1 outubro 2008 0:00
7 fundos para a vida
Não necessita de muitos produtos de investimento para ter um portefólio completo. Conheça os únicos fundos de que precisa e equilibre a sua carteira
1 outubro 2008 0:00
Complicar é uma tendência natural das pessoas. Quando essas pessoas são simultaneamente investidores, parece que a complicação é um prazer. Como se quer o melhor que há para o dinheiro, é normal que o portefólio acabe engasgado em múltiplos activos, embora só alguns se revelem realmente um sucesso. Se tiver muitos investimentos na carteira, é natural que perca o rasto ao desempenho individual desses activos, além de ser mais difícil aferir no que está realmente a investir. Isso é fundamental para saber se o seu capital está no bom caminho - e para dormir descansado.
Em vez de complicar o seu portefólio, simplifique-o: basta ter alguns bons fundos de investimento e agarrar-se a eles durante muito tempo. Para lhe facilitar o trabalho, a Carteira seleccionou 7 produtos de confiança que necessitará nas várias fases da sua vida e na gestão dos seus objectivos financeiros.
Porque escolher gestores nacionais
Se está indeciso entre um fundo de acções gerido por uma sociedade gestora portuguesa e um semelhante da responsabilidade de um grupo estrangeiro, enviese-se para o nacional, porque o regime fiscal tende a ser particularmente simpático. Na prática, os gestores nacionais conseguem uma taxa de tributação inferior a 10 por cento no longo prazo, embora isso dependa muito da frequência da rotação da carteira e dos dividendos obtidos com os títulos; ora essa taxa é bastante mais competitiva que os 20 por cento de tributação sobre as mais-valias obtidas nos fundos estrangeiros (embora apenas seja aplicável na altura do resgate).
O BPI Reestruturações, um dos fundos mais recomendados pela Carteira e um dos seleccionados para este artigo, registou uma taxa de tributação média inferior a 8 por cento desde 2000. Para conseguir eliminar essa vantagem fiscal, um investidor tem de deter um fundo estrangeiro que renda o equivalente ao BPI Reestruturações durante 35 anos, assumindo a tributação média de 8 por cento.
Os fundos de obrigações ao abrigo do regime fiscal português também tendem a ser melhores que os estrangeiros, já que beneficiam da isenção de tributação sobre as mais-valias de obrigações. Contudo, esta regra é menos forte do que a dos fundos de acções, porque muitos gestores nacionais gostam de ficar com os títulos até à maturidade(deixando o ganho de ser considerado mais-valia) e porque a maior parte dos retornos são juros, que são tributados a 20 por cento.
Fundos cotados são alternativa
Há algum tempo que os fundos cotados (vulgarmente conhecidos por exchange-traded funds ou ETF) são uma alternativa sólida aos fundos tradicionais. A grande vantagem está nas baixas comissões de gestão: é fácil encontrar produtos que cobram 0,5 por cento do investimento por ano, quando as soluções tradicionais chegam a cobrar 3 por cento ou mesmo mais. Repare que, depois de subscrever um fundo, não sente a comissão de gestão, uma vez que ela é subtraída automática e progressivamente do seu investimento.
Apesar de serem baratos, os fundos cotados têm custos adicionais: como são adquiridos como se fossem acções, isto é, através de um intermediário financeiro numa bolsa, há lugar a comissões. É por isso fundamental escolher um banco ou uma sociedade corretora que exija pouco dinheiro nos negócios bolsistas e investir a pensar no médio ou no longo prazo, de forma a diluir os custos de negociação. Recorde que no artigo "Mais Barato Nem Sempre É Melhor", publicado em Abril, a LJ Carregosa, que opera com a marca GoBulling, e o Banco Best eram os intermediários financeiros mais baratos.
A maioria dos fundos cotados distribui dividendos periódicos - infelizmente. É que, além de isso também significar mais comissões do intermediário financeiro, os dividendos são tributados em 20 por cento, uma taxa superior à tributação das mais-valias, que é de 10 por cento.
Se ficou interessado nos fundos cotados, antes de avançar estude bem o mercado, já que as regras do jogo são ligeiramente diferentes das dos fundos tradicionais.
1
BPI Reestruturações
Fundo de acções mundiais
Não há dúvida que as acções devem absorver a maior parte de um portefólio de longo prazo: são os activos que mais rendem e o maior risco é minimizado à medida que os anos passam. Um bom fundo de acções é essencial, mas qual? Há variadíssimos tipos de fundos accionistas: da Europa, da China, do sector farmacêutico, das pequenas empresas, etc. Para evitar fazer uma selecção regional ou sectorial menos feliz, opte por um fundo que invista em todo o globo.
A Carteira é muitas vezes criticada por recomendar sucessivamente o BPI Reestruturações, o fundo de acções mundiais gerido pelo Banco BPI. A verdade é que ainda não tivemos qualquer razão para não o fazer. Não é possível encontrar outro produto que tenha rendido tanto com tão pouca volatilidade. Aliás, entre mais de uma centena de fundos de acções mundiais distribuídos na banca nacional, o BPI Reestruturações foi o que mais rendeu nos últimos 3 e 5 anos. Virgílio Garcia, ao leme desde o seu lançamento, é dos poucos gestores que aproxima o desempenho do quinquénio dos 9 por cento anuais.
O sector aurífero tem marcado a composição do BPI Reestruturações. Embora agora a exposição seja mais reduzida, 2 dos principais activos, os títulos da estado-unidense Royal Gold e da canadiana Kinross Gold, estão directamente ligadas ao ouro.
Contra o fundo do BPI, que é o maior fundo português de acções, estão as comissões de gestão e de depósito, que somam 2 por cento por ano. É o preço a pagar pelo bom desempenho do produto, que, além do Banco BPI, está à venda no ActivoBank7, no Banco Best e no Banco Big.
Alternativas: BNY Mellon Global Intrepid, BNY Mellon Global Equity
Rendibilidade | BPI Reestruturações | Categoria |
3 anos | 3,47% | -1,62% |
5 anos | 8,74% | 1,92% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. 5 de Setembro de 2008 |
2
BNY Mellon Pan European Equity
Fundo de acções da Europa
Não é fácil escolher o melhor fundo de acções europeias: há quase 300 produtos que investem exclusivamente em grandes firmas da Europa, segundo a Morningstar. Poucos sobressaem como o BNY Mellon Pan European Equity: enquanto que a concorrência se dirige para perdas bem superiores a 20 por cento no último ano, o produto gerido por Thomas Beevers perdeu cerca de 17 por cento. Os dedos das mãos chegam para contar os que perderam menos. Porém, no longo prazo, o produto da gestora BNY Mellon Asset Management, que resultou da fusão do Bank of New York e da Mellon Financial, dá cartas mais altas: desde Setembro de 2003 ganhou 6,50 por cento por ano, quase mais 2 pontos percentuais por ano que a média da concorrência. No último relatório, Thomas Beevers explicou que continua a proteger-se. No Verão, por exemplo, trocou as mais arriscadas acções da Telefónica pelo conforto dos títulos da France Télécom. Agora, as principais posições do seu fundo são ocupadas pelos papéis da farmacêutica Roche Holdings, da energética e.On e da operadora de telecomunicações Vodafone.
Alternativas: Invesco Pan European Structured Equity
Rendibilidade | BNY Mellon Pan European Equity | Categoria |
3 anos | 2,55% | -0,17% |
5 anos | 6,50% | 4,62% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. 5 de Setembro de 2008 |
3
Millennium Acções Portugal
Fundo de acções nacionais
Os investidores quererem ter algumas acções portuguesas é bastante comum. Porém, uma vez que a bolsa nacional é pequena e ilíquida, convém não ter uma grande fatia da carteira nestes títulos. O Millennium Acções Portugal, um fundo distribuído pelo ActivoBank7 e pelo Millennium bcp, é um bom produto para acompanhar o mercado accionista luso. Em todos os principais prazos de análise, o fundo gerido pela F&C Portugal bateu a concorrência.
O grande facto contra o fundo do Millennium bcp é uma comissão de subscrição de 0,5 por cento, a única entre a concorrência. Contudo, essa comissão está suspensa até ao final de Abril de 2009. Pode ser que, até lá, os responsáveis do Millennium bcp alarguem o período de suspensão. É também preciso ter atenção à comissão de resgate, que pode ir até 2 por cento do capital sacado. Se quer investir neste produto, garanta que não necessitará do dinheiro antes do investimento celebrar 2 anos. Só assim evita a comissão de saída.
Tal como a maioria dos fundos de acções nacionais, a maior aposta da F&C Portugal são os títulos da Galp Energia, que representam praticamente um décimo da carteira do fundo. A surpresa está no segundo maior activo: acções da Toyota Caetano Portugal, importador da marca Toyota e fabricante de autocarros.
Alternativas: Santander Acções Portugal, BPI Portugal
Rendibilidade | Millennium Acções Portugal | Categoria |
3 anos | 8,41% | 3,29% |
5 anos | 13,53% | 10,34% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. 5 de Setembro de 2008 |
4
Franklin European Small-Mid Cap Growth
Fundo de acções de pequenas e médias empresas da Europa
O normal é as acções das pequenas sociedades sofrerem mais em períodos de queda do mercado. Quanto menor for a empresa, mais sensível é aos humores da macroeconomia. Contudo, a actual queda é especial: são os grandes bancos que conduzem o afogamento dos títulos, ficando as pequenas firmas mais próximas da tona.
Também é normal que, no longo prazo, as acções de pequenas firmas ganhem mais, justiicando o seu risco superior. A prová-lo está o desempenho que ultrapassa os 10 por cento por ano ao longo da última década alcançado por alguns produtos que investem em exclusivo em títulos de pequenas e médias empresas europeias. O Franklin European Small-Mid Cap Growth, disponível no Banco Best, ainda não celebrou o quinto aniversário, mas já deu a mostrar um grande potencial de longo prazo. Edwin Lugo, o gestor responsável, procura sociedades europeias de dimensão reduzida mas que possam crescer muito. O maior activo do fundo da Franklin Templeton são as acções da Neteller, uma companhia britânica do mercado de transferências de dinheiro, que vale pouco mais de 100 milhões de euros.
Alternativas: Fidelity European Dynamic Growth
Rendibilidade | Franklin European Small-Mid Cap Growth | Categoria |
3 anos | 5,19% | 0,24% |
5 anos | n.a. | 9,72% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. n.a.= Não aplicável. 5 de Setembro de 2008 |
5
Lyxor ETF EuroMTS 1-3Y
Fundo de obrigações soberanas da Zona Euro
Os fundos tradicionais são cavalos de corrida: os gestores tentam cavalgar à frente de toda a concorrência. Porém, tal como os esteróides aplicados aos cavalos podem ter efeitos nefastos, a busca de rendibilidades superiores também pode afectar negativamente o desempenho dos fundos. No segmento obrigacionista, isso é claro.
Para conseguirem ganhar mais, muitos gestores de fundos de obrigações apostaram em emissões estruturadas, isto é, títulos bastante mais complexos do que as tradicionais obrigações, que pagam um juro numa base frequente e que devolvem o capital na maturidade. A falta de liquidez do mercado levou a que os preços de muitas obrigações estruturadas caíssem: o que antes garantia um desempenho superior aos fundos é agora responsável por quedas brutais.
Como escolher agora um fundo de obrigações? Nesta altura é muito difícil confiar num gestor e numa carteira de obrigações que não sejam soberanas. Por isso prefira um fundo cotado como o Lyxor ETF EuroMTS 1-3Y: está disponível na bolsa de Paris, negoceia em média cerca de 1,7 milhões de euros por dia e a carteira é composta por títulos de dívida pública da Zona Euro com maturidade entre 1 e 3 anos. Como replica um índice, não é possível o gestor cometer erros.
No último ano, o Lyxor ETF EuroMTS 1-3Y rendeu 3,74 por cento. Como não distribui dividendos, isso significa que deu um retorno líquido de 3,37 por cento, um valor que bate todos os fundos de obrigações geridos em Portugal, com a excepção do BPI Euro Taxa Fixa. Aliás, se quiser mesmo comprar um fundo gerido activamente, opte por este produto: há 2 anos que a sua carteira é composta exclusivamente por títulos de dívida pública.
Alternativas: BPI Euro Taxa Fixa
Rendibilidade | Lyxor ETF EuroMTS 1-3Y | Categoria |
3 anos | 2,19% | 0,40% |
5 anos | n.a. | 2,02% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. n.a.= Não aplicável. 5 de Setembro de 2008 |
6
Lyxor ETF Inflation Linked
Fundo de obrigações soberanas indexadas à inflação
Se quiser proteger-se apenas do efeito corrosivo do aumento de preços no médio ou no longo prazo, o ideal é ter um investimento que tenha uma rendibilidade indexada à taxa de inlação. Porque não comprar um fundo que investe em obrigações que pagam cupões ligados à inflação da Zona Euro?
Tal como na categoria anterior, também aqui fica bem servido com um fundo cotado que replique um índice de obrigações soberanas indexadas à inflação. Uma das melhores apostas é o Lyxor ETF Inflation Linked: está listado em Paris, não distribui dividendos e transaccionam-se 1,5 milhões de euros destes títulos por dia.
Os responsáveis pelo fundo investem em títulos de dívida pública da Zona Euro que paguem cupões que dependam do nível da inflação. Por exemplo, o maior activo do Lyxor ETF Inflation Linked é uma obrigação soberana francesa indexada ao índice de preços no consumidor, excepto tabaco, da Zona Euro. A variação de 4,1 por cento deste índice explica uma grande parte da rendibilidade de 6,60 por cento no último ano do fundo Lyxor, que se traduz num ganho líquido de 5,94 por cento. Quando comparado com os fundos tradicionais que investem em obrigações indexadas à inflação, apenas o Schroder Global Inflation Linked Bond apresenta um desempenho ligeiramente melhor.
Porém, se quiser ir pela via dos fundos tradicionais, é melhor escolher o menos arriscado Credit Suisse BF Inflation Linked (Euro), que rendeu 4 por cento depois de pagar os impostos.
Alternativas: Credit Suisse BF Inflation Linked (Euro)
Rendibilidade | Lyxor ETF Inflation Linked | Categoria |
3 anos | 1,07% | 0,64% |
5 anos | n.a. | 2,84% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. n.a.= Não aplicável. 5 de Setembro de 2008 |
7
SGAM FMM Euro
Fundo de tesouraria
Já não é preciso muita sorte para encontrar um depósito a prazo que lhe dê uma taxa equivalente à Euribor, actualmente cerca de 5 por cento (ou 4 por cento líquidos de impostos). Se bater a algumas portas de bancos, rapidamente encontrará essas taxas luxuosas. O mal de uns é o bem de outros: os bancos estão "enrascados" com falta de dinheiro e estão dispostos a pagar-lhe bem pelo seu. Quanto mais tiver, mais lhe pagam. Naturalmente, quando as instituições financeiras estão com dificuldade em amealhar liquidez, a probabilidade de uma falir é mais elevada, isto é, o depósito a prazo é mais arriscado. Recorde que os depósitos são garantidos, mesmo em caso de falência da banco, até ao valor máximo de 25 000 euros por depositante.
Se consegue cerca de 4 por cento líquidos nos depósitos a prazo, para que servem os fundos de tesouraria, que renderam em média menos de 3 por cento? Para nada. A única vantagem que os fundos de tesouraria têm face aos depósitos é que pode retirar o dinheiro em qualquer altura. Se retirar capital de um depósito a prazo antes de atingir o vencimento, é provável que perca uma grande parte dos juros.
Apesar de os depósitos a prazo renderem mais, é sempre bom ter um fundo de tesouraria debaixo de olho, porque as elevadas taxas de juro oferecidas pelos bancos não vão durar para sempre. Antes de constituir um depósito a prazo deve sempre verificar quanto é que os fundos de tesouraria têm rendido.
Não é muito complicado escolher um fundo de tesouraria: basta obter uma lista de rendibilidades da categoria e escolher um dos que mais rendeu no último ano. Como os fundos de tesouraria são destinados às necessidades de poupança de curto prazo (até 1 ano), é provável que os produtos que mais renderam no último ano sejam os que mais renderão no próximo. No pesquisador de fundos do sítio da Carteira, procure na categoria de "mercado monetário euro". Verá que o SGAM FMM Euro, distribuído pelo ActivoBank7 e pelo Banco Best, é um dos melhores do mercado: ganhou 3,31 por cento no último ano.
Alternativas: Fidelity Euro Cash, Invesco Euro Reserve, Schroder Euro Liquidity, Parvest Short Term (Euro)
Rendibilidade | SGAM FMM Euro | Categoria |
3 anos | 2,48% | 2,01% |
5 anos | 1,98% | 1,69% |
Fonte: CMVM, Morningstar. Rendibilidade anualizada líquida de impostos. 5 de Setembro de 2008 |