Economia

Transformação do comércio na Europa exigirá investimentos de 600 mil milhões de euros até 2030

Transformação do comércio na Europa exigirá investimentos de 600 mil milhões de euros até 2030
Horacio Villalobos / Getty Images

Relatório da consultora McKinsey e da associação Eurocommerce sobre o que retalho e grossistas têm de fazer para crescerem verdes e digitais aponta para a contratação de 1,5 milhões de pessoas por ano

600 mil milhões de euros. Este é o valor que o comércio a retalho e por grosso terá de investir na Europa até 2030 para responder de forma eficaz à transformação acelerada do negócio. A estimativa, avançada num relatório da McKinsey e da Eurocommerce, corresponde ao esforço de adaptação das empresas num “cenário ambicioso”.

Um quadro mais conservador aponta para um investimento 50% abaixo, na ordem dos 315 mil milhões de euros, mas que mantém as mesmas linhas de força: sustentabilidade, digitalização e competências.

A “tripla transformação” exige o reforço do investimento anual e, diz o estudo, equivale a um quarto da margem EBITDA [resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] de um sector que “trabalha com margens reduzidas”, na ordem dos 4% a 6% no retalho alimentar e dos 6% a 10% no não alimentar.

“Se atuarem de forma rápida e eficaz, os retalhistas e grossistas poderão conciliar o que é bom para o planeta e o que é bom para o seu negócio”

Em causa, estão as mudanças nos padrões de consumo e a resposta aos desafios impostos por megatendências como a sustentabilidade, a descarbonização ou o envelhecimento da população. Está, também, a certeza de que há aqui oportunidades a aproveitar e, no que respeita à sustentabilidade, por exemplo, “se atuarem de forma rápida e eficaz, os retalhistas e grossistas poderão conciliar o que é bom para o planeta e o que é bom para o seu negócio”, destaca este trabalho.

Certo é que o sector tem de cumprir o seu papel na descarbonização da economia tendo em vista as metas do acordo de Paris sobre as alterações climáticas e esse crescimento verde pode custar entre 335 mil milhões de euros (cenário mais ambicioso) e 135 mil milhões nos próximos 8 anos, focado nas operações mais amigas do ambiente, circularidade dos produtos, redução do desperdício, eficiência energética.

Considerando toda a cadeia de valor europeia, estão em causa cerca de 40% das emissões de gases com efeito de estufa, apesar de o retalho e comércio por grosso responderem diretamente por menos de 5% deste total, uma vez que a fatia principal vem de atividades a montante e a jusante, da agricultura à produção e transporte.

Nesta análise, fica claro que a alimentação é o segmento de negócio que mais contribui para as emissões de carbono na Europa, com uma percentagem de 20% do total, seguida da habitação, (5%) e moda (3%). Eletrónica de consumo e mobiliário ficam nos 2%, os cuidados pessoais têm uma fatia de 0,2% e os outros items representam 7%.

Vendas digitais geram mais um bilião

Já no que respeita à transformação digital, está identificado o potencial de as vendas online gerarem um valor adicional de um bilião de euros, mas isso passa por investimentos de 230 a 155 mil milhões de euros no horizonte de 2030 para desenvolver uma oferta omnicanal, disponibilizar experiências perfeitas aos clientes, automação em toda a cadeia de valor, desenvolvimento tecnológico e a aplicação de inteligência artificial para obter ganhos de eficiência e modernização da operação.

Nas estimativas avançadas, a quota do comércio eletrónico duplica de 15 para 30% até 2030 e isso poderá representar cerca de 90% do crescimento deste sector. Outro indicador do potencial deste pilar é o dos gigabytes de dados gerados em 2021 em todo o mundo: 800 mil milhões.

Entre os desafios que a digitalização levanta está a questão do espaço. A migração para os canais digitais de vendas vai exigir também reafectação de áreas de vendas e pode obrigar as empresas do sector a repensarem cerca de 10 milhões de metros quadrados de imobiliário até 2030, o que representa 2% do total e obriga as empresas a repensarem, desde já, o papel das lojas físicas.

Só o segmento da moda pode encolher 4 a 5 milhões de metros quadrados nos próximos oito anos (7% da área atual).

“O sector como um todo vai precisar de investir 25 milhões a 35 milhões de euros em ações de requalificação dos seus trabalhadores até 2030”

Para responder às transformações em curso, são precisas, também, novas competências e requalificação dos recursos humanos, desde logo porque o pagamento na caixa tende a ser automático, mas haverá novos serviços a prestar, por exemplo. Entre retalho e comércio por grosso, terão de ser formados 13 milhões de trabalhadores. As novas contratações até 2030 estão estimadas em 1,5 milhões de pessoas por ano.

Investimento em formação aumenta até 60%

“O sector como um todo vai precisar de investir 25 milhões a 35 milhões de euros em ações de requalificação dos seus trabalhadores até 2030, o que representa aumentos de 40% a 60% comparativamente ao que faz hoje”, conclui este relatório sobre o retalho e o comércio por grosso, uma fileira com 5 milhões de empresas e 26 milhões de postos de trabalho na União Europeia, onde gera receitas de 7 biliões de euros.

O relatório refere que outros desafios, desde a covid-19 à disrupção das cadeias logísticas, guerra na Ucrânia, inflação ou instabilidade dos preços da energia estão a condicionar os investimentos nesta fase."Retalhistas e grossistas têm, no entanto, de encontrar formas de transformar o sector equilibrando objetivos de curto e longo prazo”, sustenta o documento, sugerindo, por exemplo, que o investimento em eficiência energética pode reduzir as emissões de carbono e, simultaneamente, os custos de operação.

No retrato que faz do retalho na Europa, o relatório sublinha que apenas 1% das empresas do sector são grandes empresas, a maioria opera apenas num país e apenas 8% têm mais de 10 funcionários. Indica, ainda, que este é um segmento de atividade competitivo e de crescimento lento, em especial na Europa ocidental, onde os mercados são maduros e o crescimento da população estagnou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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