Economia

“Um aperto monetário agressivo não é aconselhável”, avisa Fabio Panetta, administrador do BCE

“Um aperto monetário agressivo não é aconselhável”, avisa Fabio Panetta, administrador do BCE
Foto RONALD WITTEK/EPA

O economista italiano Fabio Panetta, membro da comissão executiva do BCE, voltou a criticar a falta de prudência no aperto da política monetária e estima que o PIB da zona euro perca, em termos reais, 1 ponto percentual por ano até 2024 por causa da subida dos juros

“Um aperto monetário agressivo não é aconselhável e não se pode ignorar os riscos de um aperto excessivo”, voltou a repetir esta segunda-feira Fabio Panetta, membro da comissão executiva do Banco Central Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde.

O maior crítico dos ‘falcões’ dentro do BCE contestou, uma vez mais, o argumento dominante entre os banqueiros centrais do euro, que tem sido repetido constantemente nas últimas semanas, de que é preferível correr o risco agora de apertar em demasia, porque esse erro se pode desfazer facilmente mais tarde, enquanto não apertar com determinação agora exigirá mais tarde um esforço mais duro.

O italiano Panetta, um economista formado pela London Business School que foi vice-governador do Banco de Itália até entrar na comissão executiva do BCE em 2020, voltou a distanciar-se das teorias dominantes numa intervenção esta segunda-feira em Florença numa conferência organizada pelo Comité de datação dos ciclos económicos na zona euro.

Panetta sublinha que um aperto excessivo da política monetária não destrói só a procura – o objetivo declarado do aumento das taxas de juro dos bancos centrais -, mas também afeta a própria oferta (que, já por si, está afetada por uma sincronia de choques) e “empurra permanentemente o produto para baixo da tendência”. O aperto exagerado da procura “pode resultar numa perda potencial da produção, pois a capacidade produtiva acaba por se ajustar a uma procura significativa e persistentemente menor. Esse tipo de cicatriz pode ser difícil de curar”.

Temos de ser prudentes em relação até onde o ajustamento deve ir, aconselha Fabio Panetta

A sua estimativa é que o aperto monetário seguido desde final de 2021 pelo BCE rouba mais de 1 ponto percentual ao aumento anual do PIB real da zona euro até 2024. “As recessões nos últimos 50 anos mostram que as contrações profundas – incluindo aquelas provocadas pela política monetária – produzem efeitos duradouros no PIB real em comparação com a tendência pré-recessão”, recordou Panetta, o que já tinha feito numa intervenção a 3 de novembro numa conferência sobre mercados monetários organizada pelo próprio BCE. Essas cicatrizes “não são facilmente revertidas por um alívio da política monetária subsequente, pois as expansões económicas não reconstroem a oferta tão depressa quanto as contrações a destroem”.

“Enquanto as expetativas de inflação permanecerem ancoradas, a política monetária deve ajustar-se, mas não pode exagerar. Temos de ser prudentes em relação até onde o ajustamento deve ir”, disse o italiano. “Seria equivocado basear um aperto agressivo em suposições que não podem ser fundamentadas de forma conclusiva. As consequências de possíveis erros podem não ser percetíveis hoje, mas tornar-se-ão evidentes com o tempo. Depois, pode ser tarde demais para revertê-los completamente”.

Recorde-se que o BCE já subiu a taxa diretora principal para 2%, um aumento de 200 pontos-base (2 pontos percentuais) desde julho deste ano. Nas reuniões de setembro e outubro aprovou aumentos históricos de 75 pontos-base (três quartos de ponto percentual), o que nunca tinha acontecido na história do euro. A taxa continua distante da que está em vigor nos Estados Unidos (4%, no limite superior) ou no Reino Unido (3%).

O processo de descontinuação da política expansionista iniciou-se em dezembro do ano passado com a decisão do BCE em anunciar para março de 2022 o fim das compras líquidas de ativos ao abrigo do programa de emergência PEPP lançado em resposta aos impactos da pandemia da covid-19. A etapa seguinte foi anunciar para julho de 2022 a descontinuação das aquisições líquidas através do programa mais antigo APP criado por Mario Draghi em 2014 e 2015. A descontinuação dos programas foi prévia ao início do ciclo de subida das taxas diretoras, de acordo com a estratégia de aperto monetário por etapas definida pela equipa de Lagarde.

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