Boas e Baratas

Boas & Baratas: Estratégia factura 110% em 6 anos

1 setembro 2009 0:00

David Almas

Boas & Baratas: Estratégia factura 110% em 6 anos

A selecção automática de acções mais do que duplicou o investimento desde 2003

1 setembro 2009 0:00

David Almas

Desistir é fácil, mas não rende. Muitos investidores sentiram-se tentados a abandonar a bolsa quando a volatilidade aumentou. Quem tivesse seguido a última carteira de Boas & Baratas, formada há um ano, e desistisse no pico da instabilidade, no início de Março, teria registado uma perda superior a 40%, em linha com os índices accionistas europeus. O pânico fala alto, mas é possível controlá-lo. Se tivesse ficado com a dúzia de títulos recomendados no início de Setembro de 2008, teria recuperado uma boa parte da desvalorização que se registava em Março: a última selecção de Boas & Baratas terminou agora o seu reinado com uma perda de 11,70%, vários pontos percentuais melhor do que os índices europeus e norte-americanos.

Apesar da queda, a estratégia Boas & Baratas, que confia apenas nas cotações e nos dados financeiros das empresas para sinalizar os melhores títulos, continua a exibir um ganho de longo prazo invejável: 110,31% desde 29 de Agosto de 2003, ou seja, o portefólio de Boas & Baratas, revisto anualmente no primeiro de Setembro, cresceu a um ritmo anual de 13,16%. Contam-se pelos dedos das mãos os fundos de investimento que conseguiram melhor, a começar pelo BlackRock Latin America, que valorizou mais de 200% nos últimos 6 anos, mesmo depois de subtrair os impostos.

Resistentes à queda

As Boas & Baratas de 2009 conseguiram um desempenho superior aos índices de referência

Acções Rendibilidade Comentário
Boas
KPN -1,67% Reviu em baixa as estimativas de receitas de 2009 e 2010
Man -16,02% Espera queda nas encomendas de camiões em 2010
National Bank of Greece -21,92% Fez um aumento de capital com sucesso
Semapa -5,73% Credit Suisse vendeu quase 20% do capital
Baratas
AES -8,55% Aumentou a previsão de lucros de 2009
Cemig -8,36% Andou às compras no Brasil
EDP Renováveis -0,72% Reforçou presença no Brasil e entrou na Roménia
El Paso -42,42% Participou em plano de 1000 quilómetros de gasodutos nas Montanhas Rochosas
Boas & Baratas
Daimler -19,56% Aumentou o capital em 10% por entrada do governo de Abu Dhabi
Deutsche Lufthansa -17,47% Aprovação da compra da Austrian Airlines pela União Europeia esteve difícil
Mota-Engil -3,19% Criou Mota-Engil Angola em parceria com Sonangol
Petro-Canada* -1,71% Saiu de bolsa depois de fusão com Suncor Energy
Carteira -11,70%
Fonte: Bloomberg, Carteira. Rendibilidade entre 29 de Agosto de 2008 e 31 de Agosto de 2009. Inclui reinvestimento dos dividendos. Não inclui comissões de corretagem. *Até à saída da bolsa

Originais continuam a bater concorrência

Se os 110,31% da estratégia de referência das Boas & Baratas, cuja carteira muda todos os Setembros, o surpreendem, então saiba que as Boas & Baratas originais, aquelas que foram recomendadas em Setembro de 2003, renderam 150,20% em 6 anos. Apesar da forte desvalorização do último ano, a ArcelorMittal, que acumula um ganho de 565,61%, continua a ser a líder.

É importante perceber que o portefólio original sofreu alterações: depois de sete das sociedades recomendadas terem sido alvo de ofertas públicas de aquisição, a carteira ficou reduzida a nove títulos. A última OPA concretizou-se em Agosto de 2008, quando a norte-americana Staples adquiriu a holandesa Corporate Express, especialista em material de escritório.

A Carteira segue o portefólio inicial das Boas & Baratas porque defende que os investidores devem comprar acções a pensar no longo prazo. É um excelente exemplo do sucesso de um investimento multianual. Contudo, os investidores que queiram começar a seguir a estratégia das Boas & Baratas devem preferir os títulos seleccionados mais recentemente.

Recordistas de ganhos

Depois de 7 ofertas públicas de aquisição, as Boas & Baratas originais estão reduzidas a 9 títulos. Em 6 anos ganharam 150%

Acções Rendibilidade
Boas
Simco* 22,10%
Entenial* 6,70%
Kaufman & Broad* 467,20%
Novabase -18,24%
Hôtelière Lutétia Concorde* 32,10%
Neopost 91,65%
Baratas
KLM* 52,30%
ArcelorMittal 561,62%
Athlon Holding* 191,79%
Corporate Express* 41,21%
Sonae SGPS 221,21%
Teixeira Duarte 43,86%
Boas & Baratas
Ahold 15,86%
DSM 53,87%
Portucel 82,85%
Mota-Engil 181,11%
Carteira 150,20%
Fonte: Bloomberg, Carteira. Rendibilidade entre 29 de Agosto de 2003 e 31 de Agosto de 2009. Inclui reinvestimento dos dividendos e dos resultados das ofertas públicas de aquisição. Não inclui comissões de corretagem. *Rendibilidade até à data da oferta pública de aquisição

Como fazemos as contas

O cálculo das rendibilidades das carteiras das Boas & Baratas é muito simples: basta que tenha a série de cotações, os valores e as datas dos dividendos distribuídos e, eventualmente, o preço de saída da bolsa, caso alguma empresa seja alvo de uma OPA ou esteja envolvida numa fusão. Vários sítios, como o Yahoo! Finance e o Google Finance, divulgam esta informação, por isso qualquer leitor pode fazer as contas.

Se as companhias não distribuírem os dividendos, a rendibilidade dos títulos é apenas a variação das cotações entre a data de início e a data final (neste ano, entre 29 de Agosto de 2008 e 31 de Agosto de 2009). Porém, caso haja dividendos, considera-se que o montante recebido é aplicado na compra de mais acções da empresa que os pagou. Além disso, se for realizada uma OPA, a receita da operação é aplicada na compra de acções das restantes Boas & Baratas.

A matemática apenas peca por não se considerar os custos da intermediação financeira (as comissões que é preciso pagar para comprar e vender acções, receber dividendos e guardar os títulos) e os impostos. Contudo, para os pequenos investidores, os impostos são pouco relevantes: quem investe a mais de um ano não paga IRS sobre as mais-valias, por isso só tem de se preocupar com os impostos sobre os dividendos.

Agora que já sabe como correu a estratégia Boas & Baratas nos últimos 6 anos, avance para a selecção de 2010. Comece pelas "boas".