Economia

Mervyin King, ex-governador do Banco de Inglaterra: “Metade da inflação resulta de erros básicos dos bancos centrais”

17 março 2023 13:59

João Silvestre

João Silvestre

Editor de Economia

chris ratcliffe/pool/getty images

O ex-governador considera que a inflação vai demorar a descer e que tudo vai depender do comportamento dos salários. Problema foi, em parte, criado pela política monetária que decidiu imprimir dinheiro sem necessidade

17 março 2023 13:59

João Silvestre

João Silvestre

Editor de Economia

Mervyn King liderou o Banco de Inglaterra durante uma década. Enfrentou a crise financeira internacional, numa fase em que os bancos centrais foram decisivos para manter o sistema financeiro a funcionar depois do colapso do Lehman Brothers nos EUA. Saiu em 2013, quando o banco central britânico já tinha iniciado o seu programa de compra de ativos — conhecido como quantitative easing (QE). Foram, aliás, vários os bancos centrais a adotar este tipo de política na última década para manter os estímulos, numa altura em que as taxas de juro já estavam a zero ou perto disso. É a partir daqui que nasce o problema, diz Mervyn King, que falou com o Expresso a partir de Londres, ainda antes dos recentes problemas na banca americana: “Em 2020, a resposta à pandemia foi mal calculada. O impacto da pandemia foi uma redução da oferta — o PIB caiu —, e foi muito estranho ver os bancos centrais responder com estímulos à procura imprimindo grandes quantidades de moeda. Acabámos com uma situação clássica de inflação: demasiado dinheiro atrás de demasiados poucos bens.”

Não faz por isso, refere o ex-governador, grande sentido falar hoje em surpresa com a inflação entre os banqueiros centrais quando, na verdade, parte do problema nasceu precisamente nas suas instituições. Contas por alto, diz Mervyn King, são responsáveis por cerca de metade da inflação que hoje temos: “Temos de distinguir duas componentes da inflação. Uma é o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia e o impacto disso nos preços da energia e da alimentação, que é responsável por cerca de metade do aumento da inflação desde 2019/2020. A outra metade é o resultado dos erros dos bancos centrais.” Evitar a subida teria sido impossível, mas os números teriam sido outros. Quanto? “Se não se tivessem cometido erros na política monetária, em vez de a inflação ter subido de 2% para 10% poderia ter aumentado apenas até 5% ou 6%. E já estaríamos a vê-la a descer bastante abaixo disso. O erro tornou a situação muito mais séria.”