“A ADSE não é moeda de troca dos sindicatos”, defendem beneficiários
Associação 30 de Julho quer diversidade nos representantes dos beneficiários que fazem parte do Conselho Geral e de Supervisão do subsistema público de saúde
Associação 30 de Julho quer diversidade nos representantes dos beneficiários que fazem parte do Conselho Geral e de Supervisão do subsistema público de saúde
Jornalista
As eleições para os representantes dos beneficiários no Conselho Geral e de Supervisão (CGS) da ADSE, o subsistema de saúde dos funcionários do Estado (no ativo e reformados), estão à porta e perfilam-se os candidatos. Esta terça-feira, dia 8, via videoconferência, foi a vez da lista C, apoiada pela Associação 30 de Julho, que agrega beneficiários da ADSE e que reivindica uma participação mais ativa nos destinos do instituto público de gestão participada, bem como pela Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe!).
O cabeça de lista é Rogério Matos, que conta com uma experiência de 21 anos em subsistemas públicos de saúde e é, atualmente, técnico Superior da ADSE, no departamento de auditoria, controlo e planeamento. Na sua opinião a ADSE tem um problema de (falta de) gestão. “A ADSE passou a ser um instituto público em 2017, é financiada quase a 100% pelos beneficiários [desde 2014], mas não mudou o chip. Continua a funcionar como se de uma direção-geral de tratasse e fosse financiada pelo Orçamento do Estado”, critica o candidato às eleições para o CGS, cujos votos presenciais estão marcados para o próximo dia 30 de novembro.
Há outras seis listas candidatas ao CGS e todas estão disponíveis no site da ADSE, onde também é indicada a possibilidade de votar por correspondência ou online (através plataforma Certvote que pertencente à Multicert).
Para a lista C, os beneficiários não são ouvidos e não têm tido uma palavra a dizer na gestão da ADSE, apesar de serem os seus descontos (3,5% do valor bruto do salário ou da pensão, incluindo os subsídios de férias e de Natal, ou seja, vezes 14) que financiam o instituto, critica o também membro da direção da Associação 30 de Julho.
“Veja-se o caso das novas tabelas de preços para o regime convencionado, que foram dadas a conhecer algumas horas antes de entrarem em vigor [em setembro de 2021]”, lamenta Rogério Matos. A lista C vem, assim, romper “com este status quo”, afirma.
Outro problema é o peso que os sindicatos têm atualmente na estrutura do CGS, em que os quatro membros eleitos por sufrágio direto junto dos beneficiários titulares da ADSE (cerca de 900 mil) pertencem a estruturas afetas à CGTP e à UGT. Ora, os maiores sindicatos da Função Pública (Frente Comum, Fesap e STE) têm lugar assegurado, por lei no CGS, faz notar Dina Carriço, chefe de Divisão de Gestão Financeira na Secretaria-Geral do Ministério das Finanças, que também integra a lista C.
Ou seja, “a voz destas estruturas já está representada”, critica a lista C, defendendo que deve existir uma maior diversidade no CGS. É que “qualquer uma destas organizações tem legitimidade para representarem os beneficiários, mas não devem ser os únicos”, é assinalado.
A fraca participação nas eleições de 2017 (apenas cerca de 3% dos beneficiários elegíveis) fez com que fossem "eleitas três pessoas da Frente Comum [da CGTP] e uma pela lista da Fesap [Federação de Sindicatos da Administração Pública], o que significa que o CGS tem atualmente como representantes dos beneficiários só pessoas dos sindicatos. Não temos nada contra, mas pensamos que é importante ter uma voz diferente no CGS", referiu Fernando Vaz Medeiros, presidente da Associação 30 de Julho.
Esta concentração da ADSE nas mãos dos sindicatos faz com que o subsistema esteja a ser usado como moeda de troca nas negociações salariais, situação que a lista C denuncia e que recusa. “Tem que haver uma voz diferente, a ADSE não pode ser colocada no papel de moeda de troca, não aceitamos isso”, frisa Rosa Maria Simões, representante da APRe no atual CGS.
Para Fernando Vaz Medeiros é urgente que o funcionamento da ADSE passe a estar de acordo com o estatuto jurídico da ADSE. “A ADSE deve manter-se pública, mas aos beneficiários cabe uma maior participação na gestão do instituto”, sublinha o responsável, acrescentando que os poderes do CGS devem ser “aumentados”, já que, hoje, “são meramente consultivos”.
No programa eleitoral da lista C há o compromisso de que os “os beneficiários da ADSE são o único motivo para a candidatura”, cujo mote é ‘ADSE – Beneficiários Primeiro’ e se apresenta num registo “de integral independência e autonomia, sem prejuízo de uma permanente atitude de diálogo e colaboração construtiva no seio do CGS e com todas as instituições e entidades, públicas e privadas, relacionadas com a ADSE”.
São 21 os pontos prioritários da agenda da lista C, entre os quais “a adoção de medidas que contrariem a saída de muitos médicos e a exclusão de atos e cuidados de saúde do regime convencionado”, que foi, durante a apresentação, identificado como um dos principais problemas atuais. O lançamento de “iniciativas inovadoras focadas não só no tratamento mas também na prevenção da doença” é outra proposta, que pode passar, por exemplo, pelo desenvolvimento de um projeto piloto de acompanhamento, pela ADSE, de todo o percurso de um doente crónico na rede de prestação de cuidados de saúde, acautelando-se que os melhores cuidados estão a ser prestados e que não existem redundâncias nos pedidos de exames, por exemplo.
A articulação da ADSE com o SNS também é sinalizado como um aspeto crítico, que está relacionado com o facto do subsistema “não ter a importância devida no sistema de saúde tendo em conta a sua dimensão”, sustenta Constantino Sekallarides, ex-diretor-geral de Saúde e um dos mandatário da lista C. “O principal desafio do sector da saúde é a morbilidade múltipla. São pessoas que acumulam várias patologias, sejam físicas e/ou mentais) e constituem o grosso da procura por cuidados de saúde”, faz notar o especialista em saúde pública, acrescentando que existem duas condições que devem estar asseguradas para que estes doentes seja tratados de forma adequada: “a continuação e integração”.
O professor jubilado quer com isto dizer que os sistemas de saúde “devem ser capazes de gerir o percurso das pessoas”, seja ele feito nos prestadores privados ou no serviço público. E a ADSE, indica Sekallarides, está numa posição privilegiada para assumir esse papel, zelando por uma melhor prestação de serviços de saúde e também contribuindo para uma maior eficiência, eliminando gastos supérfluos.
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