Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI, a agência para a competitividade e inovação por onde passam três em cada quatro candidaturas aos incentivos europeus, alerta que “estes apoios públicos não devem ser encarados como uma rotina, como um suporte habitual à economia”, mas para “criar valor”.
“Seremos bastante criteriosos na avaliação do mérito dos projetos que irão ser submetidos”, avisou o presidente do IAPMEI no webinar dedicado aos apoios do novo quadro comunitário Portugal 2030, que a Deloitte dinamizou na passada quinta-feira.
“Devemos reforçar de forma clara - ao nível das regras e dos pressupostos de comunicação que temos com as empresas – o princípio de que a utilização dos fundos só pode ocorrer para criar valor, com um sentido estratégico”, disse Luís Guerreiro. “Se não, não vale a pena estarmos a investir”, acrescentou.
“O tecido empresarial português tem, mais uma vez, uma janela de oportunidade de apoios substanciais para os seus projetos, para aumentar a resiliência das empresas, a nossa competitividade". Mas "através da inovação”, alertou. “Já está mais do que provado que a política de baixos salários não funciona. Temos, realmente, de agarrar este paradigma de mudança”.
Em contrapartida, o presidente do IAPMEI espera que o Portugal 2030 seja menos burocrático e mais rápido do que o anterior quadro comunitário Portugal 2020 a analisar as candidaturas aos incentivos europeus.
“Uma das críticas que têm sido feitas a todos os sistemas de incentivos é a sua carga burocrática. Esta é uma questão que não só afeta as empresas como também nos afeta a nós, dentro da nossa orgânica interna”, reconheceu Luís Guerreiro.
“Penso que o Portugal 2030 vai, de certa forma, aligeirar essa carga”, disse, sobre a nova vaga de incentivos europeus à inovação produtiva exclusivamente destinada às micro, pequenas ou médias empresas (PME). “As PME não têm a mesma estrutura organizacional das grandes empresas que, dentro da sua orgânica, têm direções, departamentos que podem acompanhar perfeitamente este tipo de candidaturas”, acrescentou.
Apoios mais verdes
Por parte da Deloitte, quatro consultores focaram-se nas principais novidades do Portugal 2030 para as empresas. Desde o maior foco nas PME, passando pelos apoios à descarbonização até à aposta nos apoios à qualificação, em função das transições digital, climática e energética que importa enfrentar.
Sérgio Oliveira realçou o contributo destes incentivos europeus para “a criação e a manutenção de empresas que sejam económica e financeiramente mais robustas e consigam gerar mais valor, mais riqueza e mais emprego”. E Jorge Nadais detalhou “as medidas que estão especificamente direcionadas para as empresas ou que os beneficiários podem ser também empresas” no maior dos programas do Portugal 2030, dedicado à inovação e à transição digital.
São 1382 milhões de euros para desenvolvimento empresarial e internacionalização das PME, incluindo os investimentos produtivos; 575 milhões de euros para projetos de eficiência energética e de demonstração (PME e grandes empresas); 231 milhões de euros para processos de investigação e de inovação (I&I), transferência de tecnologias e cooperação entre empresas, centros de investigação e universidades; 150 milhões de euros para processos de inovação nas PME; 106 milhões de euros para atividade de I&I em PME; 104 milhões de euros para investimento em ativos intangíveis diretamente ligados a atividades de I&I (PME e grandes empresas); 95 milhões de euros para atividades de I&I em grandes empresas; e 58 milhões de euros para investimentos em ativos fixos, incluindo infraestruturas de investigação, ligadas a atividades de I&I (PME e grandes empresas).
Abertos estão os dois primeiros concursos para incentivos à inovação produtiva nos territórios de baixa densidade, sobretudo do interior (125 milhões de euros) e para os restantes territórios, sobretudo do litoral (275 milhões de euros). E Susana Enes pode confirmar o peso crescente do tema da sustentabilidade e do clima nos critérios de acesso aos fundos europeus. “Nenhuma empresa poderá fugir e terá de demonstrar que a sua atividade, que os bens produzidos decorrentes de um projeto de investimento, cumprem com todas as normas e com todas as prioridades da União Europeia em matéria de ambiente e clima”.
O webinar terminou com uma análise ao programa de apoio criado pelo governo para as grandes empresas que perderam o acesso aos incentivos à inovação produtiva no Portugal 2030.
“Estamos a referir-nos a 750 milhões de euros, nos próximos anos, a atribuir no contexto de grandes operações que possam ser feitas ao abrigo do regime contratual de investimento”, explicou Alexandre Andrade. Em complemento a estes incentivos financeiros, explicou outros apoios fiscais às grandes empresas: benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo e regime fiscal de apoio ao investimento.
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