Expansão do metro em Loures: contestação da população leva a alteração do traçado previsto
Avenida das Descobertas, em Loures
João Pedro Barros
Autarca de Loures, Ricardo Leão, confirma ao Expresso que a estação terminal do metro ficará junto ao centro comercial LoureShopping, não entrando na urbanização do Infantado – a passagem pela Avenida das Descobertas estava prevista na proposta inicial de traçado, mas os moradores não concordaram. Metropolitano de Lisboa diz estar “em articulação” com o município. Obras começam no próximo ano
Ao contrário daquilo que estava inicialmente previsto e depois de parte da população se manifestar contra, o traçado proposto para o metro ligeiro de superfície entre Loures e Odivelas vai ser alvo de uma alteração: não irá passar na zona do Infantado, área habitacional onde residem milhares de pessoas. A informação foi confirmada ao Expresso pelo presidente da Câmara Municipal de Loures.
“Fizemos uma reunião pública e detetámos que a população não queria que o metro passasse dentro da urbanização do Infantado. Fizemos depois um inquérito com cerca de 3000 respostas e 70% daquela população não queria”, justifica Ricardo Leão. A Câmara propôs então a alteração ao Metropolitano de Lisboa e, de acordo com o autarca, a decisão foi também articulada com o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro.
A consulta pública da avaliação de impacto ambiental do projeto terminou a 14 de fevereiro e, por essa altura, a população expressou descontentamento em sessões de debate e através de uma petição, que ultrapassou as 790 assinaturas. Os moradores do Infantado criticavam a “significativa redução de lugares de estacionamento” e de vias de circulação, com “estrangulamento do trânsito apenas numa via”, onde atualmente existem duas, assim como a “excessiva proximidade do traçado do metro aos prédios habitacionais” e a destruição das palmeiras que dividem a via nos dois sentidos.
Avenida das Descobertas, em Loures, por onde deve passar o metro
O projeto previa três estações ao longo da Avenida das Descobertas e, com a alteração, haverá apenas uma – e a última da linha –, situada junto ao centro comercial LoureShopping, de acordo com Ricardo Leão. Já o Metropolitano de Lisboa, em resposta ao Expresso, refere que “a implantação da estação terminal está a ser estudada em articulação com o município de Loures”.
A proposta de alteração foi apresentada “no seguimento do período de consulta pública” e “resulta da pronúncia dos cidadãos”, indica ainda a empresa, acrescentando que as “matérias relativas ao reordenamento urbano, sendo da responsabilidade dos municípios” estão a ser “devidamente articuladas” com a Câmara Municipal de Loures.
O protocolo para o desenvolvimento da linha violeta foi assinado em julho de 2021, dois meses antes de Ricardo Leão (PS) ganhar a corrida à câmara, lugar até então ocupado por Bernardino Soares (CDU). “Ficámos surpreendidos que o executivo anterior não tenha ouvido a população previamente. Compete-nos ir ao encontro daquilo que é a vontade da grande maioria da população”, aponta o autarca.
O presidente da Junta de Freguesia de Loures, António Pombinho, diz ao Expresso que esta só irá “tomar posição” quando existir “informação formal da entidade responsável, que é o Metro”. Em fevereiro, a junta defendeu um “traçado alternativo para a circulação no Infantado”, uma vez que o proposto “atravessa o interior da urbanização, no meio de edifícios habitacionais, com redução das vias de circulação rodoviária e dos lugares de estacionamento”.
Para António Pombinho, “é da maior importância que o traçado corresponda às necessidades das pessoas e às expetativas que têm”. “Esperamos que todo este processo não venha a ser forma de atrasar, de novo, todo o investimento, porque ele está anunciado pelos responsáveis do Governo desde 2009. Já passaram 14 anos”, recorda.
Ricardo Leão diz que o processo “está a correr os trâmites normais”. “Não há nenhum sentimento de alarme no que diz respeito ao não cumprimento do prazo”, garante. A Agência Portuguesa do Ambiente não respondeu às perguntas do Expresso, mas a declaração de impacto ambiental, datada já deste mês, é “favorável condicionada”. O Metropolitano de Lisboa afirma que o início das obras está previsto para 2024.
A construção do metro ligeiro de superfície entre Odivelas e Loures deverá custar 390 milhões de euros em vez dos 250 milhões previstos no Plano de Recuperação e Resiliência, indicou o ministro do Ambiente no final de fevereiro. A obra deverá estar concluída até ao segundo semestre de 2026 e o procedimento para a contratação da empreitada e material circulante será lançado ainda no primeiro semestre deste ano.
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