“O primeiro desafio que temos pela frente é manter a trajetória de redução de risco da nossa economia, contra todos os desafios que enfrentamos”, o que deve mobilizar quer o sector privado, quer as contas públicas - enfatizou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, num almoço promovido pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que decorreu esta segunda-feira em Lisboa.
“Quando enfrentamos desafios económicos, a primeira perceção é que temos de estar sempre preparados para esses momentos”, considerou o governador do Banco de Portugal, lembrando que “a resiliência que demonstrámos na crise pandémica foi por estarmos preparados para um evento que não podíamos prever” e que "a redução do risco associada às contas públicas foi essencial para estas respostas".
Face à crise bancária que se vive, “hoje a palavra de ordem para a economia é mitigar todos os efeitos que vêm do exterior e possam pressionar os bancos”, reiterou Centeno, frisando que “é muito importante perceber a relevância de minimizar o impacto que esta turbulência gera no sector da banca na área do euro, e que não é originária da área do euro”.
O “choque que estamos a sofrer" é o “simétrico” de um choque que vem do exterior, e “não ajuda neste contexto que essa incerteza se transmita ao sector da banca”, advertiu.
O governador do Banco de Portugal lembrou que os bancos centrais foram mandatados no sentido de controlar a inflação, mas enfatizou que “são menos eficazes a atuar” quando a inflação tem origem na oferta, o que “infelizmente, é a situação que vivemos hoje”.
Centeno realçou também que há de momento um vasto conjunto de fatores a contribuir para o “acumular da pressão inflacionista” e que “temos de levar a sério”, a começar pelas taxas de variação homólogas negativas ou “muito negativas” na generalidade dos bens. “Vemos o petróleo cair 20% face ao ano passado e o gás natural 59%”, exemplificou.
Num quadro internacional turbulento e incerto para o sector da banca, Portugal apresenta boas condições de poder responder aos desafios, mas acautelando a economia de exposição aos riscos, segundo Mário Centeno. "Hoje estamos, em termos de ciclo económico, num ponto próximo do que estávamos em 2019", e "temos o nosso produto acima das estimativas do Banco de Portugal", destacou o responsável do Banco de Portugal, considerando que "temos de ter consciência desse ponto positivo", e “prolongar esse estado de ciclo económico”.
Segundo resumiu Centeno, “temos de continuar a monitorar riscos”, e “se Portugal fizer a sua parte neste processo, vamos poder responder positivamente”.
“Na realidade, os nossos bancos estão hoje mais capitalizados que anteriormente”, afirmou Mário Centeno, referindo que o rácio de créditos não produtivos (malparado) dos bancos em Portugal passou de 17% em 2015 para 3% atualmente, “muito próximo dos valores da área do euro”.
"78% do investimento público em 2022 foi financiado com impostos, e não com fundos europeus"
Segundo Mário Centeno, face à crise bancária que se vive, Portugal precisa de dar resposta a quatro desafios, a começar pela necessidade de reduzir os riscos da economia que possam impactar nos bancos com efeitos perniciosos. Falando para uma assistência de hoteleiros, destacou ainda a "importância de aumentar o valor acrescentado" e "integrar recursos humanos mais qualificados".
O segundo desafio, segundo Centeno, prende-se com a integração europeia. "Pela primeira vez, a Europa emitiu dívida com urgência, em nome da Europa, para pagar o investimento com urgência na recuperação das economias", o que não se deveu só à crise pandémica, mas à necessidade de dar respostas à transição digital e climática. "Este esforço comum tem de ter retorno", salientou.
Aqui, o governador destacou a situação de Portugal, realçando que "na dimensão pública, a esmagadora maioria do investimento em Portugal é financiado por fundos do Orçamento do Estado".
"Em 2022, 78% do investimento público foi financiado por impostos e não por fundos europeus. Esta situação deve-se alterar nos próximos tempos, e deve mesmo", alertou.
O terceiro desafio identificado por Centeno envolve "integrar trabalho mais qualificado na economia", exortando os hoteleiros a praticar "salários mais elevados". O governador do Banco de Portugal também lembrou que o país gerou em 2022 cerca de 160 mil postos de trabalho, sendo o sector do alojamento e restauração responsável por mais de 20%, o equivalente a mais de 34 mil postos de trabalho, segundo dados da Segurança Social".
"Os salários pagos aos portugueses cresceram em quase 6 milhões de euros em 2022, e quase 700 milhões foram pagos pelo sector de alojamento e restauração", destacou Centeno.
O quarto e último desafio realçado pelo governador do Banco de Portugal prende-se com a inflação e a necessidade de acautelar riscos que possa impactar nos bancos - frisando que a inflação acima dos 2% “é sempre uma coisa má e nunca é temporária”, e que “devemos debelar este sintoma”.
O governador do Banco de Portugal lembrou que os bancos centrais foram mandatados no sentido de controlar a inflação, mas enfatizou que “são menos eficazes a atuar” quando a inflação tem origem na oferta, o que “infelizmente, é a situação quer vivemos hoje”.
Centeno realçou também que há de momento um vasto conjunto de fatores a contribuir para o “acumular da pressão inflacionista” e que “temos de levar a sério”, a começar pelas taxas de variação homólogas negativas ou “muito negativas” na generalidade dos bens. “Vemos o petróleo cair 20% face ao ano passado e o gás natural 59%”, exemplificou.
"Gostava que lessem nas minhas palavras um tom de desafio, mas também de encorajamento face àquilo que temos de fazer", concluiu.
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