A estimativa para o crescimento económico da China entre julho e setembro ficou esta terça-feira por publicar com o 20º Congresso do Partido Comunista da China a decorrer desde domingo.
O Gabinete Nacional de Estatísticas da China anunciou que aquela estimativa, prevista para esta terça-feira, foi adiada, tendo publicado apenas os números de setembro para a inflação no consumidor (que subiu ligeiramente para 2,8%), para os preços na produção industrial (que aumentaram 0,9%) e para os preços dos fornecimentos para a indústria (uma espécie de inflação para as empresas, que subiu 2,6%).
O organismo de estatísticas deixou o número “politicamente mais sensível” do crescimento económico para data oportuna.
Apesar de estar a subir, a inflação está longe dos dois dígitos em grande parte das grandes economias, e é, por isso, politicamente menos relevante para o objetivo macro por excelência na China - a taxa de crescimento económico anual. Mas não o é para as famílias: ainda que, globalmente baixa, é muito sensível para os gastos mensais: em setembro, o preço da carne de porco disparou 36%, o dos combustíveis 19% e o dos frutos frescos 18%, três componentes essenciais do índice de preços do dia a dia.
O organismo de estatísticas deixou o número “politicamente mais sensível” do crescimento económico para data oportuna. Na abertura do Congresso, para injetar otimismo, o diretor da Comissão da Reforma e Desenvolvimento Nacional afirmou que a economia “recuperou” significativamente do baque do segundo trimestre. Ficou-se sem se saber qual a dimensão dessa “recuperação”.
Foco na segurança em vez da economia
A economia, apesar de continuar a ser um ponto de honra da liderança chinesa, parece ter passado para segundo plano no discurso político de Pequim. O foco passou agora para a “segurança”, a palavra que já excedeu em referências a “economia”, segundo a contagem feita pela Bloomberg na retórica do Congresso.
Alguns analistas asiáticos interpretam essa viragem no discurso como alinhando com o endurecimento em relação à anexação de Taiwan e à projeção nos mares limítrofes. Do crescimento económico como chave do poder global da China, que a levou a segunda maior economia do mundo (primeira, já, se o PIB for medido em paridade de poder de compra), alguns analistas preveem que Pequim avance, agora, para a prioridade à hegemonia política. Tanto mais que o ‘motor’ económico perdeu o brilho.
A dinâmica económica (quase 7% ao ano entre 2013 e 2019) esfumou-se. A China escapou à recessão em 2020, com a pandemia, com um crescimento historicamente muito baixo (2,4%), mas mesmo assim positivo, registou uma forte recuperação no ano seguinte (8,1%), mas abrandou brutalmente este ano, sobretudo por causa da manutenção da política de Covid Zero (que provoca ruturas nas cadeias de produção e de abastecimento regulares), da crise do sector imobiliário e da grande incerteza na economia privada (que representa 60% do PIB e 80% do emprego) sobre as regras políticas futuras. O final do segundo mandato de Xi não tem grandes números económicos para mostrar.
A questão política relevante é saber se, em cadeia, a China escapou a uma ‘recessão técnica’, a uma queda durante dois meses consecutivos.
O número mais esperado era, esta terça-feira, a estimativa de crescimento chinês depois de a economia ter quase estagnado entre maio e junho em comparação com o ano anterior, com o PIB a abrandar brutalmente de 4,8% nos primeiros três meses do ano para 0,4% no trimestre seguinte. Se avaliado em termos de evolução de trimestre para trimestre - o que os economistas designam por variação em cadeia -, o PIB chinês contraiu-se 2,6% no segundo trimestre. A questão política relevante é saber se, em cadeia, a China escapou a uma ‘recessão técnica’, a uma queda durante dois meses consecutivos.
As previsões dos analistas chinesas eram otimistas, apontando para um crescimento de 3,5% no terceiro trimestre e 3,8% nos últimos três meses do ano, o que aproximaria a média anual de crescimento de 3,2%, a previsão publicada pelo Fundo Monetário Internacional na semana passada no World Economic Outlook. Note-se, no entanto, que um crescimento pouco acima de 3% fica bem distante do objetivo político de 5,5% fixado pelas autoridades de Pequim para 2022. No caso de a estagnação se confirmar, o fracasso político será ainda maior.
De ‘motor’ asiático, segundo as previsões do FMI, a China vai crescer menos nos próximos cinco anos, durante o novo mandato de Xi, do que a Índia (média anual de 6,5%) e do que os novos cinco “tigres asiáticos” (média anual de 5,1%) que integram o grupo dos dez países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático). Os cinco novos tigres são as Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietname.
A materializarem-se as previsões do FMI, o terceiro mandato de Xi vai registar a subida em mais de 25 pontos percentuais do nível de endividamento pública da China - de menos de 77% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 para 102,8% em 2027. Um rácio de endividamento elevado para o caso das economias emergentes. Recorde-se que, por essa altura, a dívida portuguesa terá caído para menos de 100% do PIB.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes