Energia de Portugal 2014

Alguns mitos da gestão financeira

26 julho 2013 13:19

Maria Martins

Tirar dinheiro da caixa ao final do dia pode deixar a empresa em maus lençóis

flickr

Se é a primeira vez que se aventura no mundo dos negócios não se deixe apanhar por algumas ideias feitas, que estão longe de corresponder à realidade. Um especialista revela-lhe algumas verdades que deve saber quanto antes. 

26 julho 2013 13:19

Maria Martins

"Quem diz que planeamento financeiro é perda de tempo, não sabe sequer o que isso é, nem sabem como se faz", diz Gonçalo Vasconcelos, managing partner da Best Ability, que sabe bem do que fala. Formado em Contabilidade e Economia, fez uma carreira como diretor financeiro de várias empresas, antes de criar a própria startup no início deste ano. Usando a sua experiência e a do sócio Francisco Oliveira e Sousa trouxe para o mercado o conceito de Chief Financer Officer em outsourcing. "Pomos à disposição dos nossos clientes, em outsourcing, um nível de profissionalismo que só as multinacionais têm capacidade de contratar", explica Gonçalo Vasconcelos, que é também Técnico Oficial de Contas (TOC). Foi com ele que esclarecemos alguns mitos da gestão financeira das empresas.  

Vender mais significa sempre mais lucro

Era bom que assim fosse, mas a realidade pode ser outra. Vender mais significa sempre mais faturação, mas nem sempre mais lucro, porque pode estar a vender abaixo do preço de custo. "É preciso fazer bem as contas a todos os custos implícitos", diz Gonçalo Vasconcelos, alertando que muitas vezes o empreendedor esquece-se, por exemplo, de contabilizar os custos de armazenagem e de transporte para fazer chegar o produto ao cliente. Num portfólio grande podem existir alguns "produtos assassinos", escondidos, que a cada venda realizada fazem perder imenso dinheiro. É preciso saber exatamente qual o custo do produto para não correr este risco.

É indiferente usar a conta bancária da empresa ou a conta pessoal

"Uma empresa é uma entidade com personalidade jurídica, por isso não distinguir entre a conta da empresa e a do sócio, é o mesmo que não fazer distinção entre a sua conta bancária e as dos seus colaboradores", exemplifica o TOC. O dinheiro pertence à sociedade, por isso tirar dinheiro da conta da empresa é como tirá-lo a outra pessoa. Só se deve usar a conta da sociedade para despesas associadas à empresa e não para pagamento de despesas pessoais. Até porque depois corre o risco "de ter lucros no balanço, mas não ter dinheiro na conta".

Os sócios podem tirar dinheiro de caixa quando precisam

Este é um problema que acontece com muita frequência. Ao fim do dia tira-se uma parte do dinheiro para fazer face a despesas pessoais e não se repõe o dinheiro mais tarde. Rapidamente 50 euros por dia se transformam em 10 mil euros e a empresa pode entrar em sérias dificuldades por causa deste gesto tão simples. "A parte mais importante de um negócio é o controlo do dinheiro". Estando isto assegurado, tendo todos os movimentos associados ao dinheiro devidamente registados e a questão fiscal regularizada, terá a empresa sob controlo.

Os custos com almoços e viaturas escapam aos impostos

Estes custos são tratados como despesas em que a empresa incorre, "mas no final do ano, os montantes gastos nestas rubricas, bem como com ajudas de custo, ficam sujeitos a uma contribuição autónoma de IRC que pode chegar aos 20%, mesmo que a empresa não tenha lucro". Deve controlar os seus gastos nestas áreas (leasings, rentings, portagens, reparações, combustível, quilómetros, almoços, ajudas de custo), porque o imposto vai incidir quer nas despesas feitas pelos sócios, quer nos montantes pagos aos colaboradores para este efeito. E tenha em conta que atualmente as Finanças já procuram investigar a quem foram pagas este tipo de despesas e se perceber que o montante é igual todos os meses, passa a considerá-las como parte integrante do salário. E nesses casos, a empresa paga o IRC, mas o empregado terá de pagar Segurança Social e IRS referente aqueles montantes, além de uma multa.

O planeamento financeiro é perda de tempo

"Quem diz isso, não sabe sequer o que isso é, nem sabem como se faz", diz taxativamente Gonçalo Vasconcelos. O planeamento financeiro é a sistematização daquilo que os sócios prevêem que será a atividade da empresa durante um período - pode basear-se no histórico da empresa ou, quando este ainda não existe, em estimativas. Ele permite perceber se a empresa vai ter lucro ou prejuízo no futuro, mas acima de tudo antecipar alturas críticas em que poderá não haver dinheiro para cobrir todos os custos com salários e impostos, por exemplo. Geralmente, o mês de Agosto é um período crítico, porque pagou-se o subsidio de férias em julho e é difícil cobrar faturas nesta altura do ano. Com planeamento consegue detetar essa situação a meses de distância, a tempo de ir ao banco tentar negociar a melhor forma de fazer face a esse período, se for caso disso. Se esperar que "a bomba lhe estoure nas mãos", para ir pedir ajuda, vai ficar numa situação muito fragilizada.

A falta de lucro é o fim do negócio

Não necessariamente. Há períodos em que as empresas não conseguem ter lucros na sua atividade, de tal forma que está previsto por lei que possam ter prejuízos durante alguns exercícios. A falta de lucro pode ser o fim do negócio se a empresa não tiver reservas para ultrapassar um período negativo. Mas com um planeamento adequado, esse risco à partida não existe. "E se o planeamento financeiro é fundamental numa empresa que já está em atividade, ainda é mais premente numa empresa que está a começar", alerta o managing partner da Best Ability. Por isso é importante fazer contas antes de lançar a sua startup. Para saber se tem capitais para fazer face às necessidades que a empresa vai ter até começar a ter lucro.