A Alemanha é dos países mais afetados pela crise energética na Europa, devido à sua dependência da energia russa, mas o problema é agravado pela falta de mão de obra. Várias empresas já cortaram a sua produção, o que pode custar à maior economia europeia até 85 mil milhões de dólares (cerca de 87 mil milhões de euros ao câmbio atual) por ano, escreve a "Bloomberg".
A falta de mão de obra qualificada – provocada pelo envelhecimento da população e exacerbada pela pandemia de covid-19 – está a deixar algumas empresas chave alemãs, a Airbus, a BMW e a BASF, à procura por pessoal para conseguirem acompanhar a procura. Um estudo recente, citado pela agência, nota que 50% das empresas estão a cortar na produção devido a problemas de pessoal, o que custa à economia alemã até 85 mil milhões de dólares por ano.
“Cada vez mais empresas estão a reduzir os seus negócios porque simplesmente não há trabalhadores suficientes”, disse Stefan Sauer, especialista em mercado de trabalho do Instituto Ifo em Munique.
Um aumento acentuado no custo do trabalho pode ser um benefício para os trabalhadores mas, para a maior economia da Europa, é um golpe na competitividade que dificilmente poderia vir em pior hora.
Os fabricantes alemães - especialmente os que consomem mais energia, como fabricantes de produtos químicos, vidro e cerâmica - já viram as margens de lucro desaparecerem devido aos custos crescentes. Alguns tiveram inclusive que fechar fábricas ou transferir a produção para o estrangeiro.
Semana de 4 dias, excursões de paraquedismo… empresas seduzem trabalhadores
Por este motivo, as empresas têm de ficar mais criativas na atração e retenção de recursos humanos. De acordo com a “Bloomberg", algumas empresas instalaram equipamentos ergonómicos para manter os trabalhadores em linhas de montagem fisicamente exigentes até aos 60 anos. Outras oferecem semanas de trabalho de quatro dias e dão vantagens como excursões de paraquedismo.
“Já passámos pelo coronavírus, agora pela guerra e depois pela crise de energia”, disse à agência Andreas Rade, diretor administrativo da VDA, a maior associação alemã de montadoras e fornecedores de autopeças. “Mas a escassez de trabalhadores é continuamente um dos problemas mais importantes.”
Das quatro maiores economias europeias, a Alemanha enfrenta a maior escassez, de acordo com pesquisas da Comissão Europeia. As razões para a crise são variadas, mas o fator mais significativo é a demografia.
Além do mais, a imigração teve uma quebra em 2020 e houve um problema que nunca foi reconhecido: o reconhecimento das suas qualificações. Isto é, muitos imigrantes têm profissões altamente qualificadas nos seus países de origem e chegam à Europa e só conseguem arranjar trabalhos não qualificados. Adicionalmente, a Alemanha está em desvantagem em relação aos países de língua inglesa, por causa do idioma.
O governo de Scholz lançou recentemente uma nova estratégia para o desenvolvimento de mão de obra qualificada. Uma das mudanças está na lei de imigração, pois o chanceler quer atrair mais trabalhadores de fora da Europa.
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