Tecnologia

TVI admite perda de dois milhões com CNN e quer sair da TDT

O debate da Nação dos Média no Congresso organizado pela APDC
O debate da Nação dos Média no Congresso organizado pela APDC
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No Congresso dos Negócios Digitais, em Lisboa, os líderes da Impresa, Media Capital e RTP revelaram planos para reverter em benefício a grande vaga digital

A CNN Portugal lidera hoje as audiências dos canais de TV especializados em informação, mas a ascensão teve um custo ao cabo de um ano: Pedro Morais Leitão, diretor executivo do Grupo Media Capital, que detém a TVI e é responsável pela CNN Portugal, admitiu esta terça-feira no Congresso dos Negócios Digitais, em Lisboa, que a aposta no novo canal de informação redundou numa perda de dois milhões de euros.

Durante o denominado Debate da Nação dos Media, o gestor também se queixou do valor pago para chegar a 150 mil pessoas com a TV digital Terrestre. “No limite podemos deixar de ser um canal generalista para sair da TDT”, admitiu Morais Leitão.

A questão é crucial para quem lidera os canais de TV. Com a concessão atribuída à Altice a caminhar para o fim, os operadores de TV começam a marcar posição face às transmissões abertas em frequências hertzianas, que têm vindo a perder audiências aos longo dos anos, depois de um arranque tumultuoso na década passada.

A par da perda de audiências, que neste caso não deverão ir além dos 150 mil pessoas, há os custos impostos para marcar presença na TDT. Morais Leitão estima que os três operadores gastem anualmente oito milhões de euros para transmitir conteúdos no sinal aberto hertziano.

Francisco Pedro Balsemão, diretor-executivo da Impresa, que detém Expresso e SIC, concordou que é excessivo o valor a pagar para marcar presença na TDT, mas também considera que o tema “merece uma discussão mais alargada”.

O facto de os contratos de fornecimento de conteúdos estarem ainda em vigor e de as operações da TDT serem regidas por mais de uma lei tornam o tema especialmente delicado, mas Morais Leitão não tem dúvidas de que já há vias alternativas mais eficazes para distribuir TV na atualidade – e dá mesmo o exemplo da tarifa social da Internet como uma solução que poderia ser levada em conta.

Uma coisa é certa: o mercado está mais populado de concorrência – em especial daquela que surge nos browsers ou apps, mas também a que ficou conhecida pela sigla OTT (de Over The Top) e que reforçou o papel de marcas como HBO e Netflix ou Disney.

Morais Leitão estima que 25% do mercado tradicional da TV passou para as mãos das grandes plataformas que chegaram à TV com a boleia da Internet. O responsável da Media Capital apontou como solução as parcerias, pois “não vale a pena concorrer com gigantes mundiais”. Francisco Pedro Balsemão prefere apontar para o objetivo de triplicar as receitas nas transmissões digitais (streaming), que têm na Opto a principal ponta de lança. E recordou que há 30 anos que os canais de TV portugueses têm de se reinventar – e nem as grandes plataformas de streaming como confirmam a inclusão de publicidade e o fim das partilhas de passwords na Netflix, o abandono de projetos e produções na HBO e a substituição de executivos na Disney. “Todos estão a reinventar-se”, refere o líder da Impresa.

Sobre a Opto, Balsemão admitiu perdas sem detalhar, mas recordou que o serviço de TV distribuído pelo cabo já fatura na ordem “dos seis dígitos”. Tanto o responsável da Impresa, como o da Media Capital confirmaram que já estão em curso parcerias com a Amazon Prime.

Francisco Pedro Balsemão, diretor executivo da Impresa, admite interesse em parcerias na área das transmissões digitais de TV
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Saiu de Nicolau Santos, presidente do Conselho de Administração da RTP, uma potencial solução para a concorrência às grandes plataformas: e se os três operadores se juntassem numa mesma plataforma?

O responsável da RTP admitiu a parceria tripartida tornaria “mais fácil” a concorrência que vem de fora, ao mesmo tempo que garante escala. Francisco Pedro Balsemão aproveitou a ocasião para logo dizer que a Opto está interessada em pensar nessa alternativa.

Antes disso, já Pedro Morais Leitão havia proposto que se criasse um operador de telecomunicações virtual especializado na disseminação de conteúdos produzidos em Portugal. “Os três operadores têm sido os motores da indústria audiovisual e alimentam uma indústria com artistas, autores, empresas”, referiu ainda Nicolau Santos.

A TV não está morta. É essa a mensagem que Francisco Pedro Balsemão aproveitou para passar em pleno Congresso. “Vamos continuar a ser os meios que chegam mais rapidamente a uma massa de pessoas tão grande”, diz.

Do mesmo modo que os conteúdos são estruturados para passarem por várias plataformas até chegar à TV, também a publicidade pode fazer o mesmo itinerário. O que não o impediu de olhar para o que se faz no país vizinho: durante 2021, o governo espanhol lançou um programa de 1,6 mil milhões de euros que tem em vista a captação de investimento estrangeiro, assim como a melhoria de leis e plataformas de distribuição.

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