A inflação no Reino Unido atingiu em outubro um máximo de 41 anos, subindo para 11,1%, segundo a estimativa publicada esta quarta-feira em Londres pelo Gabinete Nacional de Estatísticas. Rishi Sunak, o novo primeiro-ministro, soube da notícia no fecho da cimeira do G20 em Bali, na Indonésia, depois da confirmação na semana passada de que a economia britânica tinha entrado em contração no terceiro trimestre (com uma quebra de 0,2% do PIB em relação aos três meses anteriores). Em setembro, a inflação havia subido para 10,1%. Em outubro, há uma aceleração de 1 ponto percentual. A variação da inflação em cadeia em outubro foi de 2%.
O nível atual do surto inflacionista britânico é superior à média da zona euro (10,7%), mas inferior ao da Alemanha (11,6%) e de Itália (12,8%), outras duas grandes economias europeias. A incógnita, que preocupa Sunak e os britânicos, é se outubro marcou o pico da vaga inflacionista. O Banco de Inglaterra (BoE), nas suas projeções apresentadas na última reunião em novembro, admite que o pico se situará neste último trimestre do ano, mas chama a atenção de que o processo de desinflação (de descida da inflação) até ao objetivo de 2% se prolongará por 2023 e pela primeira metade de 2024.
A incógnita, que preocupa Sunak e os britânicos, é se outubro marcou o pico da vaga inflacionista
No entanto, Sunak, à saída de Bali, recebeu duas boas notícias. A variação do índice de preços na produção abrandou em outubro. A ‘inflação’ nos custos das empresas caiu de 16,3% para 14,8% no sector de produtos acabados e de 20,8% para 19,2% no sector de bens intermédios entre setembro e outubro. O índice de preços na habitação também desacelerou: de 13,1% para 9,5% no mesmo período.
O disparo da inflação para mais de 11% e a entrada em contração no trimestre que findou marcam o quadro em que o chanceler do Tesouro, o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, vai apresentar na quinta-feira o novo plano orçamental, que já se antecipou ser de austeridade (subida de impostos e cortes no gasto público). Esta austeridade governamental vai sincronizar-se com o aperto da política monetária pelo BoE, que já subiu a taxa de juros para 3% e poderá aumentá-la até 5,25% em meados do próximo ano.
O resultado destes apertos já foi antecipado pelo próprio BoE: o Reino Unido vai viver em recessão durante 2023 e no primeiro semestre de 2024. As projeções são para uma queda do PIB de 1,5% no próximo ano e de 1% no ano seguinte. A Comissão Europeia, nos pressupostos das suas previsões de outono, apresentados na semana passada, apontava para uma recessão de 0,9% em 2023 no Reino Unido, mais grave do que as antecipadas para a Alemanha (quebra de 0,6%) e Suécia (queda de 0,4%).
O Reino Unido vai viver em recessão durante 2023 e no primeiro semestre de 2024. As projeções são para uma queda do PIB de 1,5% no próximo ano e de 1% no ano seguinte.
Em suma, Sunak vai governar uma economia, pelo menos no próximo ano, que ‘casa’ inflação elevada (só no quarto trimestre desce para 5%), crédito caro (acima de 5%, ao nível de fevereiro de 2008) e recessão.
Recorde-se que, em novembro, o BoE aumentou a taxa em 75 pontos-base (pela primeira vez em mais de duas décadas) e que volta a reunir a 15 de dezembro, já depois de conhecido o impacto do plano orçamental de austeridade e das estimativas para a inflação em novembro.
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