Energia

Espanha sob suspeita de ter importado carvão russo, violando embargo da União Europeia

EDP quer deixar produção de eletricidade a carvão até 2025.
EDP quer deixar produção de eletricidade a carvão até 2025.
Alan Schein Photography / Getty Images

O porto espanhol de Gijón recebeu esta semana um navio carregado de carvão oriundo de Istambul. Mas segundo o portal Montel News, a verdadeira origem do carvão é o porto russo de Novorossiysk, no Mar Negro

Espanha sob suspeita de ter importado carvão russo, violando embargo da União Europeia

Miguel Prado

Jornalista

Espanha poderá ter violado o embargo europeu à importação de carvão da Rússia, ao ter descarregado um navio com carvão que vinha da Turquia, mas cuja origem inicial era um porto russo no Mar Negro, revela uma investigação do site especializado em energia Montel News.

De acordo com o Montel News, o porto espanhol de Gijón recebeu na última terça-feira o navio Sava, que descarregou 8800 toneladas de carvão. As autoridades portuárias espanholas apontam a Turquia como origem da embarcação, mas dados da empresa de monitorização de tráfego marítimo DBX indicam que o Sava carregou o seu carvão a 6 de abril no porto de Novorossiysk, no Mar Negro.

O navio fez uma escala de 16 horas entre 13 e 14 de abril em Istambul, mas os dados da DBX indicam que nessa paragem não houve carga nem descarga de mercadoria, e uma fonte ouvida pelo Montel News sublinhou que o porto onde o navio atracou não trabalha com cargas de carvão.

Em causa estará uma carga de antracite (um tipo de carvão usado, por exemplo, na metalurgia, e distinto da variedade usada nas centrais termoelétricas a carvão).

Um porta-voz da autoridade tributária e aduaneira de Espanha, contactado pelo Montel News, assegurou que foram levadas a cabo diligências para provar que a origem do carvão não estava ao abrigo de sanções.

O navio abandonou Gijón na quarta-feira, rumo a São Petersburgo, de acordo com os dados de monitorização de tráfego marítimo citados pelo mesmo site.

Em 2022, conforme o Expresso noticiou em março, a EDP chegou a importar da Rússia uma parte do carvão consumido pelas suas centrais termoelétricas (o grupo ainda tem esse tipo de geração em Espanha e no Brasil).

Depois de um hiato de dois anos sem carvão russo, este fornecedor assumiu em 2022 um peso de 10% no aprovisionamento da EDP (liderado pela Colômbia, com 58%). Mas a elétrica portuguesa assegurou ao Expresso que o carvão russo foi comprado através de um trader de origem suíça, e ainda antes do início da guerra na Ucrânia.

No seu plano de negócios a EDP comprometeu-se a abandonar a produção a carvão até 2025 (o que implicará fechar ou vender as centrais que tem no Brasil, com 720 megawatts, e em Espanha, com 1820 MW).

O carvão é um dos produtos russos que foram objeto de embargo pela União Europeia no ano passado, como sanção em resposta à invasão da Ucrânia. Fora das proibições ficou o gás natural: apesar de ter havido um compromisso dos Estados-membros para diversificar as origens de gás, as empresas podem continuar a importar esse combustível da Rússia.

A última vez que Portugal recebeu gás natural da Rússia foi em fevereiro, quando o terminal da REN em Sines acolheu uma carga de 1090 gigawatt hora (GWh) proveniente daquele mercado. Os dados da REN e do Porto de Sines não identificam qual o importador.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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