Acelerador de Sustentabilidade

Como acelerar rumo à descarbonização

Como acelerar rumo à descarbonização
Carlos Monteiro

Guia. Se ainda não tomou medidas para reduzir as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), principalmente CO2, deixe que o calor e os incêndios desta semana lhe abram os olhos. E se não sabe como começar e avançar no processo, leia isto

Ana Baptista

Na descarbonização está tudo a acontecer. E com a pandemia, tudo se acelerou. Tanto que “tem sido difícil acompanhar a velocidade da mudança”, diz Luís Veiga Martins, da Nova School of Business. Mas estamos em “emergência climática” e há por aí muitos fundos para apoiar a descarbonização. Por isso, não há desculpas e “as empresas vão ter de apanhar o comboio”.

Porque é que tenho de descarbonizar?

Porque há cada vez mais eventos extremos provocados pelas alterações climáticas. Porque há regulamentos e legislações europeias e portuguesas que obrigam a reduzir em mais de 50% as emissões. Porque em breve entra em vigor a nova taxonomia europeia que obriga a colocar no balanço financeiro o valor não financeiro que é criado pelas práticas sustentáveis. Porque as grandes empresas já começaram a descarbonizar e exigem que os seus parceiros também o façam. Porque há dinheiro público disponível, por exemplo, no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Ou porque os consumidores, mais atentos, escolhem empresas e produtos mais sustentáveis.

Quer dizer que posso criar mais valor?

A descarbonização deve ser vista como uma oportunidade para atrair mais e novo negócio. Ana Costa, da Beta-i, conta que uma empresa têxtil de Vizela usou os resíduos para fazer um novo fio de tecido ou que a Danone Portugal substituiu as tampas de plástico por tampas de alumínio porque era exigido pelas famílias.

Qual é, então, o primeiro passo a dar?

Quantificar as emissões de GEE, ou seja, perceber quanto estão a emitir e de onde vêm as emissões: se da atividade ou produção da empresa; se da energia que consomem; ou se dos fornecedores, cadeias logísticas e transportes que usam. Há sites onde se pode fazer isto, mas para uma medição séria é preciso um auditor externo.

E quais são os passos seguintes?

De acordo com Manuel Mota, da EY, uma vez sabendo quanto e onde estão as emissões, há que perceber quais podem ser evitadas no imediato, depois definir quais podem ser reduzidas e, só depois, estabelecer quais podem ser substituídas por tecnologias. Quando já não há mais onde reduzir, trabalha-se na neutralização, com a captura de carbono, e na compensação, por exemplo, plantando árvores.

Como ponho isso em prática?

Com eficiência energética, economia circular e tecnologias como as renováveis, o autoconsumo, a biomassa, o hidrogénio verde, os materiais eficientes ou a captura de carbono. Algumas estão mais maduras e têm preços acessíveis, como as renováveis, e outras estão em desenvolvimento e são mais caras, como o hidrogénio. Mas um estudo da McKinsey diz que as tecnologias existentes chegam para reduzir 60% das emissões. As restantes serão mitigadas com as tecnologias mais caras, que entretanto ficam mais baratas, ou com as que ainda vão surgir.

Ou seja, vou ter de gastar dinheiro...

Por isso é que, diz Ana Costa, tem de se medir o sucesso das intervenções que se vão fazendo, porque podem não estar a ter o impacto desejado. Por exemplo, repara Luís Veiga Martins, não vale a pena comprar um carro elétrico se não se tem como o carregar.

Há apoios públicos?

Sim: €2,4 mil milhões no PRR; €38 mil milhões no Innovation Fund; €3,2 mil milhões no Portugal 2030. Tudo junto são €44 mil milhões mas que não chegam para tudo — porque nem todos os concorrentes são elegíveis e porque tem havido muita procura. Nesse caso, pode recorrer-se à banca, que também recebe apoios do Banco Europeu de Investimento e garantias do Estado nos empréstimos para projetos sustentáveis.

Alguns deles são só para PME?

No Innovation Fund, as Pequenas e Médias Empresas podem concorrer aos concursos para investimentos entre €2,5 milhões e €7,5 milhões. Já o Portugal 2030 será direcionado essencialmente para as PME. E no Plano de Recuperação e Resiliência pode fazer mais sentido concorrerem em consórcios com grandes empresas. As parcerias são, por isso, importantes. Por exemplo, algumas empresas do sector têxtil juntaram-se para poderem reciclar os farrapos sobrantes porque a empresa que recebe os resíduos só trabalha com sete toneladas de farrapos.

Como tenho acesso?

São concursos para empresas, sectores ou projetos específicos, mas atenção que alguns só estão abertos durante dois meses. É tudo feito online em portais diferentes. Para o PRR, usa-se o site do IAPMEI, do Fundo Ambiental e do Balcão 2020. No Innovation Fund, é no ‘Funding and Tender Portal’, da Comissão Europeia, e no PT 2030, que arranca no terceiro trimestre, deverá ser como no PRR.

O que é o Acelerador de Sustentabilidade?

O Acelerador de Sustentabilidade é um projeto dirigido, maioritariamente, a Pequenas e Médias Empresas (PME) — que são a maioria do tecido empresarial português — e consiste na realização de sessões de formação onde se apresentarão os passos para ser mais sustentável em seis temas: descarbonização; energias renováveis; turismo, agricultura e imobiliário mais sustentáveis; e economia circular. No total, serão seis sessões ao longo de seis meses e em seis cidades diferentes do país, que serão orientadas por representantes do BPI, da Nova Business School, da consultora de gestão EY, e da consultora de inovação Beta-i. Em simultâneo, serão publicados na edição impressa do Expresso, também ao ritmo de um por mês, seis guias sobre como as empresas podem acelerar a sustentabilidade. Este é o primeiro, sobre descarbonização, e o próximo, sobre renováveis, a 23 de setembro. O terceiro guia, sobre turismo sustentável, será publicado a 21 de outubro, e o quarto, sobre agricultura mais sustentável, sai a 4 novembro. Os restantes ainda não têm uma data fechada.

O acelerador das empresas

Seis meses, seis sessões de formação, seis eventos em seis cidades, seis guias, seis temas — descarbonização; energias renováveis; turismo, agricultura e imobiliário mais sustentáveis; economia circular. Esta é a base do Acelerador de Sustentabilidade, um projeto para as Pequenas e Médias Empresas (PME), organizado pelo Expresso e o BPI. Estratégias, conselhos e passos para descarbonizar e ter um negócio sustentável.

Textos originalmente publicados no Expresso de 15 de julho de 2022

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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