BCE não quer aumentar demais os seus funcionários, mas o sindicato admite greve

Banco central propôs aumento de 4,07%, bem abaixo da inflação. Trabalhadores contestam proposta e admitem paragem como “última opção”.
Há um embate entre a liderança do Banco Central Europeu (BCE) e o sindicato representativo dos seus trabalhos que pode acabar em greve. A magnitude do aumento salarial para o próximo ano, depois de meses de inflação a superar os 10% em 2022, é o centro da disputa.
O Banco Central Europeu (BCE) propôs um aumento de 4,07% dos salários dos seus funcionários para o próximo ano, depois de uma subida das remunerações de 1,48% para este ano. A inflação esperada é de uma média de 8,1% para 2022, de 5,5% em 2023 e de 2,3% em 2024.
O BCE tem defendido que não pode haver incrementos salariais de grande magnitude, que possam contribuir para uma espiral inflacionista, em que as subidas nos rendimentos correspondam a subidas nos gastos, estimulando o agravamento dos preços. É essa também a postura do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que integra o Conselho do BCE.
Citado pelo Financial Times, Carlos Bowles, o vice-presidente do sindicato conhecido como Ipso, que representa os funcionários do BCE, é duro para com a liderança de Christine Lagarde: “O que a liderança do BCE nos está a dizer é ‘desculpem, mas falhámos a nossa meta de inflação, e agora são vocês, os trabalhadores, que vão pagar por isso’”.
A missão do BCE é manter a inflação em torno de 2%, para assegurar a estabilidade de preços na zona euro, mas não conseguiu fazê-lo este ano, estando mais de quatro vezes acima daquele que é o objetivo.
Fica para janeiro qualquer decisão relativamente a jornadas de luta contra a decisão de aumentos salariais. A greve “não está excluída”, admite o responsável sindical, ainda que dizendo que é a última opção. Há mais de 3500 funcionários do BCE a trabalhar em Frankfurt.
O mesmo responsável, Carlos Bowles, explicou à agência Bloomberg que o que está em causa é uma “perda substancial de poder de compra”, tendo em conta a inflação que se vive na zona euro (e na Alemanha, já que o BCE se situa em Frankfurt, ainda que com equipas que vão trabalhando um pouco por todos os países).
O BCE olha para outras instituições europeias e para os bancos centrais nacionais para determinar as subidas salariais – sendo essa a resposta oficial que a autoridade bancária tem dado aos meios de comunicação social sobre a matéria.
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