Economia

Lagarde apela a um "alinhamento" entre a subida de juros pelo BCE e uma política orçamental feita à medida

Lagarde apela a um "alinhamento" entre a subida de juros pelo BCE e uma política orçamental feita à medida
DANIEL ROLAND/Getty Images

“A política monetária [de subida de juros] tem de estar alinhada com outros atores”, disse esta sexta-feira a presidente do Banco Central Europeu no Congresso Europeu dos Bancos em Frankfurt

Christine Lagarde deixou esta sexta-feira um apelo claro aos governos da zona euro no Congresso Europeu dos Bancos em Frankfurt. É preciso “um alinhamento entre a política monetária [atualmente num ciclo de subida de juros] e outros atores”, como os governos e a sua política orçamental, recomendou a presidente do Banco Central Europeu (BCE). “Temos de atuar em conjunto”, defendeu Lagarde. Em sintonia, já Philip Lane, o economista-chefe do BCE, tinha dito esta semana que era necessário encontrar “o ponto certo” de articulação entre as duas políticas.

O aperto monetário pelo BCE (que já vai numa subida de 2 pontos percentuais em apenas três reuniões) e a recessão económica na zona euro (cujo risco “aumentou”) só por si não são suficientes para fazer descer significativamente a inflação, que está em dois dígitos (10,6% em outubro), acentuou a francesa.

Para travar a subida dos preços e iniciar um processo de desinflação é necessária a contribuição dos governos. No atual ambiente de inflação elevada, a política orçamental precisa de ser temporária, direcionada e feita por medida. Deve ser temporária, para não aumentar muito a procura no médio prazo; direcionada, para que o tamanho do impulso orçamental seja limitado e beneficie quem mais precisa; e feita por medida, de modo a não enfraquecer os incentivos para reduzir a procura de energia”, sublinhou a presidente do BCE.

Não ao corte no investimento público

Lagarde tem apelado a uma política orçamental de consolidação (que não estrague o aperto monetário sobre a procura global), mas recomenda que seja prudente.

“Quando chegar o momento de os governos nacionais consolidarem as suas políticas orçamentais, fará diferença se o fazem reduzindo as transferências e o consumo público e aumentando os impostos ou se cortam no investimento público", referiu. E depois criticou um erro do passado: "Se optarem por este último método, como fizeram após a grande crise financeira, correm o risco de que a oferta não seja recomposta e de os constrangimentos ao crescimento permanecerem”.

Essa atenção ao investimento público é tanto mais necessária quanto o quadro mundial da economia mudou desde a pandemia e da nova fase do expansionismo russo. Há “um novo mapa global de relações”, disse Lagarde.

A presidente do BCE não usa a expressão “desglobalização”, mas fala de “fragmentação em blocos”. Agora a política económica e orçamental dos países tem de privilegiar a “segurança estratégica nas cadeias globais da oferta”. Não pode ignorar mais a geopolítica. E há que fazer uma diversificação de fornecedores e uma transição ‘verde’, o que pode ter impactos inflacionistas e, em alguns casos, ser mais intensiva ainda no uso de recursos.

Não basta subir juros, é preciso reduzir os ativos

A presidente do BCE disse aos banqueiros presentes no Congresso que a subida das taxas diretoras é para continuar e que essa política de aperto continua a ser a mais importante. Mas chamou a atenção que o aperto - a “normalização” da política monetária - tem de de estender “a outros instrumentos”.

Lagarde recordou que o BCE pretende emagrecer o seu balanço de ativos, através da redução do financiamento dos bancos através dos TLTRO (acrónimo para Targeted longer-term refinancing operations), operações de refinanciamento de prazo alargado, e da diminuição da carteira de títulos de dívida pública e privada adquirida desde 2014 no âmbito dos programas de compra de títulos.

Desde o pico do valor dos ativos em junho, o BCE já reduziu em 86 mil milhões de euros o montante do refinanciamento (TLTRO) e em 19 mil milhões a carteira de títulos comprados desde 2014. O montante dos TLTRO deverá reduzir-se significativamente mais com os reembolsos antecipados que são esperados este mês em relação aos empréstimos contraídos pelos bancos em junho de 2020.

A presidente do BCE garantiu que na próxima reunião, a 15 de dezembro, a última do ano, os “princípios” desse emagrecimento do balanço serão divulgados.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas