A crise cambial no Japão agrava-se. O dólar já subiu esta sexta-feira para perto de 151 ienes, um novo máximo de 32 anos. É o segundo dia consecutivo com a divisa norte-americana a valer acima da linha vermelha dos 150 ienes. O ministro das Finanças, Suzuki Shunichi, reconheceu esta sexta-feira que o Japão está a sofrer um claro ataque especulativo.
Os analistas esperam que o governo volte a intervir no mercado cambial ainda esta sexta-feira, como o fez a 22 setembro, comprando, então, 3,6 biliões de ienes (equivalendo a 25 mil milhões de euros), segundo estimativas.
Em simultâneo, para controlar os juros da dívida, que atingiram máximos desde 2015 nos prazos mais longos, o Banco do Japão (BoJ) anunciou esta sexta-feira uma segunda operação de compra extraordinária de obrigações. Em dois dias seguidos, já injetou 225 mil milhões de ienes (1,5 mil milhões de euros).
O motor destas duas crises é o comportamento da inflação japonesa, que disparou desde maio sem que o BoJ dê sinais de abandonar os juros negativos (atualmente os únicos no mundo).
Na Bolsa de Tóquio, o índice de referência Nikkei 225 voltou a cair pelo segundo dia consecutivo. Nas duas últimas sessões da semana perdeu 1,4%.
Inflação em máximos…desde 1991
A inflação no Japão em setembro até se manteve em 3%, o mesmo ritmo do mês anterior, segundo a estimativa avançada esta sexta-feira pelo Gabinete de Estatísticas do Japão. Mas a inflação subjacente (não incluindo as componentes mais voláteis) subiu de 2,8% em agosto para 3% em setembro, avançou o organismo de estatísticas.
Excluindo o impacto pontual nos preços do agravamento do IVA em 2014, os níveis de inflação atuais são os mais elevados desde 1991.
Em ambos os casos são os níveis mais altos de subida de preços no consumidor desde 2014, quando se registou um agravamento do IVA. Excluindo o impacto pontual nos preços desse agravamento fiscal, os níveis de inflação atuais são os mais elevados desde 1991.
Recorde-se que a economia japonesa atravessou ainda recentemente um período de deflação (de quebra de preços), entre novembro de 2020 e setembro de 2021 e que o surto inflacionista se iniciou em maio de 2022, com um salto de 1,2% para 2,5%, ficando acima da meta de 2% para a estabilidade de preços no Japão seguida pelo banco central.
Banco do Japão volta ao mercado
Em paralelo com o ataque especulativo ao iene, o mercado da dívida japonesa está sob pressão. Os títulos a 20 e 30 anos registaram esta sexta-feira máximos desde 2015.
O Banco do Japão (BoJ) anunciou esta sexta-feira que voltou a realizar uma operação extraordinária de compra de obrigações, pelo segundo dia consecutivo. Estas operações somam-se ao plano normal de aquisição de títulos que o BoJ tem, no âmbito da sua estratégia de controlo da curva dos juros a 10 anos, que têm estado consecutivamente acima de 0,2% desde finais de agosto.
Esta sexta-feira o Banco do Japão comprou adicionalmente 100 mil milhões de ienes (680 milhões de euros) em obrigações com prazos de 10 a 25 anos.
Esta sexta-feira o banco comprou adicionalmente 100 mil milhões de ienes (680 milhões de euros) em obrigações com prazos de 10 a 25 anos. No dia anterior tinha injetado 125 mil milhões de ienes (850 milhões de euros) na compra de títulos com maturidades de 5 anos e acima.
O BoJ reúne-se a 28 de outubro para decidir sobre política monetária. O governador Haruiko Kuroda, cujo mandato termina em abril do próximo ano, não tem dado sinais de que, apesar da pressão inflacionista, o banco abandone a política de juros negativa que mantém desde 2016.
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