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Um polvo de cimento

1 setembro 2008 0:00

Nuno Alexandre Silva

Um polvo de cimento

São tantos os tentáculos da Cimpor que têm crescido para os emergentes que as ameaças do mercado ibérico já pesam menos na actividade do grupo

1 setembro 2008 0:00

Nuno Alexandre Silva

Se o banco suíço UBS aconselha os seus clientes a vender os títulos da Cimpor enquanto outras casas de investimento, como o Millennium bcp, recomendam a compra, só há uma certeza: alguém estará errado no futuro próximo. Com o momento de incerteza que se vive nos mercados financeiros, os investidores ficam ainda mais confusos com as diferentes orientações para as mesmas acções. A grande discórdia está no efeito "Espanha". O touro espanhol da construção residencial abrandou fortemente e a procura de cimento já desceu 16 por cento no primeiro trimestre. "Estimamos que o consumo de cimento baixe 18 por cento na Espanha em 2008", aponta Ignacio Sanz na última nota do UBS sobre a cimenteira portuguesa que se fundamenta na convicção de que "a construção no sector residencial espanhol está a viver uma correcção mais forte e rápida do que o que estava antecipado".

A possibilidade da Cimpor vir a sofrer com a fraca procura no seu segundo mercado mais importante depois de Portugal, fez baixar o preço-alvo dos suíços para as acções nacionais em 16 por cento, para os 4,40 euros, mas a crise em Espanha tem sido sinónimo de aumento da capacidade de produção. A empresa portuguesa, presente em 13 mercados espalhados por 4 continentes, adquiriu através das subsidiárias espanholas 3 novas unidades de produção de cimento e a totalidade do capital de uma outra empresa que possuía também outras 3 fábricas, investindo 15,5 milhões de euros. João Mateus, analista do Millennium bcp, explica que, "com a menor procura de cimento em Espanha, as importações serão as primeiras a serem cortadas face à alternativa de encerramento de fábricas no país" e acredita que "aumentando a capacidade, a Cimpor pode vender a sua produção de Espanha e não precisa de importar de outras zonas, podendo até aumentar as margens".

Se Espanha é ainda o segundo mercado mais importante para o volume de negócios da cimenteira, o Brasil caminha a passos largos para poder lutar pela posição no grupo. Até 2011 o grupo vai investir 158,5 milhões de euros para fazer crescer a produção em 30 por cento, mas os preços de venda baixos não têm permitido margens maiores, ainda que as quantidades vendidas estejam a aumentar naquele que é apenas mais um dos muitos mercados fora da Europa e no coração das economias emergentes. Problemas estão a vir da Turquia, uma das regiões que levou os analistas do Banco Português de Investimento a retirarem 6 por cento do valor da acção nas suas previsões.

Bons indicadores

Estar em zonas como a Índia e a China, 2 dos países de um continente onde se produz 70 por cento do cimento mundial, abre boas perspectivas para o futuro da Cimpor, mas as acções da empresa têm seguido a queda do mercado. A transaccionar num valor que é 10 vezes superior aos lucros e com uma taxa de dividendos superior a 5 por cento, os títulos do grupo que tem como principais accionistas a construtora Teixeira Duarte e a sociedade Manuel Fino, principal detentora da Soares da Costa, têm um potencial de valorização médio superior a 54 por cento para os próximos 12 meses entre os analistas.

Para João Mateus há ainda mais sumo quando se espreme a Cimpor.

"O facto de estar mais concentrada a montante, produzindo e comercializando cimento, dá-lhe margens maiores e estando mais concentrada nos emergentes consegue atingir prémios mais atractivos face a outras cimenteiras que se centram apenas na Europa ou numa região", indica o especialista que revela ainda que o potencial brasileiro não está todo incluído nas projecções do Millennium bcp.

Do lado dos riscos, a maior aposta na eliminação da poluição por parte da União Europeia tem levado a Cimpor a adquirir licenças para emissões de dióxido de carbono, o que pode empurrar a indústria do cimento cada vez mais para os países com políticas menos limpas.