Esta quinta-feira há um novo toque do sino na Euronext Lisboa. É o pontapé de partida do novo desafio da Samba Digital, uma empresa de marketing digital desportivo que escolheu Portugal para entrar em bolsa, atraindo novos investidores e ganhando visibilidade para tentar marcar golos no promissor mercado da digitalização do futebol e outras modalidades desportivas.
A Samba Digital SGPS assinala esta quinta-feira a sua entrada na Euronext Lisboa, com a intenção de vir a vender 10% do seu capital (que ascende no total a 23 milhões de euros). A entrada em bolsa é efetuada através de admissão direta no mercado Euronext Access de 10 milhões de ações (ao valor unitário de 2,33 euros). A confirmar-se a futura venda dos referidos 10%, a operação irá diluir as participações dos três sócios da empresa, Frédéric Fausser (fundador), Sylvie Pages e Jerzy Cremades Saby.
A empresa, que arrancou em 2018, é uma agência de marketing digital desportivo que tem entre os seus cerca de 70 clientes clubes como o Paris Saint-Germain, Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool, Mónaco, Juventus e Bayern de Munique, entre outros.
A Samba Digital presta serviços nas áreas de gestão de redes sociais, campanhas e ações de monetização, procurando levar os clubes (e outros clientes) a alargar os seus públicos e potenciais clientes nos meios digitais.
A empresa que agora entra na bolsa portuguesa faturou 3 milhões de euros em 2021, mais do dobro dos 1,44 milhões de euros de receitas de 2020, depois de em 2019 (primeiro ano completo de atividade) ter faturado 1,06 milhões de euros. Nestes três anos deu sempre lucro. No ano passado obteve um resultado líquido de quase 480 mil euros, de acordo com o documento publicado pela Samba Digital no seu site no âmbito da entrada em bolsa.
Esse mesmo relatório já aponta as perspetivas de crescimento para os próximos anos. Este ano a Samba Digital conta faturar 4,23 milhões de euros. Em 2023 as vendas devem chegar a 5,9 milhões de euros, em 2024 devem ultrapassar os 8,6 milhões e em 2025 a empresa deve ter um volume de negócios de 12,1 milhões.
A empresa conta alcançar o seu primeiro milhão de euros de lucro anual já em 2023. E em 2025 deve ter um resultado líquido próximo de 2,5 milhões de euros, indica a agência liderada por Frédéric Fausser.
Samba no pé
E quem é Frédéric Fausser? Trabalhou entre 2000 e 2011 no Hager Group, na área de gestão das relações com clientes. Em 2011 decidiu lançar, a partir de Paris, o site Sambafoot.com, sobre futebol brasileiro.
Com samba, no pé e na Internet, o francês, radicado no Brasil, viu abrir-se uma nova porta: trabalhar o marketing digital de clubes de futebol interessados em agitar as redes.
No final de 2018 criou em Miami a Samba Digital, como agência de marketing digital na área do desporto. A empresa norte-americana Samba Digital Inc é integralmente detida pela Samba Digital SGPS, sociedade que apenas foi criada em julho deste ano e que é agora admitida à negociação na Euronext Lisboa.
Antes de avançar para a bolsa portuguesa Frédéric Fausser vendeu em 2021 o site Sambafoot a uma empresa de Malta, a CX Media, administrada por dois portugueses, Gonçalo Costa e Bernardo Moreira.
A Samba Digital será assim o mais recente elemento em cerca de meia centena de empresas cujas ações estão admitidas à negociação na Euronext Lisboa, praça cujo índice de referência tem perdido força nos últimos anos. O antigo PSI-20, que juntava as 20 principais empresas cotadas em Portugal, é hoje apenas PSI, agregando atualmente 15 empresas.
Apesar disso, a Euronext tem procurado promover-se enquanto plataforma para a capitalização de novas empresas portuguesas de pequena e média dimensão. E tem tido algumas adesões, ainda que parte das novas cotadas tenham volumes de negociação residuais.
Em dezembro de 2018 a bolsa portuguesa acolheu a empresa Flexdeal, depois de em julho desse ano ter recebido a Raize. Em janeiro de 2020 entrou a Merlin Properties, em maio de 2020 a Olimpo Real Estate Portugal e em junho de 2021 foi a vez de outra imobiliária, a Ktesios Real Estate.
Uma das mais destacadas entradas em bolsa da Euronext dos últimos anos foi a Greenvolt. A empresa de energias renováveis nascida no grupo Altri entrou em bolsa em julho de 2021 a 4,25 euros por ação e vale hoje quase o dobro, 8,32 euros por ação, com uma capitalização bolsista superior a 1,1 mil milhões de euros. Poucos meses depois da dispersão de capital a Greenvolt entrou para a primeira liga da Euronext Lisboa, o índice PSI.
Ainda é cedo para dizer se a Samba Digital algum dia terá condições de ascender à primeira divisão da bolsa portuguesa. Será uma missão difícil, já que nem as sociedades anónimas desportivas dos três maiores clubes de futebol do país, Benfica, FC Porto e Sporting, estão no índice. Mas para Frédéric Fausser este será um primeiro passo para ganhar visibilidade no mercado de capitais.
Nota: notícia corrigida às 18h40 de 06/10/2022, esclarecendo que foram admitidos 10 milhões de ações, por admissão direta no mercado Euronext Access, e que não houve uma dispersão de capital, mas sim a intenção de venda de 10% (1 milhão de ações) por parte dos acionistas da empresa.
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