A energia encareceu este ano de forma generalizada na Europa, mas em alguns países essa tendência foi mais penalizadora para as famílias do que noutros, e Portugal está entre as economias europeias onde o impacto foi menos grave, aponta um trabalho publicado pelas economistas Oya Celasun e Dora Iakova, diretora e diretora adjunta do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Segundo a análise daquelas economistas, os altos preços da energia na Europa aumentaram em média em 7% o custo de vida das famílias este ano face ao que se verificava no início de 2021 (antes da escalada das cotações do gás natural).
Mas o impacto foi diferenciado de país para país, havendo 11 economias onde o impacto da escalada de preços da energia se traduziu num aumento das despesas familiares inferior a 5%, e seis países onde o aumento devido à fatura energética ultrapassou os 10%.
Portugal é o sexto país com um menor impacto, atrás da Hungria, França, Eslovénia, Espanha e Finlândia, de acordo com a análise de Oya Celasun e Dora Iakova, que para este trabalho se socorreram de dados da Bloomberg, ENTSOE (associação europeia de operadores da rede elétrica), Eurostat e cálculos da equipa do FMI.
O país europeu onde as famílias foram mais fustigadas pela escalada de preços da energia é a Estónia, onde a energia provocou um agravamento de quase 20% nas despesas familiares, seguida da Holanda, com cerca de 13%, e Itália, Dinamarca, República Checa e Reino Unido (nos quatro casos com agravamentos superiores a 10%).
Tentar travar aumentos não é a melhor solução
As economistas defendem também que a opção que muitos governos têm seguido de tentar travar os aumentos dos preços da energia não será a mais inteligente, uma vez que arrisca piorar o problema.
“Os esforços para suprimir os aumentos de preços da energia e garantir apoios alargados pode na verdade piorar as coisas. Imagine-se que todos os países na Europa têm margem orçamental suficiente para permitir que apenas uma pequena parte do agravamento dos preços grossistas do gás passem para os preços retalhistas”, escrevem as economistas.
“O que aconteceria então? Os consumidores europeus reduziriam apenas marginalmente o seu consumo, e uma vez que o fornecimento de gás é limitado, os preços globais do gás iriam subir ainda mais, aumentando os custos orçamentais [das medidas de apoio] e reduzindo a eficácia dos esforços governamentais para proteger os consumidores domésticos”, apontam as mesmas responsáveis.
Assim, concluem, os esforços de apoio poderiam alimentar ainda mais subidas de preços do gás, não só na Europa mas globalmente, sem um benefício significativo para os consumidores domésticos.
As economistas do FMI sugerem antes que a opção seja proteger apenas os consumidores mais vulneráveis, deixando os demais expostos às subidas de preços, e incentivando-os a adotar medidas de eficiência energética e redução de consumo.
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