Na Ásia ainda predominou o vermelho nas bolsas esta quinta-feira, mas a Europa abriu no verde, com as principais praças a subir 1% na abertura. Em Lisboa, depois de uma perda de 2,8% na quarta-feira, o índice PSI abriu a subir perto de 1%.
Depois da tempestade gerada pelo Crédit Suisse, quarta-feira registou a pior sessão desde início do ano nas praças da zona euro. O índice bolsista MSCI para a área da moeda única afundou-se 5% a 14 de março.
O sector bancário europeu foi o mais castigado. Vinte bancos europeus - da zona euro, Reino Unido e Noruega - registaram perdas superiores a 6% na sessão de 14 de março. Os mais castigados foram o Credit Suisse - que desencadeou a maré vermelha -, com um afundamento de 24,2%, a Société Génerale, com uma perda de 12%, e o BNP Paribas e o Sabadell, com quedas de 10% cada um. Em Lisboa, o BCP recuou 9%.
À escala mundial, o índice bolsista MSCI perdeu 1,2% na quarta-feira, uma queda similar à registada a 9 de março, mas inferior aos 1,3% perdidos a 10 de março, no auge da crise dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank.
Nova Iorque conseguiu escapar ao pior na quarta-feira, com o índice das tecnológicas Nasdaq a fechar inclusive acima da linha de água, com um ganho marginal de 0,05%. Os dois índices de Wall Street registaram perdas abaixo de 1%: o S&P 500 recuou 0,7% e o Dow Jones (as 30 maiores cotadas) caiu 0,9%. O anúncio do resgate do Credit Suisse pelo banco central helvético reduziu o pânico em Wall Street.
Investidores com os olhos na reunião do BCE
A súbita turbulência nos sectores bancários norte-americano e europeu, apesar da resposta rápida das autoridades dos EUA e do resgate do banco central suíço ao Crédito Suisse. aumentou as expetativas dos investidores em relação às decisões na reunião desta quinta-feira do Banco Central Europeu (BCE).
Christine Lagarde, a presidente do BCE, antecipou na última reunião em fevereiro que o ritmo do aperto monetário na zona euro não abrandaria em março e que a decisão seria de repetir um aumento de meio ponto percentual, puxando a taxa diretora principal para 3,5% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos para 3%. Os analistas admitiram, então, que um abrandamento do ritmo de subida poderia ocorrer nas reuniões de maio e junho.
Face à turbulência no sector bancário europeu, com perdas em bolsa acima de 6% em uma vintena de bancos importantes, na maioria sedeados na zona euro, as probabilidades de um aumento esta quinta-feira de 50 pontos-base (meio ponto percentual) nos juros do BCE desceram de 90% para 16%. No entanto, não faltam analistas a insistir que Lagarde não cederá no ritmo do aperto monetário face a uma inflação que, em fevereiro, ainda se mantinha em 8,5%, e que, em termos de inflação subjacente (excluindo as componentes mais voláteis), subiu inclusive para 5,6% no mês passado. Em particular, nas componentes do índice ligadas à alimentação e aos serviços a trajetória continuou a ser de subida em fevereiro.
Depois da Califórnia, a Europa
A semana passada tinha sido agitada pelas primeiras falências de bancos nos Estados Unidos desde setembro de 2008. O Silicon Valley Bank e o Signature significaram a segunda e a terceira maiores falências desde o afundamento do Washington Mutual em setembro de 2008. De 2008 a 2014, uma vaga de 507 bancos fecharam nos EUA e o fantasma da crise bancária regressou agora. A onda de choque levou a uma quebra acumulada de 3,5% nos dias 9 e 10 de março no índice MSCI para o conjunto das duas bolsas de Nova Iorque.
Subitamente, o fantasma saltou para a Europa. O Credit Suisse vacilou e as ações deram um trambolhão de 24,2%. O contágio no sector bancário europeu não se fez esperar. Mais 19 bancos de referência - cotados sobretudo no Eurostoxx 50 e no Eurostoxx 600 - perderam mais de 6% num só dia. Em Lisboa, o BCP caiu 9%. As praças mais afetadas foram a de Viena, com o índice ATX a perder 6,3%, e de Milão, com o índice MIB a recuar 5%. Em Madrid, o Ibex 35 teve perdas de 4,4% e, em Lisboa, o PSI deslizou 2,8%, ficando abaixo da maioria das quebras europeias.
A maré vermelha foi contida no final da sessão em Nova Iorque, depois do Credit Suisse anunciar que iria recorrer a duas linhas de crédito junto do Banco Nacional da Suíça, o banco central helvético, até um montante de 50 mil milhões de francos suíços (perto de 51 mil milhões de euros). É o primeiro resgate em bancos sistémicos europeus desde a crise de 2008.
Na Ásia, a onda de choque do Credit Suisse apareceu já depois das bolsas fecharem nessa parte do mundo na quarta-feira, com ganhos de quase 1%. Esta quinta-feira, a maré vermelha chegou às bolsas asiáticas, mas as perdas foram menores do que na Europa: as duas principais praças, Xangai e Tóquio, encerraram a perder 1% e 0,8% respetivamente. A mais castigada, entre as mais importantes, foi Hong Kong, com perdas de 2%.
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