Economia

TAP renova frota automóvel com BMW: o que está em causa, as críticas e as reações políticas

TAP renova frota automóvel com BMW: o que está em causa, as críticas e as reações políticas
josé carlos carvalho

A TAP vai renovar a sua frota automóvel o que gerou muita polémica ao longo do dia, com o Presidente da República a dizer que “há um problema de bom senso”. O Expresso explica o que está em causa e quais as reações políticas

A TAP vai renovar a sua frota automóvel e assim que se soube a polémica instalou-se. A empresa diz que gastou dinheiro para poupar dinheiro no futuro, mas os trabalhadores e sindicatos sentem-se “traídos”, uma vez que continuam a lutar por melhores condições laborais.

O que está em causa?

Em causa está a notícia avançada pela TVI/CNN Portugal e pelo portal Away de que a TAP encomendou uma nova frota de automóveis BMW corporativa, substituindo os da Peugeot.

Qual a razão da polémica?

A polémica rebentou com a notícia pois as contas da TAP não têm sido as mais fáceis e a empresa ainda está sob um plano de reestruturação que levou à injeção de 3,2 mil milhões de euros na companhia aérea - que o Estado quer voltar a privatizar.

Os novos carros terão um valor de mercado a partir dos 52 e dos 65 mil euros.

Como é que a TAP justifica a compra destes carros?

Num comunicado interno divulgado pela Lusa, a TAP explica que a atual frota é maioritariamente de 2017 e atinge o máximo de prorrogações possíveis em contrato no próximo ano. “A TAP dispõe de uma frota automóvel corporativa para a administração e diretores, em regime de renting operacional. Com a opção que fizemos, estamos a poupar anualmente até 630 mil euros, se tivéssemos mantido os carros que temos hoje”, refere a TAP nesse comunicado em que justifica a opção feita.

Mas porquê os carros da BMW?

“Não havendo outra opção senão celebrar novos contratos, optou-se por viaturas híbridas plug-in, em vez do atual diesel, por motivos ambientais, mas, também pelos benefícios fiscais associados a estas viaturas, menos poluentes”, diz a nota da empresa.

Segundo a empresa, “esta opção representa uma poupança superior a 20% do valor mensal da renda e tributação, relativamente a novos contratos de renting para viaturas com características semelhantes às atuais (gasóleo), estando em linha com o plano de reestruturação uma vez que representa o menor custo possível em sede de concurso no mercado”, apresentando “também melhores prazos previstos para entrega das viaturas”.

A TAP justifica que estão em causa 50 viaturas, para o qual foi feito um concurso ao mercado, tendo sido convidadas a participar seis entidades no mercado português.

A proposta escolhida foi a que apresentou o preço mais baixo, com uma renda mensal de 500 euros. Como referência, as outras propostas apresentadas à TAP com valor mais competitivo contemplavam rendas mensais de 750 euros”, diz a TAP.

O que dizem os trabalhadores?

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil sugeriu à TAP a mesma lógica de "gastar-mais, para poupar", com que a companhia se defendeu sobre a renovação da frota automóvel corporativa, para a reposição das condições laborais dos trabalhadores.

"Seguindo o racional da justificação por parte de quem optou por adquirir viaturas nesta altura tão sensível, que tem como fundamento uma miraculosa poupança, sugerimos a mesma lógica de "gastar mais, para poupar" para a reposição de dignidade aos trabalhadores", lê-se na mensagem do sindicato.

Já o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, considera que a prática é “moralmente condenável”. Para o sindicato, é "inaceitável" que, "além da administração da TAP, a tutela esteja também constantemente a apelar ao esforço dos seus colaboradores para a sobrevivência da companhia e venham a público notícias de 'pequenos luxos', de forma cíclica".

"Queremos assim acreditar que esta decisão, que envolve milhões, de renovação da frota automóvel por parte da administração, só pode trazer boas notícias", refere o comunicado, sublinhando que tal "pressupõe a disponibilidade para aumentar os ordenados dos tripulantes, acompanhando a subida da inflação".

Já houve reações políticas? Quais?

Uma das primeiras reações veio logo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente apontou à TAP “um problema de bom-senso”. "Já falei em relação a várias entidades públicas no passado e em relação à distribuição de dividendos e em relação aos salários e entendo que quando se está num período de dificuldade deve fazer-se um esforço para dar o exemplo de contenção", disse.

Também já alguns partidos reagiram à notícia, nomeadamente o Chega. O líder do partido, André Ventura, anunciou que o Chega vai questionar o Ministério das Infraestruturas sobre esta compra de carros de luxo.

"Num momento de crise como o que estamos a viver vamos questionar qual é a justificação para haver despesas deste tipo numa companhia aérea que os portugueses tem vindo a salvar com os seus impostos", afirmou.

E o Bloco de Esquerda considerou “um insulto” ao país a TAP ter encomendado estes carros. “É um insulto o que a administração da TAP fez ao país e creio que da parte do Governo, que é quem representa o Estado junto da TAP, porque é o representante do acionista deveria merecer um enorme reparo”, defendeu Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: rrrosa@expresso.impresa.pt

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