O preço grossista da eletricidade em Portugal na contratação fechada para esta quarta-feira, 19 de outubro, será não só o mais baixo desde o início do ano como também o mais baixo em mais de um ano.
Segundo os dados do Omie, o operador da contratação diária do mercado ibérico de eletricidade (Mibel), o preço médio para Portugal para esta quarta-feira será de 79,87 euros por megawatt hora (MWh), ligeiramente inferior aos 81,71 euros do lado espanhol.
E pela primeira vez desde que o mecanismo ibérico foi criado (em junho deste ano), a parcela de ajuste desse mecanismo (que é paga pelos consumidores para compensar as centrais a gás pela diferença entre o preço real do gás e o preço de referência artificial criado pelo mecanism) terá esta quarta-feira um valor negativo.
Isso significa que o preço final da eletricidade no mercado grossista do lado português esta quarta-feira será de 78,6 euros por MWh (menos do que os 116,49 euros por MWh desta terça-feira).
Ora, olhando para o passado, e considerando desde 15 de junho os preços finais, ou seja, o preço do mercado diário acrescido da parcela de ajuste do mecanismo ibérico, esta quarta-feira terá o custo grossista de eletricidade mais baixo desde a criação do mecanismo.
E no histórico de preços diários antes da entrada em vigor do mecanismo é preciso recuar a 31 de outubro de 2021 para encontrar um preço grossista para Portugal muito próximo do desta quarta-feira. Nesse último dia de outubro do ano passado o preço diário fixou-se em 79 euros por MWh.
Para encontrar um preço diário inferior aos 78,6 euros por MWh fixados para esta quarta-feira, 19 de outubro, é necessário recuar a 7 de agosto de 2021, quando o preço médio do lado português do Mibel se fixou em 65,64 euros por MWh.
O que explica este mínimo de mais de um ano?
Nos últimos dias a Península Ibérica tem produzido menos eletricidade nas centrais de ciclo combinado a gás natural, beneficiando de uma maior disponibilidade dos parques eólicos.
Uma maior produção eólica, que se acentuará esta quarta-feira, reduz a necessidade de recurso a produção tradicionalmente mais cara, como as centrais a gás e as hidroelétricas.
Mas além disso há que considerar, como contributo decisivo para a redução do custo diário da eletricidade no Mibel, o facto de a cotação do gás natural estar em queda.
Segundo os dados do mercado ibérico de gás (Mibgás) recolhidos pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o preço do gás para esta quarta-feira será de 41,49 euros por MWh, abaixo dos 51,6 euros de terça-feira, e distante do período em que chegou a custar mais de 100 euros por MWh (o que aconteceu durante grande parte do mês de setembro).
O preço ibérico do gás (que continua a ser inferior ao preço do gás nos contratos TTF, referência em grande parte da Europa) está agora quase em linha com o preço de referência criado pelo mecanismo ibérico, que é de 40 euros por MWh até 15 de dezembro, subindo gradualmente a partir daí e até maio de 2023.
Nas últimas semanas dezenas de navios de gás natural liquefeito (GNL) têm navegado nas proximidades da Península Ibérica, à espera de uma oportunidade para descarregar gás, mas os terminais espanhóis têm a sua capacidade de armazenagem quase no máximo, como contou a Reuters.
Esta disponibilidade de gás, e o facto de a Península Ibérica ter a sua capacidade de armazenagem em níveis muito elevados, estará a contribuir para baixar o preço do combustível, mas é incerto o que acontecerá se os navios de GNL que hoje estão perto da Península Ibérica decidirem deslocar-se para outros mercados que queiram e possam receber o gás liquefeito.
O anúncio feito na segunda-feira pela Nigeria LNG de que espera “reduções substanciais” na produção e fornecimento de gás aos seus clientes (incluindo a Galp) não teve esta terça-feira qualquer impacto nas cotações das principais referências gasistas, que até baixaram. Os contratos holandeses TTF, por exemplo, desvalorizaram na segunda-feira e a tendência de queda continuou esta terça-feira, estando esse produto a ser transacionado em torno dos 112 euros por MWh.
Há consequências para os consumidores?
Um preço diário de eletricidade mais baixo tem um impacto imperceptível no curto prazo para a maior parte dos consumidores, que têm os seus tarifários garantidos habitualmente por períodos de 12 meses.
No entanto, a generalidade da indústria e clientes empresariais têm as suas tarifas indexadas aos preços do Mibel, e podem observar variações relevantes nos preços que pagam se num dado mês houver oscilações nos preços grossistas.
Além disso, desde que o mecanismo ibérico foi criado, uma parte dos consumidores portugueses, não só empresariais mas também domésticos com contratos novos ou renovados após 26 de abril, são chamados a suportar nas suas faturas a parcela de ajuste do mecanismo que serve para compensar as centrais a gás por venderem a sua eletricidade a preços artificialmente mais baixos.
Ora, com o custo real do gás alinhado com a referência do mecanismo ibérico, ou até abaixo dessa referência, diminui o encargo a imputar aos consumidores com o mecanismo.
A título de exemplo, em setembro a Galp, um dos principais comercializadores de eletricidade no mercado liberalizado, imputou aos seus clientes elegíveis para suportar os custos do mecanismo um custo de ajuste de 19 cêntimos por kWh (o equivalente a 190 euros por MWh).
No corrente mês de outubro, o valor médio do ajuste a suportar pelos clientes elegíveis no mercado ibérico ronda os 67 euros por MWh, o equivalente a 6,7 cêntimos por kWh. Um valor mais baixo do que o dos meses anteriores.
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