23 abril 2023 20:50

A bolsa era um local de romagem de uma massa de investidores
rui ochôa
Crise. Depois de uma euforia jamais vista, a Bolsa de Lisboa caiu 42%. Foi contagiada pelo crash em Wall Street. Cavaco Silva deu um empurrão com a célebre frase “gato por lebre”
23 abril 2023 20:50
O ano ficou marcado pelo crash de outubro em Nova Iorque. A 19 de outubro, um dia aziago logo batizado de ‘Segunda-Feira Negra’, o principal índice de Wall Street afundou-se 20,4%, a maior queda diária de sempre na sua história até hoje. Maior do que na Sexta-Feira Negra de 28 de outubro de 1929 ou, mais recentemente, a 16 de março de 2020, após o choque da pandemia de covid-19. Alan Greenspan, então presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed) havia apenas dois meses, preparava tranquilamente, em Dallas, uma intervenção na American Bankers Association para dia 20 quando foi invadido pelos telefonemas. A Fed acabou por reagir publicamente, garantindo que injetaria a liquidez que fosse necessária, e Greenspan pediu que ninguém entrasse em pânico. “Isto pode ser contido”, sublinhou aquele a quem depois chamaram o ‘maestro’.
Entretanto, o choque estendera-se aos mercados pelo mundo fora. Em 23 bolsas, 19 registaram perdas de mais de 20% durante outubro. A situação em Nova Iorque era, de facto, muito frágil: “Havia operações alavancadas e poucos mecanismos de controlo de preços que inibissem movimentos bruscos das cotações em situações de menor liquidez ou grande assimetria de interesses entre compradores e vendedores”, sublinha Filipe Garcia, presidente da consultora Informação de Mercados Financeiros (IMF). O abalo viria a fazer jus ao mote “os mercados sobem de escada e descem de elevador”, ironiza Garcia. Greenspan, quase 10 anos depois, cunharia a expressão “exuberância irracional” para retratar o clima que, ciclicamente, se vivia em Wall Street antes de tudo terminar em pânico e crash. O choque de outubro de 1987 acabou por passar em Nova Iorque e o ano até registou ganhos de 2%. A queda a sério viria três anos depois.