13 julho 2010 20:30
Para os investidores no mercado de ações, a notícia de corte de rating pela Moody's não trouxe novidade, mas se o cenário de outros cortes se repetir quem precisa de financiamento pode vir a ter que pagar mais pelos empréstimos bancários.
13 julho 2010 20:30
O que é que uma empresa que está sediada a mais de cinco mil quilómetros de distância tem a ver com o seu dinheiro? Provavelmente, mais do imagina. A agência de notação de risco e serviços financeiros norte-americana Moody's é apenas uma das três grandes empresas que define a qualidade da dívida de empresas e países, indicando ao mercado a qualidade do devedor que enfrentam em caso de empréstimo. O corte de notação de risco (rating) realizado hoje por parte da Moody's depois, de ter colocado a dívida com uma perspetiva negativa, pode significar um aperto no crédito aos portugueses, se o cenário recente se repetir.
Em março deste ano a Fitch, outra das grandes empresas de rating, reduziu a qualidade da dívida soberana portuguesa e em Abril foi a Standard & Poor´s a elevar o risco português, cortando dois níveis na sua classificação atribuída à qualidade da dívida nacional de longo e curto prazo. Quem mais sentiu os efeitos foram os aspirantes a novos proprietários de habitações com recurso a empréstimos bancários. Para se ter uma ideia, desde abril até o início de julho onze dos 14 maiores bancos a operar em Portugal fizeram subir as suas margens de juros, com os spreads mínimos de bancos como CGD, BPI, BES ou Millennium bcp a subirem entre os 20% e os 50% e, em alguns casos, como o do Barclays, a mais do que triplicar, passando dos 0,35% para os 1,15%.
Num empréstimo a 30 anos, num montante de € 150 mil, e simulando o caso em que a Euribor se mantinha estável nos 2% durante o contrato, a diferença entre um spread de 1% e 1,5% pode significar pagar quase mais € 15 mil por uma habitação nova.
Mercado bolsista antecipou-se
Para quem possui ações de empresas portuguesas, a notícia do corte de rating fazia temer o pior. O corte de dois níveis na qualidade da dívida, passando de "Aa2" para "A1", justificada pelo enfraquecimento da solidez financeira do governo português e pela debilidade de perspetivas de crescimento para a economia portuguesa levantaram a memória de cortes de rating anteriores por parte da Fitch e da S&P que fizeram o índice português, o PSI-20, desvalorizar-se 1,03% e 5,36% respetivamente. No entanto, a secção de hoje foi positiva para a bolsa portuguesa, tendo acabado a sessão com o índice a valorizar 0,10%.
Embora possa parecer uma surpresa o facto de as ações não se terem desvalorizado como anteriormente, "a reação do mercado em relação ao corte veio demonstrar que o mesmo já tinha descontado este tipo de notícia", de acordo com João de Deus, advisor da corretora Dif Broker. O momento escolhido pela agência é criticado dado que "o corte do rating por parte da Moody's vem numa altura em que o sentimento já é algo contraditório, porque hoje o maior investidor em divida pública do mundo (a China) acabou por dar um voto de confiança em relação aos planos que estão a ser adotados na Europa, investindo mil milhões de dólares em obrigações espanholas".
No entanto, isto não significa que o mercado esteja imune a notícias, visto que o mesmo "está muito atento aos dados que vão saindo sobre as economias que demonstram se estas estão ou não em crescimento, acabando por aumentar a volatilidade do mesmo". Este "aumento da volatilidade está centrado na eventualidade de as grandes economias desenvolvidas entrarem novamente em recessão acabando por arrastar as economias emergentes, prejudicando desta forma os resultados das empresas no longo prazo", alerta João de Deus.
Para as empresas financeiras esta também não parece ser uma surpresa negativa. Para o analista "este corte não foi nenhuma novidade para o mercado ou para o setor financeiro porque das três agências de notação, a Moody's tinha sido a única que ainda não tinha efetuado um corte no rating". BES, BCP e BPI seguem a perder mais de 20% do seu valor em bolsa desde o início de 2010, embora os preços-alvo dos analistas financeiros compilados pela Bloomberg indiquem que as ações dos três bancos possam ter ganhos entre os 22% (do BPI) e os 38% (do BCP), nos próximos meses.