O bem-estar dos portugueses evoluiu de forma positiva entre 2004 e 2020, mostram os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) divulgados esta segunda-feira, mas com a pandemia houve uma queda do índice. O gabinete estatístico estima que o valor de 2020 do índice de bem-estar se tenha mantido em 2021.
O Índice de Bem-estar (IBE) reflete a evolução do bem-estar da população recorrendo a dez índices sintéticos que traduzem duas perspetivas de análise: as condições materiais de vida e qualidade de vida.
Entre 2004 e 2020, o IBE passou de 20,9 a 45,8. A evolução positiva resulta, principalmente, dos progressos verificados nas condições materiais de vida, ainda que, globalmente, a qualidade de vida também tenha evoluído de forma positiva.
Porém, se analisarmos apenas um período controverso da nossa História, a altura da crise das dívidas soberanas, houve uma evolução destes dois critérios de forma oposta. Segundo o INE, entre 2009 e 2013 as condições materiais de vida evidenciaram uma tendência decrescente, ao contrário da qualidade de vida.
As condições materiais deterioraram-se, particularmente, devido aos decréscimos muito acentuados dos índices dos domínios emprego e vulnerabilidade económica. Já a qualidade de vida melhorou nesse período - e até 2016 - devido ao crescimento dos índices de domínio da segurança pessoal, da educação, do ambiente e da saúde.
Por outro lado, após 2016 os papéis inverteram-se, com a qualidade de vida a decrescer muito ligeiramente, em parte devido à falta de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, à estagnação do índice ambiental e também à menor participação cívica a partir de 2017.
Emprego pesa nas condições materiais
Segundo o gabinete estatístico, entre os domínios que compõem as condições materiais de vida, é o emprego que apresenta uma evolução pior. O domínio do emprego “é a componente do bem-estar com evolução mais desfavorável, quando se considera todo o período 2004-2021”, mas se olharmos apenas para os dados a partir de 2012 “é o domínio que apresenta a variação positiva mais pronunciada”. A evolução deve-se, em grande parte, às taxas de desemprego da população ativa, jovem e com nível de educação superior
O domínio do bem-estar económico apresentou um crescimento significativo até 2010, inverteu essa tendência até 2012 e iniciou uma recuperação após esse ano só interrompida em 2019, ano no qual se verificou um ligeiro decréscimo, estimando-se uma recuperação em 2021.
Já o domínio da vulnerabilidade económica registou evoluções positivas a partir de 2014, devido sobretudo à “redução da taxa de privação material, da taxa de intensidade de pobreza e da intensidade laboral muito reduzida”, mas ainda assim continua a ser dos piores indicadores.
Na qualidade de vida o emprego também pesa, ainda que num ângulo diferente: a dificuldade sentida entre conciliar a vida pessoal e a vida profissional. De acordo com o gabinete estatístico, o balanço entre vida e trabalho até teve uma evolução positiva até 2010, mas desde então que tem vindo a diminuir. “Esta diminuição resulta do movimento de sentido oposto dos seguintes indicadores: a evolução desfavorável do índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares, que não foi suficientemente compensada pela melhoria, a partir de 2014, do desempenho do indicador relativo aos trabalhadores que trabalham mais de 49 horas por semana”, indica o INE.
Pandemia afetou mais as condições materiais
Os dados do INE mostram que foram as condições materiais de vida que apresentaram o maior decréscimo em 2020, tendo recuperado ligeiramente em 2021. O domínio do bem-estar económico foi o que mais caiu, mas deverá ser o que mais recuperou, segundo as estimativas. Por outro lado, o domínio da vulnerabilidade económica não terá sequer recuperado em 2021.
A qualidade de vida também não escapou à queda, ainda que tenha sido menor. A análise da evolução, entre 2019 e 2020, permitiu ao gabinete estatístico indicar que houve certos pontos mais afetados pela pandemia que outros, como o índice de consumos culturais, a taxa de intensidade de pobreza, a taxa de risco de pobreza, a desigualdade na distribuição do rendimento e o índice de participação em atividades públicas.
Ao contrário das condições materiais, o INE não estima uma recuperação da qualidade de vida em 2021.
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