% projetados em junho. A nível europeu, perderam-se mais de 4 milhões de empregos até setembro, segundo o Eurostat, e as perspetivas são de uma recuperação longa e, em muitos casos, incerta. O que não quer dizer que 2020 não tenha sido cenário de destaques positivos.

É o caso de António Manuel da Mota e da Galp Energia (na figura do seu CEO, Carlos Gomes da Silva), que ganharam, respetivamente, o Prémio Empresário do Ano e o Prémio Conquista Empresarial do Ano da terceira edição dos Prémios Expresso Economia Caixa Geral de Depósitos (cuja lista completa pode conhecer na coluna ao lado). Para o presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil trata-se de uma distinção “extensível a muita gente por esse mundo fora” e que é ainda motivo de maior satisfação por surgir num “contexto atípico e difícil” e que “ensinou muita coisa”.

Apesar das dificuldades, António Mota admite que “Portugal foi dos países onde o sector da construção foi dos menos afetados”, o que contribuiu para que a atividade nunca parasse, apesar dos cuidados redobrados. “O mais importante de tudo foi salvaguardar a saúde de todos”, garante, com a certeza de que a “decisão de preservar os postos de trabalho não foi a mais difícil, foi a mais fácil”. Presente em mais de 30 países, a construtora prepara-se para acabar o ano com a “maior carteira de encomendas de sempre”, afiança António Mota, das quais fazem parte o contrato de €240 milhões para construção e operação de uma autoestrada no México (anunciado esta semana) e três obras em África no valor de €170 milhões.

O empresário aproveita para defender que a Europa deve “olhar para África com olhos de ver” e manifesta o desejo de o mundo estar “mais preparado para diminuir as desigualdades e apostar no desenvolvimento de várias regiões”. Aliás, “Portugal tem tudo a ganhar” com esta aposta. António Mota realça também a reindustrialização como forma de a Europa começar a “recuperar a sua capacidade produtiva” e criar mais emprego. “Esperamos que haja condições para crescer e recuperar”, diz, sem esquecer o papel que as tecnologias de informação passaram a desempenhar e a mudança de paradigma que podem significar para toda a economia global. “A internacionalização não é só exportações. É fundamental perceber isso.”

Carlos Gomes da Silva é CEO da Galp Energia desde 2015 e foi em 2020, em plena pandemia, que a empresa se tornou o maior operador solar da Península Ibérica. O acordo feito com o grupo espanhol ACS configura a primeira grande aquisição da empresa na área das energias renováveis e prevê a compra de projetos de produção de energia fotovoltaica no valor de €450 milhões. É um “caminho mais ligado à sustentabilidade que fomos fazendo organicamente”, revela o gestor. Para a próxima década, a empresa tinha estabelecido chegar aos 10 gigawatts nas renováveis e, atualmente, já conta com 3,6 gigawatts instalados e mais um gigawatt em produção. Ou seja, “dependendo da capacidade” da Galp Energia, “esta meta será revista” em alta.

Manter o norte

Apesar da empresa ter perdido €45 milhões nos primeiros nove meses do ano, segundo um relatório enviado à CMVM, a Bloomberg prevê um resultado líquido de €22,7 milhões no terceiro trimestre deste ano [nota: dados mais recentes comunicados à CMVM apontam para um resultado líquido negativo de €23 milhões no terceiro trimestre], o que, apesar de ser inferior ao registado no período homólogo do ano passado, dá sinais de uma recuperação que já se sente, após um período difícil de adaptação. “Tentamos manter a integridade da empresa” e não perder “o norte da nossa estratégia”, que passa cada vez mais por uma aposta em fontes de energias alternativas que apontem para uma descarbonização progressiva, explica Carlos Gomes da Silva.

“Críamos há menos de dois anos uma nova unidade de renováveis e novos negócios, que junta cerca de 130 pessoas”, conta, até porque é claro que o aumento populacional que se espera para os próximos 20 anos implica “um modelo energético diferente do que foi feito até aqui”. Por isso, a Galp Energia apostou em soluções como a Energia Independente, empresa do grupo que quer impulsionar o mercado de autoconsumo solar com recurso a uma “ferramenta de inteligência artificial com georreferenciação”, ou a Flow, que aposta na mobilidade elétrica urbana e na partilha de veículos.

Carlos Gomes da Silva não tem dúvidas de que “o hidrogénio é incontornável na descarbonização da indústria” e fala dos “sistemas de armazenamento” como o grande desafio do sector, por permitirem lidar com a “intermitência” no fornecimento das renováveis. Para o gestor, “o mundo da energia é hoje um mundo absolutamente fantástico. As soluções que temos pela frente são muito desafiantes” e o seu desenvolvimento e integração deve ser conduzido de uma “forma que seja socialmente justa, economicamente sustentável e tecnologicamente diversa”.

Antes é preciso recuperar economicamente, e Carlos Gomes da Silva acredita que Portugal tem o “capital humano” necessário, até porque se trata “do melhor que existe no mundo, baseado num ecossistema científico altamente competitivo”. Se é certo que “o primeiro semestre de 2021 ainda vai ser difícil”, a aplicação eficiente da vacina conjugada com a “modernização do nosso sistema empresarial” pode trazer dividendos. “Temos de preparar as empresas na esperança de que as coisas vão melhorar”, atira António Mota.

Prémios Expresso Economia Caixa Geral de Depósitos

Prémio Empresário do Ano

António Manuel da Mota, CEO da Mota-Engil

Prémio Conquista Empresarial do Ano

Galp Energia

Prémio Crescimento

Volume de negócios até €50 milhões
Critical Software, S.A.

Volume de negócios entre €50 milhões e €100 milhões
Altranportugal, S.A.

Volume de negócios superior a €100 milhões
Volkswagen Autoeuropa, Lda.

Prémio Exportações

Volume de negócios até €50 milhões
Fermir — Confecções Fernandes & Miranda, Lda.

Volume de negócios entre €50 milhões e €100 milhões
LASO Transportes, S.A.

Prémio Emprego

Teleperformance Portugal, S.A.

Prémio subida de Escalão

CNCB — Companhia Nacional Comércio Bacalhau, S.A.

O melhor das empresas portuguesas

Pelo terceiro ano consecutivo, os Prémios Expresso Economia Caixa Geral de Depósitos reconhecem as empresas que mais contribuíram para a resiliência do país, o empresário do ano e os negócios e sectores mais exportadores. Os nomes escolhidos destacam-se pelo que fizeram e contribuíram para a economia portuguesa ao longo de um ano marcado pela covid-19 e pela pandemia global que a doença provocou, com grande impacto no tecido social e económico. Os prémios serão acompanhados nas páginas do Expresso, assim como nas diversas plataformas do Grupo Impresa, para que conheça o trabalho desenvolvido pelos escolhidos. Aproveite também para marcar na agenda a transmissão em direto no Facebook do Expresso, SIC Notícias e Caixa Geral de Depósitos, na próxima terça-feira [amanhã], 15 de dezembro, às 16h30, de um debate dedicado aos desafios das PME.

Textos originalmente publicados no Expresso de 11 de dezembro de 2020

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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