Economia

Juros: Centeno discorda de subida de 75 pontos-base em outubro e prefere "passos o mais pequenos possíveis"

Juros: Centeno discorda de subida de 75 pontos-base em outubro e prefere "passos o mais pequenos possíveis"
tiago miranda

É consensual que é necessário subir as taxas de juro, e subir bem, na zona euro para conter a inflação. Mas em relação ao ritmo e horizonte de subidas, não há consenso entre banqueiros centrais

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse esta quinta-feira, 29 de setembro, que o Banco Central Europeu deverá ser cauteloso nas suas decisões de política monetária e não aumentar demasiado as taxas de juro, para não correr o risco de andar “para trás e para a frente” e de “dar sinais contraditórios aos mercados, aos agentes, aos nossos cidadãos, o que é mau”, disse à Bloomberg à margem de uma conferência do banco de Frankfurt em Vilnius, capital da Lituânia.

Estes comentários sugerem que o governador do banco central português, que não estará na próxima reunião de política monetária, tal como não esteve na anterior, não está alinhado com os que defendem uma nova subida em 75 pontos-base da taxa diretora para conter a inflação na região, em máximos de sempre, como é o caso dos congéneres eslovaco, austríaco ou finlandês.

É preciso, disse, ser “equilibrado e ponderado” nas decisões de política monetária, de forma a “não andar para trás e para a frente, o que transmite sinais contraditórios aos mercados, aos agentes, e aos nossos cidadãos o que é mau”.

“Se há coisa que temo sempre como decisor é de ter de voltar atrás num caminho que somos forçados a seguir”, defendeu, sublinhando que o BCE deve ser “fonte de estabilidade” e, por isso, deverá tomar “os passos mais pequenos possíveis” tanto na subida dos juros como na redução do balanço do banco.

Falcões contra pombas na gaiola de Frankfurt

Segundo uma ronda feita pela Reuters, parece ser consensual entre os governadores dos bancos centrais da zona euro que é necessário aumentar a taxa diretora na próxima reunião de política monetária do dia 27 de outubro do Banco Central Europeu (BCE).

Porém, há desde logo discórdia na magnitude do aumento, que poderá, de acordo com os vaticínios de alguns governadores da zona euro, rondar a do aumento de setembro, de 75 pontos-base, alçando a taxa para os 1,25%. Há alguns decisores de política monetária a defenderem subidas até aos 2,5% quando o mercado já prevê uma taxa de 3% na primavera de 2023. E isto quando a Reserva Federal dos Estados Unidos da América, muito mais agressiva na contração da política monetária do que a sua contraparte do outro lado do Atlântico, deverá fechar este ano com uma taxa perto dos 4%.

De acordo com a Reuters, o governador do banco central da Lituânia, Gediminas Simkus, disse à Bloomberg TV que um aumento de 50 pontos-base em outubro é “o mínimo” e que a “minha escolha seriam 75”. O seu homólogo da Estónia, Madis Müller, presente num evento em Vilnius, capital lituana, com Simkus, disse que era necessário um aumento na mesmalinha.

A defender publicamente os 75 pontos-base estão também os governadores dos bancos centrais da Eslováquia, Peter Kažimír, e da Áustria, Robert Holzmann, e Olli Rehn, governador do banco central finlandês.

Haverá também diferendos entre governadores sobre a altura ideal para o início do programa de redução do balanço do BCE de 5 biliões de euros em obrigações de países da zona euro acumuladas durante a última década em estímulos à economia.

Simkus e Müller defenderam o início rápido da redução do balanço do BCE, que poderá ser feito simplesmente, segundo eles, deixando as obrigações atingirem a maturidade e não as substituindo por outras.

Na Península Ibérica, porém, teme-se que começar a reduzir o balanço nesta altura seria uma perturbação desnecessária nos mercados obrigacionistas, de acordo com a opinião dos governadores português, Mário Centeno, e espanhol, Pablo Hernández de Cós, que discordam dos homólogos lituano e estónio.

E, quando a presidente do BCE, Christine Lagarde, já disse várias vezes desconhecer qual a taxa neutra de juro, mas tendo reforçado o seu compromisso de lá chegar através das subidas que forem necessárias, de Cós afirmou que os modelos do Banco de Espanha apontam, de acordo com a informação disponível, para uma taxa terminal mediana entre 2,25% e 2,5%, quando os mercados antecipam uma taxa diretora de 3% na primavera, segundo a agência.

Em Portugal, há outro tipo de decisores, os políticos, a apelar à prudência de Frankfurt - como Marcelo Rebelo de Sousa, com o presidente da República a apelar a que haja “equilíbrio” nas decisões de política monetária.

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