BMW apresenta o ‘carro’ do futuro. Bem vindos a bordo do universo 'phygital'
D.R.
Chama-se BMW i Vision Dee, acaba de ser apresentado publicamente em Las Vegas e, classificá-lo simplesmente como ‘carro’ até pode ser ofensivo. Bem vindos a bordo da dimensão ‘phygital’ onde se funde o mundo físico com o universo do digital, numa viagem que é muito mais que uma mera deslocação no espaço: talvez uma experiência sensorial e surreal. O Expresso esteve na ante-estreia
Tem quatro rodas, quatro portas, quatro bancos no seu interior e pode deslocar-se do ponto A para o ponto B transportando quatro pessoas. Na verdade até é parecido com aquele objeto que muitos de nós temos na garagem , mas não é bem um carro. É uma espécie de exercício filosófico da BMW sobre o que nos pode esperar em termos de mobilidade automóvel daqui a quatro ou cinco anos. É mais um caminho, ou um conjunto de pistas para o futuro da experiência de condução, do que apenas mais um novo modelo da conhecida marca alemã.
O BMW i Vision Dee – e já explicamos como se chegou a este nome - é um autêntico concentrado de tecnologia e, no entanto, nenhuma das soluções é totalmente nova. A diferença é que os engenheiros, os cientistas e os designers da BMW juntaram-nas e colocaram-nas ao serviço de uma condução futurista, num veículo que transpira vanguardismo, e vem carregado de experiências imersivas que misturam a realidade com o mundo virtual. Como diz Oliver Zipse, presidente executivo da BMW, no i Vision Dee “há uma espécie de fusão entre as experiências virtuais e o genuíno prazer de condução”.
Viajar pelo Parque Jurásico enquanto vai de casa para o trabalho
É aquilo a que hoje se chama o território do ‘phygital’, onde se funde o mundo físico com o universo do digital. Eu entro no carro para fazer uma viagem mas, por acaso, logo naquele dia não me apetece conduzir. Digo ao carro para assumir os comandos e, em troca, ele oferece-me a possibilidade de escolher um cenário de sonho ou de aventura, que me vai envolvendo durante a viagem. E posso andar a passear pelo Parque Jurássico ou a fazer uma escalada numa montanha, imerso numa virtualidade que me é apresentada na superfície interior do para-brisas ou nos vidros das janelas. É como se estivesse dentro de um filme projetado a 360 graus e, na verdade, estaria a fazer apenas mais uma deslocação rotineira entre a casa e o trabalho, ou da residência para a casa de campo.
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O BMW i Vision Dee, 100% elétrico e recheado de materiais reciclados, acaba de ser mostrado ao mundo esta madrugada, quinta-feira, em Las Vegas, nos Estados Unidos, na maior feira de tecnologia do mundo – a Consumer Electronics Show, mais conhecida por CES.
No entanto, há cerca de cinco semanas a marca germânica fez uma espécie de ante-estreia do i Vision Dee, para jornalistas de vários países, num centro de testes a cerca de 30 quilómetros a noroeste de Munique, na Alemanha, algures no meio de uma área predominantemente rural.
Mistério e secretismo na ante-estreia
O primeiro contacto com o Dee foi envolto no máximo secretismo, com a assinatura de um termo de responsabilidade em que nos comprometíamos a não divulgar qualquer espécie de imagem ou informação sobre deste protótipo antes do dia 5 de janeiro de 2023. À chegada ao local do encontro com o BMW i Vision Dee, que na verdade quer dizer Digital Emotional Experience, foram-nos seladas as câmaras dos telemóveis e, cada um dos convidados, teve de criar um avatar de si próprio para poder lidar com o tão aguardado carro, ou que quer que lhe queiramos chamar.
O mistério adensava-se e, do nada, apercebemo-nos, então, que estávamos ali ao lado de uma pista de aviação do que, em tempos, parece ter sido uma base militar – onde, algumas horas depois haveríamos de ter uma experiência de condução de ‘realidade misturada’.
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Mas antes disso seríamos finalmente levados para um segundo espaço, coberto, onde à entrada já éramos identificados e tratados como avatares, que é como quem diz, um cibercorpo digital, com uma figura gráfica escolhida à medida dos gostos de cada um, pronto para o primeiro encontro, mais ou menos no limiar do surrealismo.
Fala-se baixinho, quase em murmúrio e, num ápice, toca a música, abre-se a cortina, roda o palco com um objeto coberto por um imenso tecido e começa a ouvir-se a voz de um dos responsáveis pela área da tecnologia, design e também comunicação da marca alemã: “eis o BMW i Vision Dee…” E lá continuou a falar do que nos ia surgindo à frente à medida que caía o pano. “Mas, atenção, não lhe chamem ‘carro’ senão ele pode sentir-se insultado”.
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O ‘carro’ que fala com o seu avatar
E não é que o Dee parecia ter mesmo personalidade própria. Conectado com cada um dos avatares ali presentes, à medida que nos aproximávamos começava a falar connosco e a tratar-nos pelo nome [do avatar]: “Olá Vítor – não tive muita imaginação no batismo do meu avatar -, então como é que está a correr o teu dia?”. Pronto. Confesso que fiquei surpreendido. Nunca, antes, um automóvel falara comigo daquela forma. Aproximei-me mais um pouco na direção do Dee e estendi a mão direita para lhe acariciar o capô mas, de repente, com um tom empertigado: “Não me toques, tenho cócegas”. Não consegui conter uma forte gargalhada. Nem eu nem nenhum dos presentes nas proximidades daquele protótipo.
À parte do momento de descontração, foi ainda possível ver como mudava a cor de algumas superfícies deste BMW i Vision Dee – os engenheiros da marca garantem que pode mudar, numa fração de segundos, para qualquer cor numa palete que pode ir além das três dezenas de opções.
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A acelerar em modo de 'realidade misturada'
Pouco depois, não no Dee – que era apenas um protótipo em exposição -, mas num BMW M3 super equipado para a competição em velocidade, debaixo de uma forte chuvada e em cima do piso alcatroado da enorme pista de aviação ali mesmo ao lado, fomos então convidados a ter uma experiência de ‘realidade misturada’,ou ‘phygital’, mais ou menos próxima da que seria proporcionada pelo Dee se já andasse na estrada.
Entrámos, ajustamos a posição de condução, cinto de segurança cruzado bem apertado e, em seguida, o inesperado: Temos de colocar um capacete que nos veda completamente o que está à nossa volta e nos abre, segundos mais tarde, no visor, uma pista de competição, mas em realidade virtual. Uma espécie de jogo eletrónico, igual ao que muitos dos nossos filhos jogam na playstation, enquanto nós pensamos que estão no quarto a estudar.
“Pronto? Pode arrancar…” dizia o co-piloto (um engenheiro da BMW). Ao que respondi que não conseguia ver nada da pista onde me encontrava parado, com o pé no acelerador daquela máquina infernal, que pode ir dos 0 aos 100 km/h em menos de 4 segundos.
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“Não se preocupe; pode arrancar. Só tem de seguir o trajeto da pista de competição [virtual] que tem à frente dos olhos e fazer o trajeto do circuito no menor tempo possível. Se quiser marcar pontos pode ‘atropelar’ os símbolos da BMW que vão aparecer a flutuar à sua frente. Por outro lado, se não quiser perder pontos, evite passar em cima do enorme X vermelho que lhe vai aparecer na frente, sobretudo no final das retas”.
Sem tempo para mais conversa, e já farto de sentir a adrenalina a correr-me pelas veias a mais de mil à hora, perdi o medo e carreguei no acelerador do BMW M3 que me lançou para uma velocidade considerável, poucos segundos depois. Eu estava a andar, de facto, a grande velocidade numa pista [real] de aviação, mas tudo o que via à minha frente era um trajeto do tipo de Fórmula 1 virtual, todo composto e enfeitado para uma grande corrida, com todos os adereços que isso implica.
Ver para crer e conduzir de olhos ‘tapados’
Foram alguns minutos de forte emoção – apenas sentia a chuva a bater no para-brisas, as mãos a deslizar pelo volante e o corpo a baloiçar nas curvas mais apertadas – e tinha acabado de entrar em grande estilo na tal ‘realidade misturada’, que nos tinha sido apregoada junto ao BMW i Vision Dee, lá mais atrás, em cima do palco.
Foi, na verdade, uma grande mistura de experiências e que me deixou completamente eufórico mas, ao mesmo tempo, apreensivo. Será que esta é mesmo uma antevisão do vai ser, num futuro próximo, a nossa experiência ao volante de um automóvel? Custa-me a crer. Mas os engenheiros e os designers da BMW passaram as duas horas que se seguiram a tentar convencer-me que sim; de que pode ser algo muito parecido e que o Dee, neste domínio, já está a fazer o seu caminho.
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