A decisão do Banco Central Europeu (BCE) de elevar a taxa de juro de referência para 2%, procedendo na quinta-feira a um segundo aumento histórico de 75 pontos-base, não provocou, na abertura dos mercados desta sexta-feira, um disparo nos juros da dívida pública na zona euro nem no prémio de risco exigido pelos investidores.
Para Portugal, significou a queda dos juros das obrigações a 10 anos abaixo de 3% e a descida do spread (do prémio de risco) para menos de 100 pontos-base (1 ponto percentual) em relação ao custo de financiamento da dívida alemã.
Isso coloca o risco português abaixo do da vizinha Espanha e de mais nove países periféricos do euro (incluindo já a Croácia, que entra em janeiro próximo e já participa como observador nas reuniões do BCE).
Apesar do prémio de risco da dívida italiana estar acima de 2 pontos percentuais, o Tesouro transalpino conseguiu pagar esta sexta-feira taxas de juro mais baixas nos leilões de obrigações a 5 e 10 anos do que nas emissões anteriores. No prazo mais curto, a taxa caiu de 4,12% para 3,48% e no prazo mais longo desceu de 4,7% para 4,24%.
Prémio de risco mais baixo no clube dos periféricos
Portugal tem-se afastado progressivamente do núcleo de economias do euro com prémios de risco mais elevados exigidos pelos investidores. Atualmente, num grupo de 11 países periféricos do euro (Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Eslovénia, Eslováquia, Croácia, Chipre, Malta, Letónia e Lituânia), a dívida portuguesa regista a taxa mais baixa a 10 anos (inferior a 3%) e o prémio de risco mais pequeno (99 pontos-base) exigido pelos investidores em relação aos títulos deste ‘clube’.
A estratégia orçamental do governo de António Costa - e dos três ministros das Finanças que com ele já trabalharam - de redução significativa do défice e da dívida em percentagem do PIB tem ‘desligado’ a economia portuguesa do grupo de risco nos periféricos (que entretanto se ampliou significativamente em relação à crise de dívidas de 2011-2013).
Este posicionamento não parece ser transitório. No grupo de periféricos, Portugal vai destacar-se, pela positiva, com o juro mais baixo em dezembro de 2023 (5,3%) e o spread mais curto em relação ao custo de financiamento alemão (99 pontos-base). Segundo as projeções do algoritmo do portal financeiro World Government Bonds (WGB), o spread da dívida portuguesa continuará abaixo da linha dos 100 pontos-base.
As situações mais graves em dezembro do próximo ano, segundo as projeções do WGB, incluirão Chipre, Malta, Letónia e Lituânia, com prémios de risco acima de 300 pontos-base (3 pontos percentuais). Os dois bálticos registarão níveis acima de 600 pontos-base, já em terreno de características de mercados emergentes com stresse de dívida. Croácia (que entra em janeiro para o euro), Eslováquia, Eslovénia, Grécia e Itália registarão prémios acima da linha vermelha de 200 pontos-base. Espanha registará um prémio ligeiramente acima de 100 pontos-base.
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