16 novembro 2014 15:45
BES explica ao Banco de Portugal que quer vender parte do BES Investimento em Bolsa no Brasil, bem como parte da BES Vida, o que nunca cumpriu. E que pode fazer um aumento de capital, que de facto aconteceria. A Tranquilidade foi avaliada pelo BESI em muito mais do que valia - e essa história também acabaria mal.
16 novembro 2014 15:45
Documento: Carta Data: 12 de fevereiro de 2014 De: Banco Espírito Santo Para: Banco de Portugal, Pedro Duarte Neves (vice-governador)
As cartas continuam a trocar-se a uma velocidade vertiginosa no mês de fevereiro, por causa do pagamento do papel comercial. Está definida a provisão de 700 milhões de euros, que cobre os pagamentos dos clientes de retalho em Portugal - os institucionais ficam desprotegidos porque o Banco de Portugal considera que tem sofisticação suficiente para saberem os riscos do que compram e os de retalho no estrangeiro também ficam de fora porque o Banco de Portugal considera que estão perante outras jurisdições de supervisão. Na verdade, há quem depois venha dizer que o Banco de Portugal estava apenas preocupado com questões de reputação do BES, pelo que só os clientes de retalho em Portugal o preocupavam. Os outros, mesmo que reclamassem, não tinham capacidade de gerar instabilidade na relação de confiança generalizada dos depositantes em relação ao BES.
Em carta de dia 12 de fevereiro de 2014, o BES responde a questões anteriores do Banco de Portugal, colocadas por carta no dia 4 do mesmo mês. "Para fazer face ao montante em dívida a 13 de fevereiro, 799 milhões €, a ESI está a executar um plano de deleverage", o célebre plano que está sistematicamente a ser invocado, mas que nunca seria executado completamente.
É nesta carta que fica escrito que a seguradora Tranquilidade foi dada como garantia para uma linha de crédito do BES à ESFG para reembolsar o papel comercial: "Caso a ESFG não regularize essa dívida perante o BES no prazo de 30 dias, o BES acionará o mandato irrevogável de venda da Companhia de Seguros Tranquilidade", que por sua vez "foi avaliada, a 30 de junho de 2013, por 899 milhões € pelo BES Investimento, tendo-se considerado no processo ETRICC prudente utilizar um valor de referência de 700 milhões €". Esta história acabaria mal. Primeiro, porque a Tranquilidade não valia nem 899 nem 700 milhões de euros, como se veria quando acabou por ser vendida, no último dia de julho seguinte. Depois, porque seria descoberto que a própria Tranquilidade investiria em papel comercial do GES, intoxicando-se, portanto.
Juntamente com esta carta, o BES envia um parecer do jurista Alexandre Mota Pinto que dá como boa a garantia soberana de Angola - garantia esta que cairia a 4 de agosto, sem benefício para o BES.
Embora as contas do BES não fossem contaminadas, nesta altura, pelas provisões para pagar o papel comercial, havia riscos de que os rácios mínimos de capital não fossem cumpridos. Para contornar esse risco, o BES informa que está a planear vender parte do BES Investimento em Bolsa no Brasil (o que nunca aconteceu) e fazer uma venda parcial da BES Vida (o que a equipa de Ricardo Salgado também não cumpriu). Além disso, "será possível realizar um aumento de capital do BES no mercado". De facto, assim seria, já em Junho: mil milhões de euros entraram no BES, injeção de capital garantida por investidores... que perderiam tudo.
AQUI
OS FICHEIROS BES SÃO UMA INICIATIVA EDITORIAL DO EXPRESSO, DE DIVULGAÇÃO DE DOCUMENTOS CONFIDENCIAIS ESSENCIAIS PARA A COMPREENSÃO DO CASO ESPÍRITO SANTO. PARA LER MAIS FICHEIROS BES, CARREGUE AQUI.