Economia

Moeda japonesa atinge mínimo de 32 anos e crise cambial agrava-se

Moeda japonesa atinge mínimo de 32 anos e crise cambial agrava-se
Timo Volz/Unsplash

O valor do iene face ao dólar caiu esta quinta-feira para mínimos desde agosto de 1990. O dólar galgou a linha vermelha de valer 150 ienes. Inflação subiu para 3% em agosto, mas Banco do Japão tem mantido juros negativos

O iene caiu esta quinta-feira para o valor mais baixo face ao dólar norte-americano desde o verão de 1990. O dólar galgou a linha vermelha dos 150 ienes já depois do fecho dos mercados esta quinta-feira em Tóquio. A crise cambial nipónica agrava-se. Depois de um ciclo muito longo, de quatro décadas, de apreciação face ao dólar, de 1971 até 2011, quando a moeda americana atingiu em outubro um mínimo de 75 ienes, a divisa nipónica regressou a uma trajetória de desvalorização.

O Ministério das Finanças em Tóquio já disse que está a monitorizar “meticulosamente” a crise cambial e Haruiko Kuroda, o governador do Banco do Japão (BoJ), reconheceu, esta semana, perante o Parlamento nipónico que há “um enfraquecimento unilateral repentino” da divisa que “enfraquecerá a economia”.

A inflação entrou em trajetória de subida acelerada a partir de fevereiro, quando ainda se situava abaixo de 1%, chegando a 3% em agosto.

A estimativa da inflação para setembro será publicada na sexta-feira. A expetativa entre os analistas asiáticos centra-se na pressão que o novo nível de inflação possa exercer sobre as decisões na reunião do BoJ a 28 de outubro (um dia depois da reunião do Banco Central Europeu).

Os últimos samurais a manterem juros negativos

A crise cambial ainda não está associada a uma crise económica ou a um disparo inflacionista similar ao que está em curso noutras economias desenvolvidas como na Europa ou nos Estados Unidos. O Japão mantém uma situação singular. A expetativa dos analistas foca-se, agora, em saber se a equipa de Kuroda se decide, finalmente, a mexer na política de juros.

As previsões do Fundo Monetário Internacional, publicadas na semana passada, apontam para um crescimento económico de 1,6% em 2023, superior à média das economias desenvolvidas (1,1%) e muito acima do dos EUA (1%), Zona Euro (0,5%) e Reino Unido (0,3%). Recorde-se que, na Europa, Alemanha e Itália deverão mergulhar em recessão.

Apesar da subida rápida da inflação para mais do triplo em sete meses e já claramente acima do objetivo de 2% de estabilidade de preços, o BoJ não tem mexido na taxa diretora, que se mantém em terreno negativo desde 2016.

A equipa de Kuroda está entre os “últimos samurais” a manterem juros negativos - o Banco Central Europeu abandonou em julho a taxa negativa de remuneração de depósitos (que mantinha desde 2014) e o Banco Nacional da Suíça passou a taxa diretora a terreno positivo em setembro.

Ed Harrison, da Bloomberg, adianta que o BoJ só se mexerá se a inflação no Japão subir para o patamar dos 4 a 5%.

O BoJ tem centrado a sua intervenção no mercado no controlo dos juros da dívida pública a 10 anos. Com as taxas no mercado secundário na linha vermelha de 0,25% há mais de dois meses, o banco central decidiu avançar esta quinta-feira com um plano de compras não programadas de obrigações com maturidades de 5 ou mais anos até um montante de 125 mil milhões de ienes (852 milhões de euros).

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