Economia

TAP: Neeleman diz que não foi ouvido na auditoria, salienta que foi escrutinado e sente-se instrumentalizado

David Neeleman
David Neeleman
Rui Duarte Silva

Surpreendido, David Neeleman, antigo acionista da TAP, pede numa carta de 24 pontos que o Governo deixe de o usar como "arma de arremesso político". Lamenta que depois de ter sido afastado da transportadora, sob ameaça de nacionalização, o Estado esteja a pensar voltar a privatizar a companhia

David Neeleman, ex-acionista da TAP, reagiu esta segunda-feira à auditoria feita pela companhia à compra de aviões à Airbus, sobre a qual existem suspeitas de a transportadora estar a pagar mais que a concorrência. O empresário que saiu da TAP em meados de 2020 mostra-se "surpreendido" com o anúncio da auditoria, que já seguiu para o Ministério Público e no âmbito da qual diz não ter sido ouvido.

"Tive muita pena que o atual Governo tivesse optado pela solução de "impor” a minha saída sob ameaça da nacionalização da TAP", diz numa carta, a que o Expresso teve acesso. E nega que, ao contrário do que diz o Governo, a única solução fosse a que o Governo português adotou. "Não é verdade que era a única solução e que cabia aos "privados" capitalizar a companhia, como facilmente se conclui olhando para as congéneres europeias da aviação. Na verdade, não foi assim em nenhuma companhia aérea no mundo", salienta numa carta assinada a partir de Massachussets, nos Estados Unidos.

Neeleman lembrou que nos sete anos durante os quais foi acionista privado da TAP o Estado nunca foi chamado a financiar a companhia. "É ainda importante recordar que, enquanto estivemos na TAP, desde o final de 2015, até à pandemia, nos inícios de 2020, em resultado do grande trabalho de uma equipa executiva e de uma direção de topo, com um trackrecord [registo] de gestão e experiência no setor irrepreensíveis, com provas dadas à escala internacional e que aceitou o desafio de vir gerir a TAP sob mandato de uma nova estrutura acionista privada, foi possível transformar uma empresa à beira da falência num grupo empresarial revigorado do ponto de vista financeiro e dos seus recursos humanos".

E afirma que antes da pandemia "a TAP apresentava uma liquidez sólida de cerca de 500 milhões de euros (muito acima dos níveis pré-privatização), aumentou em 18% o número de colaboradores, o número de passageiros cresceu 54% ao ano, o número de voos subiu 21%, somámos 13 destinos novos (6 deles no supercompetitivo mercado dos Estados Unidos), cresceu 39% o volume de negócios. E a frota foi inteiramente renovada".

Numa crítica dura ao Executivo sublinha: "Infelizmente, desde a saída do consórcio Gateway, verifico que muitos bons quadros abandonaram a companhia, o alinhamento com os trabalhadores desapareceu e, até ao final deste ano, o Estado português terá injetado quase 4 mil milhões de euros na empresa".

Neeleman sublinha que "todo o processo de privatização e a posterior reconfiguração acionista foram amplamente escrutinadas por dois governos de Portugal, Parpública, Tribunal de Contas, Autoridade da Concorrência, Autoridade Nacional de Aviação Civil, entre outras entidades".

E contesta as declarações de Pedro Nuno Santos: "Ao contrário do que o ministro refere, não é verdade que o Estado português não tivesse até então financiado a TAP, pois toda a dívida da empresa até à privatização era garantida a 100% pelo Estado e só dessa forma a TAP tinha capacidade de obter financiamento bancário".

Sobre o endividamento, explica que aquando da entrada do consórcio privado na TAP a dívida "ascendia a cerca de 11x EBITDAR [resultado antes de juros, impostos, depreciações, amortizações e custos com rendas]".

David Neeleman considera que "a TAP é uma grande empresa que deve ser privada como todas as companhias aéreas de bandeira europeias e mundiais", operação que "merecem os trabalhadores, merecem os seus clientes, merecem as comunidades portuguesas, merece Portugal".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt

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