Economia

Preço grossista da eletricidade em Portugal atinge valor mais baixo em mais de um ano

Preço grossista da eletricidade em Portugal atinge valor mais baixo em mais de um ano
Justin Sullivan/Getty Images

Esta quarta-feira o mercado ibérico de eletricidade terá o preço diário mais baixo desde o início do ano, e no caso português será o valor mais baixo desde agosto de 2021. Alívio das cotações do gás está a ajudar

O preço grossista da eletricidade em Portugal na contratação fechada para esta quarta-feira, 19 de outubro, será não só o mais baixo desde o início do ano como também o mais baixo em mais de um ano.

Segundo os dados do Omie, o operador da contratação diária do mercado ibérico de eletricidade (Mibel), o preço médio para Portugal para esta quarta-feira será de 79,87 euros por megawatt hora (MWh), ligeiramente inferior aos 81,71 euros do lado espanhol.

E pela primeira vez desde que o mecanismo ibérico foi criado (em junho deste ano), a parcela de ajuste desse mecanismo (que é paga pelos consumidores para compensar as centrais a gás pela diferença entre o preço real do gás e o preço de referência artificial criado pelo mecanism) terá esta quarta-feira um valor negativo.

Isso significa que o preço final da eletricidade no mercado grossista do lado português esta quarta-feira será de 78,6 euros por MWh (menos do que os 116,49 euros por MWh desta terça-feira).

Ora, olhando para o passado, e considerando desde 15 de junho os preços finais, ou seja, o preço do mercado diário acrescido da parcela de ajuste do mecanismo ibérico, esta quarta-feira terá o custo grossista de eletricidade mais baixo desde a criação do mecanismo.

E no histórico de preços diários antes da entrada em vigor do mecanismo é preciso recuar a 31 de outubro de 2021 para encontrar um preço grossista para Portugal muito próximo do desta quarta-feira. Nesse último dia de outubro do ano passado o preço diário fixou-se em 79 euros por MWh.

Para encontrar um preço diário inferior aos 78,6 euros por MWh fixados para esta quarta-feira, 19 de outubro, é necessário recuar a 7 de agosto de 2021, quando o preço médio do lado português do Mibel se fixou em 65,64 euros por MWh.

O que explica este mínimo de mais de um ano?

Nos últimos dias a Península Ibérica tem produzido menos eletricidade nas centrais de ciclo combinado a gás natural, beneficiando de uma maior disponibilidade dos parques eólicos.

Uma maior produção eólica, que se acentuará esta quarta-feira, reduz a necessidade de recurso a produção tradicionalmente mais cara, como as centrais a gás e as hidroelétricas.

Mas além disso há que considerar, como contributo decisivo para a redução do custo diário da eletricidade no Mibel, o facto de a cotação do gás natural estar em queda.

Segundo os dados do mercado ibérico de gás (Mibgás) recolhidos pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o preço do gás para esta quarta-feira será de 41,49 euros por MWh, abaixo dos 51,6 euros de terça-feira, e distante do período em que chegou a custar mais de 100 euros por MWh (o que aconteceu durante grande parte do mês de setembro).

O preço ibérico do gás (que continua a ser inferior ao preço do gás nos contratos TTF, referência em grande parte da Europa) está agora quase em linha com o preço de referência criado pelo mecanismo ibérico, que é de 40 euros por MWh até 15 de dezembro, subindo gradualmente a partir daí e até maio de 2023.

Nas últimas semanas dezenas de navios de gás natural liquefeito (GNL) têm navegado nas proximidades da Península Ibérica, à espera de uma oportunidade para descarregar gás, mas os terminais espanhóis têm a sua capacidade de armazenagem quase no máximo, como contou a Reuters.

Esta disponibilidade de gás, e o facto de a Península Ibérica ter a sua capacidade de armazenagem em níveis muito elevados, estará a contribuir para baixar o preço do combustível, mas é incerto o que acontecerá se os navios de GNL que hoje estão perto da Península Ibérica decidirem deslocar-se para outros mercados que queiram e possam receber o gás liquefeito.

O anúncio feito na segunda-feira pela Nigeria LNG de que espera “reduções substanciais” na produção e fornecimento de gás aos seus clientes (incluindo a Galp) não teve esta terça-feira qualquer impacto nas cotações das principais referências gasistas, que até baixaram. Os contratos holandeses TTF, por exemplo, desvalorizaram na segunda-feira e a tendência de queda continuou esta terça-feira, estando esse produto a ser transacionado em torno dos 112 euros por MWh.

Há consequências para os consumidores?

Um preço diário de eletricidade mais baixo tem um impacto imperceptível no curto prazo para a maior parte dos consumidores, que têm os seus tarifários garantidos habitualmente por períodos de 12 meses.

No entanto, a generalidade da indústria e clientes empresariais têm as suas tarifas indexadas aos preços do Mibel, e podem observar variações relevantes nos preços que pagam se num dado mês houver oscilações nos preços grossistas.

Além disso, desde que o mecanismo ibérico foi criado, uma parte dos consumidores portugueses, não só empresariais mas também domésticos com contratos novos ou renovados após 26 de abril, são chamados a suportar nas suas faturas a parcela de ajuste do mecanismo que serve para compensar as centrais a gás por venderem a sua eletricidade a preços artificialmente mais baixos.

Ora, com o custo real do gás alinhado com a referência do mecanismo ibérico, ou até abaixo dessa referência, diminui o encargo a imputar aos consumidores com o mecanismo.

A título de exemplo, em setembro a Galp, um dos principais comercializadores de eletricidade no mercado liberalizado, imputou aos seus clientes elegíveis para suportar os custos do mecanismo um custo de ajuste de 19 cêntimos por kWh (o equivalente a 190 euros por MWh).

No corrente mês de outubro, o valor médio do ajuste a suportar pelos clientes elegíveis no mercado ibérico ronda os 67 euros por MWh, o equivalente a 6,7 cêntimos por kWh. Um valor mais baixo do que o dos meses anteriores.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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