Estratégias

Fórmulas para fazer bons investimentos

20 julho 2009 12:35

Rute Marques

Fórmulas para fazer bons investimentos

A carteira.pt pediu a 3 especialistas que apreciassem 6 rácios financeiros ou de mercado. Conheça os veredictos

20 julho 2009 12:35

Rute Marques

Escolher uma empresa para investir na bolsa não é tarefa fácil, é preciso ter em conta vários factores para aferir se essa companhia é merecedora ou não do seu dinheiro. É certo que não existem fórmulas mágicas, mas há técnicas que podem facilitar a tomada de decisão, mesmo para os investidores "não financeiros", como a utilização dos rácios financeiros ou de mercado. Os especialistas consideram estes indicadores importantes para a leitura e interpretação da saúde financeira das empresas, mas avisam: devem ser utilizados como base de apoio para uma decisão adequada e complementados com outras técnicas.

Michael Castelhano, responsável pela área de formação do Banco Best, exemplifica que "muitas das estratégias bottom-up ou de stock picking baseiam-se sobretudo na escolha de empresas com boas perspectivas futuras, pelo que este tipo de análise enquadra-se perfeitamente no tipo de estratégias mencionadas". No entanto, é preciso "alguma prudência" na utilização dos rácios, diz João de Deus, senior sales trader e analista da sociedade corretora DIF Broker, "sob pena de se tirarem conclusões incorrectas ou mesmo com pouco significado". Mas, "não são uma bola de cristal" acrescenta o especialista da DIF Broker.

Pontos fortes e fracos

Na opinião dos especialistas consultados, os rácios financeiros têm vantagens e desvantagens. Por um lado são "mais intuitivos e objectivos", explica o especialista do Banco Best, pois condensam uma grande quantidade de informação complexa de forma simples e sucinta. Para além de serem um bom indicador da saúde financeira de uma companhia, permitindo comparações entre empresas. Por outro, constituem uma análise quantitativa que se baseia em dados históricos e não tendo em conta os dados qualitativos, como por exemplo a capacidade da equipa de gestão ou a qualidade dos seus produtos, e também não avaliam as condicionantes sectoriais, o ambiente económico e até as diferentes práticas contabilísticas.

6 Rácios a escrutínio

O carteira.pt pediu a 3 especialistas que abordassem os prós e contras de 6 rácios utilizados na escolha de acções. Conheça o veredicto

Rácios Vantagens Desvantagens
P/L Permite comparar empresas do mesmo sector Tem limitações na comparação entre sectores. Além disso, depende da política de provisões da empresa, o que pode enviesar a comparação
P/VC É importante em alturas de fortes quedas, pois permite detectar boas oportunidades de entrada no título, quando a cotação cai para valores perto do Valor Contabilistico (caso recente do BCP a 60 cêntimos). É um indicador mais estático e contabilístico, não considerando uma dinâmica de mercado e crescimento
VE/RO Bom para analisar o core business da empresa Peca pela falta de informação ao nível dos custos financeiros e política fiscal a que está sujeita.

Endividamento É um bom indicador para avaliar a capacidade de endividamento Carece de informação relativamente aos projectos de destino da dívida. Saber se a dívida vai gerar resultados acima dos custos do financiamento é importante. Visto isoladamente pode ser um mau indicador de endividamento. Hoje em dia, é desejável ter empresas com baixo nível de endividamento.

RCP É o indicador chave de um investidor de longo prazo, com uma posição estratégica na empresa Pouco útil para trading
Liquidez imediata É uma fotografia das exigibilidades de curto prazo, dando uma ideia da capacidade da empresa gerar liquidez Deve ser considerado em conjunto com outros rácios de carácter menos contabilístico, que permitam aferir o destino dessa liquidez

Quando chega a altura de escolher o rácio que melhor retrata a situação da empresa e se esta constitui um bom investimento, a resposta é unânime: quanto mais rácios estudar, mais rica é a análise. Apenas Miguel Gomes Silva, head of treasury department do Montepio, optou pelo P/L aliado ao Endividamento e explica porquê: "o P/L permite-me, em princípio, comprar uma empresa mais barata face às congéneres. Nos tempos que correm é importante também avaliar o nível de alavancagem do negócio, como tal é importante ter em conta o Endividamento".

Afinal há outros

Para além dos rácios mencionados, os especialistas indicaram outros que consideram fundamentais para melhorar a análise do investmento. João de Deus sublinha a importância do P/FC (PCF em inglês, de Price Cash-Flow), pois dita "a verdadeira capacidade de a empresa gerar dinheiro, revelando a parte que cabe a cada acção". Mas alerta para o facto de não poder "ser considerado lucro, pois tem que se lhe descontar as amortizações e as provisões mas, de qualquer maneira, indica a capacidade de gerar lucro". Este profissional Indica ainda o RCP\ROV (Rentabilidade dos Capitais Próprios/Rentabilidade Operacional das Vendas), que revela "o que a empresa ganha num ano, depois de descontar amortizações de equipamento, pagar despesas e o imposto sobre os resultados.

Miguel Gomes da Silva é adepto do RLA (Resultado Líquido por Acção ou Earnings per Share [EPS]), pois "dá uma ideia da capacidade da empresa em gerar resultados para o accionista" e da Taxa de Dividendo (Dividend Yeld), que "em momentos de crise, sobressai face a outros indicadores". Este indicador permite "comparar os rendimentos obtidos com acções com os rendimentos obtidos por outros produtos de menor risco, como os Certificados de Aforro ou Obrigações de Tesouro", diz Michael Castelhano. Para ilustrar a importância deste rácio nos tempos que correm, o especialista do Banco Best afirma que "em 2009, a rendibilidade auferida pelos dividendos superou a rendibilidade obtida num investimento em obrigações (bond yield), facto que já não acontecia há 50 anos".

Mas... e o futuro?

A análise histórica da empresa é importante, mas fundamental é saber qual o futuro que lhe está reservado. Para fazer uma análise financeira previsional o investidor precisa de ter capacidade para prever a evolução das diferentes componentes dos documentos financeiros e estar atento aos passos dados pela administração, no sentido de saber se os pressupostos das previsões estão em sintonia com a estratégia da companhia.

"Caso tenhamos confiança nas análises previsionais dos analistas, podemos assim replicar todos os rácios existentes, mas a nível previsional, o que representa um enorme valor acrescentado em termos da análise", diz Michael Castelhano, "o difícil será arranjar uma base comum de previsão, uma vez que cada agente de mercado apresenta para cada empresa uma expectativa completamente diferenciada, gerando por isso previsões de intervalos muito abrangentes". Por exemplo, se acreditar nos analistas que seguem uma determinada empresa, o P/L estimado pode revelar para onde vão os lucros de uma companhia nos tempos mais próximos.