20 outubro 2013 16:59
Investimento. A Portucel-Soporcel está a investir em 356 hectares de floresta e numa fábrica de pasta de papel
20 outubro 2013 16:59
Portucel-Soporcel gere hoje 356 hectares onde está a plantar floresta e onde irá erguer uma fábrica de pasta de papel até 2022. Pedro Moura, administrador do grupo em Moçambique, revela o megaprojeto que vai criar 8000 empregos: "As duas áreas foram concessionados pelo Estado moçambicano e ficam nas províncias de Manica e da Zambézia. Cada concessão é de 50 anos e pode ser renovada por mais 50. Portanto, temos terra garantida para 100 anos".
Dos 183 mil hectares que explora em Manica e 173 mil hectares na Zambézia [em Portugal, no total o grupo tem 120 mil hectares concessionados para plantação de eucaliptos], o projeto ocupará "apenas dois terços do território com plantações de eucalipto, ficando um terço para as populações que ali vivem e que manterão a sua atividade agrícola. Esta decisão foi tomada pelo grupo desde o princípio, garantindo deste modo a sustentabilidade do projeto e das relações com a população", explica o gestor.
Banco Mundial interessado
O valor total de investimento andará ao redor dos 2,4 mil milhões de dólares (€1,8 mil milhões) até à execução da fábrica. "Um projeto desta dimensão procura financiamento externo e instituições como o Banco Mundial (BM) estão interessadas. Posso dizer que estão muito avançadas as conversas com o BM através do IFC (braço do organismo para a atividade privada) no sentido de poderem vir a ser parceiros neste projeto. Teremos novidades em breve", revela.
Por um lado, "o país tem mostrado estabilidade das políticas económicas e isso inspira confiança aos investidores", por outro, a terra moçambicana tem uma produtividade elevada, que faz com que as árvores cresçam mais rapidamente do que na Europa, "e vai permitir criar uma unidade bastante competitiva com os melhores projetos a nível internacional", garante o gestor.
Outro fator competitivo moçambicano prende-se com a localização geográfica, pela "facilidade de acesso aos mercados asiáticos que estão em grande crescimento, têm uma enorme falta de produtos florestais e pouca possibilidade de os produzirem internamente, pela ausência de terrenos disponíveis", explica. É por isso que o projeto prevê que 80% da produção se destinem à Ásia, com destaque para a China e Índia. Os restantes 20% serão vendidos na região da África Austral ou na Europa.
30 milhões de plantas por ano
Depois de vencida toda a burocracia, já se iniciaram os ensaios de campo e estão a ser agora construídos os primeiros cinco viveiros para produzir as plantas. "Desses viveiros vão sair 30 milhões de plantas por ano, que darão vida à floresta e, depois, a matéria-prima para a unidade fabril, quando esta existir". O arranque da fábrica está previsto para "2022 ou no início de 2023", revela o mesmo responsável.
Fábrica de dimensão mundial
A unidade industrial será munida de tecnologia de ponta e terá grande capacidade, ao nível das maiores do mundo, ou seja, "vai produzir 1 milhão e meio de pasta de papel por ano", revela. O escoamento de toda a produção será assegurado por várias vias de comunicação, que implicam o compromisso do Estado moçambicano na reabilitação e construção de portos, ferrovias ou rodovias. "Há uma parte dessas infraestruturas que o projeto vai suportar, mas há outras que são de utilização pública e que têm de ter o envolvimento das autoridades. Hoje considero que há boa vontade e que são questões resolúveis", acredita o mesmo gestor.
De qualquer modo, é preciso ter em conta vários riscos: sem o porto da Beira, para escoar toda a produção de Manica, o projeto pode ficar comprometida. No caso da produção da Zambézia, "a solução ideal passa pela construção de um porto de águas profundas na costa zambeziana, o porto de Macuse, que já está em discussão pública, e daí a carga irá até ao porto de Nacala, a partir do qual segue para a Ásia". Do mesmo modo, não poderão faltar as ferrovias e rodovias, porque "quando a fábrica estiver a funcionar sairá de lá uma carga diária equivalente a quatro comboios e a mais 300 camiões".
Todos estas fragilidades retiram competitividade ao projeto, mas o gestor garante que "será compensada pela alta produtividade dos terrenos florestais e, acima de tudo, pelo facto de Moçambique ter menos 20 dias de navegação para a China ou a Índia do que o Brasil, um dos maiores produtores de pasta de papel no hemisfério sul".
Quando a fábrica abrir portas todo o projeto deverá empregar 7500 a 8000 trabalhadores diretos [em Portugal fica-se pelos 2300]. O principal empregador é a floresta e a unidade industrial necessitará apenas de 700 a 800 colaboradores. No passado mês de junho, já estiveram ativos mais de 2150 empregos, onde se incluem os quatro empregados que estão na sede, que fica no bairro chique de Sommerchield em Maputo. "No total, empregamos hoje apenas cinco expatriados e vamos ter mais dois em breve. Estamos abaixo da quota permitida para estrangeiros e tudo faremos para privilegiar o emprego moçambicano", sublinha Pedro Moura.
Sobre o futuro de Moçambique, Pedro Moura, 62 anos, acredita que há condições para a estabilidade se manter no país. Os fenómenos de instabilidade, que se têm verificado entre a Renamo e a Frelimo, são apenas sinais do "crescimento da democracia", diz. Os moçambicanos querem tudo menos conflito, até porque já sentiram o peso da guerra e dos seus efeitos nefastos e estão a sentir os efeitos positivos da paz. "Acho difícil que os dirigentes se dissociem da vontade da maioria do povo".
Texto publicado no Caderno de Economia do Expresso de 14 de setembro