Economia

Como vai a qualidade das nossas elites? Abaixo da média europeia, indica índice internacional

Como vai a qualidade das nossas elites? Abaixo da média europeia, indica índice internacional
João Carlos Santos

Portugal surge na 30ª posição entre 151 países analisados num estudo sobre a qualidade das elites, ficando oito lugares abaixo da edição de 2022 deste trabalho, no qual participa a Faculdade de Economia da Universidade do Porto

A qualidade das elites portuguesas está a degradar-se, indica um índice internacional elaborado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e a Universidade de Saint Gallen (Suíça), em colaboração com uma rede de parceiros e instituições académicas.

Entre os 151 países analisados neste estudo, Portugal surge na 30ª posição, oito lugares abaixo do ranking de 2022 e “cada vez mais abaixo da média da União Europeia, num ano marcado por um aumento sem precedentes da inflação e pela guerra na Europa”, indica o comunicado divulgado pela FEP sobre a quarta edição do Índice de Qualidade das Elites (EQx) 2023, um ranking internacional de economia política que categoriza os países pela qualidade das suas elites e a sua capacidade para criarem valor.

Portugal é o 16º país europeu nesta lista, logo atrás de Chipre. A vizinha Espanha é o 13º país europeu do ranking e ocupa a posição 25 na lista global.

“Os dados revelam que, em Portugal, as elites continuam a revelar uma tendência crescentemente extrativa (retiram valor em vez de o criarem) que importa corrigir”, refere o comunicado. O país mantém-se, assim, "pouco competitivo, muito aberto ao exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo”, destacam o diretor da FEP, Óscar Afonso, e a professora Cláudia Ribeiro, responsáveis pelo estudo a nível nacional.

O índice baseia-se em 134 indicadores e em quatro áreas conceptuais – poder económico, valor económico, poder político e valor político – categorizando as elites em “muito alta qualidade” (posição de 1 a 10), “elites de alta qualidade” (posição de 11 a 25), “elites de qualidade” (posição de 26 a 75), “elites de qualidade média” (posição de 76 a 124) e “elites atrasadas” (posição superior a 125).

Tolerância e liberdade são valores positivos

Face ao ranking anterior, Portugal manteve a posição ao nível do poder político (19ª lugar), mas viu deteriorar-se o valor criado (37ª posição em 2023 e 11ª posição em 2022). Em termos económicos, registou uma maior concentração do poder económico (42ª posição em 2023 e 25ª posição em 2022), sem reflexo no valor económico criado (39ª posição em 2023 e 37ª posição em 2022).

“Portugal é um país com uma divida pública expressiva, obrigando a uma austeridade significativa, como revela a enorme carga fiscal. Os constrangimentos que o endividamento impõe impedem que o governo tenha capacidade para promover a atividade económica, mesmo com a ajuda de fundos comunitários. É preciso ainda reconhecer que a inflação tem vindo a dificultar, e muito, a atividade económica, pois os custos dos investimentos programados aumentaram face aos orçamentos iniciais”, explicam os professores da FEP, citados no comunicado.

A pesar favoravelmente na qualidade das elites portuguesas e na sua classificação neste estudo, o destaque vai para o desempenho positivo obtido em indicadores relativos à tolerância, à inclusão de minorias, liberdade académica e liberdade religiosa (poder político), bem como na facilidade de encerramento de negócios, na dispersão das exportações pelas firmas e na dispersão do valor acrescentado pelo universo das empresas (poder económico).

No valor político destacaram-se pela positiva o desempenho na segurança alimentar, a fraca diferença salarial entre os setores público e privado e a qualidade ambiental, enquanto que no valor económico há a salientar a ausência de barreiras ao Investimento direto estrangeiro e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho.

Suíça lidera, Rússia cai

E qual é o país que lidera o índice de qualidade das elites? A Suíça, que pela primeira vez ultrapassou Singapura. Já os saltos mais significativos foram protagonizados pelo Japão, no quarto lugar depois de uma subida de 14 posições, Alemanha, agora 8ª (11ª em 2022), Índia (59º lugar, subida de 38 posições), Brasil (69º lugar, 12 posições acima do ano passado) e África do Sul (83º lugar, subida de 16 posições). Já a Rússia caiu 36 posições, para o 103ª lugar.

No caso dos Estados Unidos, cai 6 posições. para o 21º lugar e fica colado à China, agora 22ª, depois de subir 5 lugares. “Em tempos de rivalidade geopolítica crescente entre as duas potências, este facto torna-se uma questão de interesse internacional, uma vez que a criação sustentável de valor pelas elites é a base da força e competitividade nacionais futuras”, comentam Óscar Afonso e Cláudia Ribeiro.

As pontuações comparativas dos países e as classificações globais proporcionam uma visão do futuro das sociedades, dizem os autores deste estudo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas