Economia

Arnaut em junho: "Salgado deixa um banco sólido em que se pode confiar"

19 janeiro 2015 16:38

Expresso

José Luís Arnaut estava já na Goldman Sachs quando elogiou "o legado de Ricardo Salgado" e afirmou que "o BES é um banco profundamente estável". A Goldman financiou depois o BES e, um mês depois, o banco colapsou. Leia na íntegra o que disse Arnaut à Antena 1.

19 janeiro 2015 16:38

Expresso

As declarações ao Conselho Superior da Antena 1 são recuperadas no dia em que o Wall Street Journal noticia que José Luís Arnaut interveio no empréstimo da Goldman Sachs ao BES um mês antes do seu colapso. 

Considerando como "fait-divers societários e familiares" o que se passava no grupo Espírito Santo, José Luís Arnaut afiançava: "o BES é um banco profundamente estável", é um banco "robusto, com capitais, um banco credível".

Mais: "Esta robustez, o facto de o banco estar imune às questões da sociedade e do grupo societário, esse facto é o grande legado que Ricardo Salgado nos deixou. E deixa um banco sólido que se pode confiar." Aliás, "nós temos a sorte de ter em Portugal um sistema financeiro muito robusto", dizia. 

Estávamos a 23 de junho de 2014, o BES tinha concluído um aumento de capital de mil milhões de euros e Ricardo Salgado tinha anunciado a sua sucessão por Amílcar Morais Pires, sucessão que nunca viria a acontecer, depois de o Banco de Portugal se mostrar contra a substituição de Salgado pelo seu braço direito: seria Vítor Bento o último presidente do BES e, transitoriamente, o primeiro do Novo Banco. O Banco de Portugal, recorde-se, também dizia que o BES estava sólido e que o "ring fencing" do banco aos problemas do GES estava garantido.

José Luís Arnaut era já nesta altura membro do comité de aconselhamento internacional da Goldman Sachs, banco que se tornou acionista relevante do BES com 2,27% do seu capital precisamente nesta altura, aprovando um empréstimo de 835 milhões de dólares que pode ser dado como parcial ou totalmente perdido, uma vez que foi transferido para o "banco mau". 

"Fait-divers familiar" 

No Conselho Superior da Antena 1, a pergunta do jornalista era: "Como é que fica o banco no meio desta turbulência ao nível da gestão?" A resposta de José Luís Arnaut aos microfones da rádio pública foi: "Eu acho que [isso] é o mais importante. Tudo é resto é um conjunto de fait-divers societários e familiares que não nos diz diretamente respeito mas [é isso] o que importa a nós cidadãos, que somos clientes ou, mesmo que não sejamos clientes, que queremos a estabilidade dos sistema financeiro português."

"O BES é um banco, digamos, profundamente estável , esse facto é um legado que Ricardo Salgado deixa; é um banco robusto, com capitais, um banco credível, [em] que ainda agora as maiores instituições financeiras dos Estados Unidos e da Europa decidiram investir e apostar no reforço de capitais de mil milhões de euros; portanto 'um bi' que foi levantado no mercado apesar das guerras e da novela familiar, que é a todos os títulos infeliz."

Arnaut sublinhou: "Mas esta robustez, o facto de o banco estar imune às questões da sociedade e do grupo societário, esse facto é o grande legado que Ricardo Salgado nos deixou. E deixa um banco sólido [em] que se pode confiar. Isso é que é importante, [para] aqueles que têm lá contas. Aqueles que estão a trabalhar com o banco, [que] têm lá as suas poupanças podem estar descansados porque tudo o que se passa a nível da sociedade familiar não tem qualquer influência, não tem qualquer interferência no banco."

Elogio a Morais Pires... e ao Banco de Portugal

"Hoje em dia", afirmou José Luís Arnaut, "o banco, com uma nova gestão, uma nova gestão independente da questão familiar [que seria supostamente liderada por Amílcar Morais Pires, o que nunca aconteceria]... Foi importante neste caso Ricardo Salgado ter percebido a sua necessidade de sair e o facto de o Banco de Portugal ter também imposto - e aí uma palavra também de reconhecimento ao Banco de Portugal - ter sabido impor ao resto da família uma gestão independente e completamente autónoma daquilo que é a estrutura societária, pelo menos nesta fase."

"Todas estas novelas não são desejáveis", comentava Arnaut. "Já vimos estas novelas parecidas no BCP, anteriormente, assistimos a algo também noutros bancos mais pequenos. O que era desejável era efetivamente que isto não tivesse acontecido, mas tendo acontecido, e acontecendo o que está a acontecer, há uma certeza: é que vamos ter uma equipa profissional; um profissional [Morais Pires] que é conhecido e reconhecido internacionalmente e é aquele que foi o rosto deste levantamento deste bilião de euros nas últimas semanas, que se fechou há oito dias, e portanto é um sinal de estabilidade, estabilidade para os portugueses que têm as suas poupanças, para aqueles trabalham com aquele banco, que é um grande banco português, que é um banco estável." 

Todo o sistema "é robusto"

José Luís Arnaut estendeu o elogiu ao sistema financeiro por inteiro. "Nós temos a sorte de ter em Portugal um sistema financeiro muito robusto, com grandes instituições, essa é uma das grandes vantagens que nos ajudou a sairmos também desta situação que foi a crise financeira que vivemos, porque as nossas instituições financeiras ficaram muito imunes a todos estes abalos, ao contrário do que aconteceu nomeadamente em Espanha, onde a crise começou pelo sistema financeiro. Isto de facto é um sinal de robustez do nosso sistema financeiro e de confiança. É essa confiança que é importante".