Depois do rali, vem a realidade

A tendência de subida do índice de referência para os mercados emergentes, o MSCI Emerging Markets, está a chegar ao fim. De acordo com dados compilados pela Bloomberg, o nível de vendas a descoberto, ou short-selling, sobre o fundo cotado iShares MSCI Emerging Markets Index, aumentou 51 por cento em Março, a maior subida mensal dos últimos 2 anos.

"Ainda não saímos da mata", disse à Bloomberg Eric Conrads, um gestor de hedge funds do banco ING Investment Management, no México. Este mês, Conrads começou a apostar forte na queda dos preços das acções de mercados emergentes convencido que a recuperação recente foi um ressalto em plena tendência de queda - bearish. O gestor acredita que o índice MSCI Emerging Markets pode recuar 10 por cento, depois de ganhar 32 por cento desde o dia 2 de Março, quando atingiu o valor mais baixo de 2009.

No mês passado, as posições curtas sobre as acções cotadas na New York Stock Exchange (NYSE) aumentaram 11 por cento, para 4,23 por cento do total das acções disponíveis na praça. Amanhã, a NYSE divulgará o peso das posições curtas tomadas até meados de Abril.

Acções mais vendidas

O aumento das posições curtas atingiu empresas desde o Brasil a Taiwan. Na petrolífera Petrobras, por exemplo, as vendas a descoberto aumentaram 61 por cento, chegando a 1,4 por cento do total de acções cotadas, e na AU Optronics, a terceira maior fabricante mundial de ecrans de cristais líquidos, o aumento foi de 26 por cento para 1,5 por cento do total de acções disponíveis. Em Março, as acções destas companhias valorizaram 9,9 e 17 por cento, respectivamente.

As acções valorizaram demasiado rápido desde o início de Março devido ao optimismo sobre os resultados, explicou à Bloomberg Martin Herbon, um gestor de activos latino-americanos da Union Capital Group. Segundo um relatório publicado pelo Citigroup a 15 de Abril, os lucros das empresas cotadas no índice MSCI Emerging Markets deverão cair, em média, 26 por cento em 2009. O mesmo documento diz que as empresas brasileiras deverão assistir a uma quebra de 37 por cento nos lucros de 2009, enquanto nas empresas cotadas na praça de Taiwan deverão ver os lucros cair, em média, 29 por cento, a maior correcção de resultados esperada entre todos os mercados asiáticos considerados emergentes. O MSCI Emerging Markets cota actualmente com um rácio P/L (preço÷lucros de 12 meses por acção) médio de 11,4x, o valor mais elevado dos últimos 9 meses.

Sinais falsos?

Os dados históricos dizem que, sempre que existe um aumento das posições curtas superior a 25 por cento no fundo cotado iShares Emerging Markets, o índice de referência mundial de acções de mercados emergentes cai em média 1,6 por cento por mês nos 3 meses seguintes. Porém, já houve situações em que um aumento das vendas curtas não deu origem a um decréscimo de valor do índice, como em Setembro de 2006 e Março de 2007, quando as posições curtas aumentaram 41 e 59 por cento e o índice ganhou 16 e 19 por cento no trimestre seguinte.

Mark Mobius, o carismático gestor de fundos de acções de mercados emergentes da Templeton Asset Management, é um dos especialistas que não acredita em novos mínimos. Segundo declarações recentes do gestor à Bloomberg, "o actual rally é o início de um novo bull-market. Mas, como diz Herbon, "os preços das acções subiram, mas os lucros estimados para 2009 ainda têm que ser revistos". "Ainda é cedo para um rali", disse Herbon. Uma opinião similar à de Jason Hepner, um gestor da Standard Life Investments que, baseando-se nas últimas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) diz ser ainda cedo para comprar acções de mercados emergentes uma vez que a economia mundial ainda irá deteriorar-se mais, até ao final do ano. "Estamos concentrados em encontrar sinais claros de que o mercado já atingiu o fundo. Só depois de os encontrar é que ficaremos positivos em relação às acções de meracdos emergentes".