Expresso 2000

'Conselhos' do Expresso para negócios de família, por José Manuel Bastos

6 março 2011 10:00

José Manuel Bastos

6 março 2011 10:00

José Manuel Bastos

Os meus pais foram para Angola em 1942 e retornaram em agosto de 1975, uns escassos meses antes da independência. (...) Recusavam acreditar que lhes pudesse acontecer o que tinham presenciado anos antes, quando milhares de belgas procuraram em Luanda um ponto de passagem a caminho da Bélgica, fugindo dos conflitos no ex-Congo Belga (na altura Zaire e hoje República Democrática do Congo).

Essa recusa era, para eles e para a esmagadora maioria dos portugueses, uma das formas de afirmação da nossa diferença na relação com África.

Mau grado os primeiros anos terem sido de grandes dificuldades, a partir dos anos 50 as perspetivas económicas familiares foram melhorando significativamente. Foi assim que os meus pais aumentaram o seu património, nomeadamente através da aquisição de três ou quatro imóveis.

A cartilha de Spínola

Poucos meses antes do "25 de abril", vivendo eu em Coimbra, recebo uma carta dos meus pais, a pedir a opinião sobre a venda de um desses imóveis. Já lhes dissera várias vezes que a situação, tal como estava, não tinha futuro. A audiência concedida pelo Papa Paulo VI aos líderes africanos dos principais movimentos de independência era o exemplo do isolamento internacional do nosso país; o peso do chamado Terceiro Mundo crescia  todos os anos.

Porém, desta vez, resolvi não me repetir e optei por dar-lhes uma resposta indireta: meti num envelope as duas páginas que o "Expresso" dedicara ao livro do general António de Spínola "Portugal e o Futuro", e remeti-o para Luanda. Talvez assim os meus pais acreditassem que outras soluções podiam estar a caminho, propostas por pessoas ligadas ao regime, e cujos desenvolvimentos eram difíceis de prever.

De todo o modo, a casa ficou por vender.

José Manuel Bastos

Coimbra

  1. A opinião dos leitores
  2. Um apoio na vida pessoal e profissional, por Almor Serra
  3. O Expresso só à 2ª (ou mesmo à 3ª de manhã), por Santiago Macias
  4. Velhos problemas muito atuais, por Raul da Silva Pereira
  5. Papel por todos os cantos da casa, por Margarida Cunha
  6. Saudades de outros tempos, por João Bernardo Lopes
  7. Uma pedrada no charco, por João Pinto
  8. O medo de contar verdades incómodas, por António Silva Carvalho
  9. Leitura com música, por José Rodrigues Franco
  10. Três ou quatro semanas de costas voltadas, por José N. Celorico
  11. Em busca do humor, por Maria José Azevedo