O Novo Banco conseguiu multiplicar os seus lucros por três face ao ano passado e obteve um resultado líquido de 561 milhões de euros em 2022, de acordo com o comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O lucro do banco presidido por Mark Bourke é o segundo mais alto da banca privada, apenas atrás do Santander Totta (607 milhões de euros). Com lucros de 843 milhões de euros, o banco público Caixa Geral de Depósitos esteve na dianteira nas contas de 2022.
Saída da Avenida da Liberdade ajuda
A evolução dos lucros do Novo Banco em 2022 – até agosto sob a liderança de António Ramalho, e desde aí ao leme de Mark Bourke – deve-se, essencialmente, a dois fatores: as vendas de imóveis, incluindo a sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa, operações que renderam 126 milhões de euros; e um muito menor peso de provisões e imparidades, com menos dinheiro a ser posto de parte para eventualidades.
Neste último caso, esta rubrica tinha retirado 352 milhões de euros aos resultados do banco em 2021; no ano seguinte, o impacto negativo foi de 111 milhões.
Nesta rubrica, o peso das imparidades sobre crédito afundou-se, mas o Novo Banco voltou a inscrever uma provisão, de 57 milhões em 2022, por conta de uma medida do Governo que prevê a tributação agravada dos imóveis detidos por cadeias de controlo com presença em paraísos fiscais, como é o caso da estrutura da Lone Star.
De resto, a margem financeira – diferença entre juros dos créditos e dos depósitos – subiu 9% (sobretudo no último trimestre do ano, já muito ajudado pelo efeito nos créditos do aumento da taxa de juro do Banco Central Europeu). As comissões bancárias somaram 4%.
No lado dos custos, há um agravamento de 27% em relação ao ano anterior, que o banco da Lone Star justifica com medidas extraordinárias, como reconhecimentos adicionais de perdas e custos com consultoria estratégia. Sem eles, o aumento seria de 2%.
Menos 100 trabalhadores, e menos de 300 balcões
É após a auditoria a estas contas agora apresentadas que a Comissão Europeia deverá dar luz verde para concluir o plano de reestruturação iniciado em 2017, para compensar as injeções acordadas pelo Fundo de Resolução (que integra o Estado português) quando da venda à Lone Star.
Bruxelas já sinalizou que vai dar tal aprovação – que chega um ano depois do previsto porque o Novo Banco não atingiu todas as métricas acordadas.
No último ano, o Novo Banco, hoje a operar basicamente apenas em Portugal, cortou 100 postos de trabalho, chegando a um quadro de 4090 trabalhadores. A rede de balcões foi cortada para 292, menos 19 – e, por agora, só 240 estão já a operar sob o novo modelo de distribuição.
Crédito malparado ainda pesa 4%
Relativamente à operação, o banco aumentou em 3,8% a carteira de crédito, tendo 24,6 mil milhões de euros, num movimento que continua a ser liderado pelas empresas (crescimento de 3,9%), e não tanto pelos particulares (subida de 1,6%, sobretudo no crédito à habitação).
Ainda assim, o crédito em incumprimento continua a ser relevante, representando 4,3% de toda a carteira; quando um ano antes era de 5,7%.
Já os depósitos subiram 4% para 28,4 mil milhões de euros.
Sem nova ajuda, por agora
Em 2021, o banco da Lone Star, em que o Estado tem diretamente ou através do Fundo de Resolução 25%, tinha reportado 185 milhões de euros, o que levou, na altura, o Fundo de Resolução a recusar entregar o capital que estava a ser pedido – em 2022, voltou a não haver nenhum dinheiro do Fundo de Resolução em direção ao banco.
Porém, ainda decorrem processos – tanto em tribunal arbitral como judicial – com divergências quanto ao montante que o Novo Banco considera que é seu, mas a que o Fundo de Resolução foi colocando travões ao longo dos anos, chegando a mais de 400 milhões de euros - dinheiro que ainda pode sair dos cofres do Estado em direção à nova sede do Novo Banco, em construção no Taguspark, Oeiras.
A nível de rácios, a entidade bancária registou melhorias. O rácio que mede o peso dos melhores fundos próprios nos ativos do banco, conhecido por CET 1, fixou-se em 13,7%, quando era de 11,1% no ano anterior – estando acima dos 8,7% mínimos que são exigidos pelo Banco Central Europeu.
Notícia atualizada pela última vez às 7h50 com mais informações
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes