Europeias 2019

O fim do bloco central europeu não é o fim da Europa

27 maio 2019 0:01

Cristina Peres

Cristina Peres

Jornalista de Internacional

francois lenoir / getty

Perante a polarização, os europeus correram a votar e a subida significativa dos Verdes europeus mostra a importância que os cidadãos dão às questões climáticas bem como a responsabilização do Parlamento Europeu nesses assuntos. A extrema-direita subiu, porém não dominou como se temia

27 maio 2019 0:01

Cristina Peres

Cristina Peres

Jornalista de Internacional

A polarização entre nacionalistas e europeístas levou as pessoas a votar e a participação geral subiu pela primeira vez desde 1994, prevendo-se que possa ficar acima de 50%. Os Verdes/Aliança Livre Europeia foram os grandes vencedores da votação europeia, podendo chegar a ter mais 20 deputados do que na legislatura anterior.

Não só ganham estatuto de força a ter de ser doravante reconhecida — e reconheceram a “confiança política” dada pelos eleitores e vários Estados-membros — como passam a ter um papel importante na formação de futuras alianças entre os partidos pró-europeus que possam vir a sair da votação final.

Merkel no more

No caso da Alemanha, os verdes esmagaram (22%), passando a ser a segunda força política nacional a seguir aos democratas-cristãos (28%) e colocando as coligação atual (CDU-SPD) em maus lençóis. Difícil de formar no início e agora igualmente difícil de manter é como se pode avaliar o estado da GroKo, a grande coligação que governa a Alemanha depois de o resultado dos sociais-democratas (15,5%) parecer comprometer os dois anos que faltam cumprir ao atual Governo.

Dito isto, ganharam os partidos pró-europeus em três dos países em que mais se temia que a direita nacionalista triunfasse: Alemanha, Áustria e Holanda, tendo o partido de extrema-direita de Heinz-Christian Strache, o FPÖ, sido castigado pelo escândalo que levou à demissão do vice-chanceler.

Tudo indica que a discussão na Alemanha vai ser mais fundamental do que a busca na Europa para decidir qual vai ser o partido que vai representar qual papel. Em Berlim a pergunta será “Quanto mais tempo tenciona esta coligação continuar a atormentar-se a si e ao país todo?”, perguntava-se a chefe de redação da Deutsche Welle, lembrando que o país só tem uma certeza: Angela Merkel não voltará a concorrer.

Segundo sacrifício

Outro governo sacrificado é o de Alexis Tsipras, cujo partido, o Syriza (esquerda), ficou atrás do partido de centro-direita Nova Democracia (ND) com perto de menos 9% dos votos. A votação europeia castigou-o na Grécia, retirando-lhe a confiança, e logo após o líder da oposição, Kyriakos Mitsotakis ter pedido a demissão imediata do chefe de Governo, Tsipras convocou eleições para a Grécia. A ND e os neofascistas da Aurora Dourada foram os mais votados pelos jovens com idades entre os 17 e os 24.

O bloco dos conservadores (PPE) conseguiu continuar a ser o maior, mas viu a sua margem reduzida, bem como a impossibilidade de continuar a formar uma maioria absoluta (mínimo de 376 deputados) com os Socialistas & Democratas (S&D), que somavam há pouco 308 deputados. Os socialistas ocupam o segundo lugar e os liberais (ALDE) somados ao En Marche (partido de Macron), em terceiro.

Finalmente, o maremoto populista não aconteceu. Apesar da vitória da Liga de Matteo Salvini, existe ainda a possibilidade de não alcançar 30% dos votos (projeções situavam o partido entre os 27 e os 31 pontos). Como tweetava perto das 22h Cas Mudde, renomado especialista em populismo, “será uma desilusão mesmo que Salvini nunca o admita”, já que fez campanha permanente desde que se tornou ministro.

Em França, o Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, foi o partido mais votado com 23,3% e à frente da coligação do Presidente Emmanuel Macron (22,1%), mas é ainda incerto se fica com o mesmo número de deputados que Emmanuel Macron.

Na Dinamarca, o Partido Popular, de extrema-direita, perdeu terreno e o Partido Popular Contra a União Europeia perdeu o único lugar que tinha.

É verdade que a extrema-direita liderou a votação em França, em Itália e na Hungria, onde o partido no Governo, o Fidesz esmagou a votação com 56% dos votos dando a Viktor Órban uma vitória que bem lhe faz desprezar a suspensão do PPE. Na Hungria como na Polónia, a votação europeia prenuncia as eleições legislativas marcadas para o próximo outono.

Na Polónia o Partido Lei e Justiça (PiS, 42,4%) venceu por curta margem sobre a coligação da oposição Coligação Europeia (39,1%) e transformando as eleições de outuno numa batalha nacional mais acirrada devido à polarização dos votos.